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Opinião Os 5 em Angola

Expectativas frustradas

Filipa Moita

Autora da página de Facebook Os 5 em Angola, que relata as experiências de uma família portuguesa de cinco elementos que imigrou para Angola.

As nossas férias passaram e confesso que souberam a pouco. E não foram as nossas melhores férias. Foi a primeira viagem a Portugal como expatriados e revelou situações inesperadas que sinceramente, não tínhamos previsto acontecer. Vale a lição nas nossas próximas idas. Pois é, estamos sempre a aprender.

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As férias foram planeadas ao detalhe. Fiz listas de sítios a visitar, pessoas a ver, restaurantes a experimentar e compras necessárias para os 5! Muitas coisas consegui realizar, outras nem por isso e o que mais custa, é o de saber que a culpa não foi minha (nossa).

Para quem está “fora”, os dias de férias tomam uma importância enorme, pois temos apenas alguns dias para fazermos o que planeamos durante meses. Delineamos a lista de acordo com as saudades dos nossos sítios preferidos, das nossas pessoas e a juntar a isto, a necessidade que temos de nos prover de bens, que só existirão à venda no próximo ano, na Primavera.

Percebem o stress que isto causa?

Em Luanda, o tempo é sempre quente e por isso, a roupa fresca é sempre necessária. Além disso, a água estraga bastante a roupa por isso, era imprescindível, comprar roupa fresca e sapatos para os próximos 9 meses e para 5 pessoas! Porque feitas as contas, já não comprava roupa de verão há 1 ano.

Por isso, estão a ver a aventura? Ir a vários Centros Comerciais, com três miúdos atrás, entrar em lojas e mais lojas, vestir e despir roupa, calçar sapatos, material escolar, procurar números e peças que os saldos já condicionam, entre muito entusiamo, birras, corridas atrás do Vi e no fim do dia, cansaço e mais cansaço…..!

E digo com sinceridade, comprar roupa por obrigação, tira qualquer gozo ao acto. Deixa de ser giro pois temos de comprar mesmo, sair da loja com algo, porque em Luanda, além de não haver as nossas lojas, as que têm roupa à venda praticam preços apenas para milionários. Assim, fazemos como os angolanos quando vão de férias a Portugal, vão comprar roupa e bens para muitos meses, e a comprar, é sempre em quantidade. E foi o que fizemos.

Depois destas compras tão necessárias, tínhamos de ter férias! Férias das férias, estão a ver?

E foi aqui que a coisa se complicou. Não conseguimos ter as férias que desejávamos e que tanto planeei, pois no meio das compras e dos compromissos com amigos e familiares, não conseguimos ter as nossas férias a dois, por cansaço, esgotamento e falta de vontade. Ainda fugimos para um sítio especial durante 3 dias mas não foi o suficiente para descansar a 100%.

E fiquei triste por não ter conseguido encher o meu balão de oxigénio e voltar a Angola de coração mais cheio.

Regressámos cansados, esgotados e tristes, a pensar no que correu mal.

E sobre isto poderia dizer tanta coisa. Deve haver mais histórias como a minha, acredito.

Será que é tão difícil assim de perceber que são as nossas férias, os nossos momentos e a nossa única oportunidade de criar lembranças boas que nos vão permitir aguentar mais uns meses de trabalho em condições que não são as ideais?

Será que da próxima vez teremos que ser mais egoístas e pensar mais em nós e no que nós queremos?

Sinceramente eu percebo esta ânsia de nos verem, afinal estamos longe demasiados meses e as nossas pessoas sentem a nossa falta, mas depois de “picarmos o ponto” têm de nos deixar fazer as nossas coisas, deixar-nos cumprir a nossa lista, pois a mesma foi criada ao longo de meses e a qual esperamos num curto espaço de tempo chamado de férias, vê-la realizada, ponto a ponto! Afinal de contas, são as nossas férias! É o nosso tempo de liberdade que depois de passado, não volta atrás.

Perdemos demasiado durante o ano e este tempo vale ouro, é demasiado precioso para ser desperdiçado. Quase que pagamos por termos uns dias a mais de férias.

Quem como eu é expatriado, sabe do que falo. Se não cumprirmos os nossos desejos mais simples, como regressamos de novo?

Sem um sentimento de dever cumprido, de descanso efectivo, a viagem de regresso toma um sabor ácido, quase amargo.

Mas passado isto, e com tudo o que se passou, sinto que crescemos um pouco mais e aprendemos com esta experiência. Para o ano fazemos de outra forma e tentamos fazer melhor. No meio desta desilusão, tenho o consolo de ver os meus filhos a descansar e a divertirem-se com quem mais gostam. Isto conforta-me a alma e o coração.

E as memórias mais negativas das “férias” já se começaram a dissipar, ajudadas pelo regresso à rotina e ao nosso ambiente. Guardo comigo as imagens do céu azul, os momentos bem passados com os meus filhos, a alegria no coração ao rever grandes amigos, e as experiências que tivemos a dois, que apesar de poucas, foram super boas! E inesquecíveis!

Escolhi guardar apenas o mais importante e tirar do negativo, os pontos fortes a reter, passando à frente e olhando o futuro com mais optimismo. Tenho de ser assim. E há coisas piores. Entretanto, e já em Luanda, aproveito estes dias sem os miúdos para trabalhar e desfrutar da cidade a dois! Tem valido a pena!

Fiquem bem, Ya?

Opinião de
Filipa Moita

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