Ver Angola

Economia

Vice-presidente do CEDESA: FMI falhou repetidamente nas intervenções em Angola

O vice-presidente do CEDESA - Centro de Estudos para o Desenvolvimento Económico e Social de África considerou esta Sexta-feira que o Fundo Monetário Internacional (FMI) falhou nas intervenções em Angola por ignorar particularidades do país e do continente.

: César Magalhães (Via Expansão)
César Magalhães (Via Expansão)  

Rui Verde diz que existe um "problema técnico-metodológico simples" que resulta de "o paradigma que o FMI segue para as suas intervenções não ter nada a ver com África", uma vez que "parte de modelos teóricos de funcionamento duma economia de mercado avançada no Ocidente que não têm em conta a história, o contexto institucional, o conhecimento das comunidades locais e todo o enquadramento sociopolítico de África".

Numa análise às várias intervenções do FMI em Angola, com o título 'FMI em Angola, uma história de falhanços", o também investigador na Universidade Paris Cité e na Universidade de Oxford passa em revista os programas de assistência técnica e financeira no segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana e salienta que faltam reformas que mudem a economia e não se concentrem apenas em melhorar as contas públicas e os indicadores macroeconómicos.

"A intervenção do FMI em 2021 ajudou Angola a evitar uma crise financeira imediata, mas não resolveu os problemas estruturais que impedem o país de alcançar um crescimento inclusivo e resiliente; a falta de diversificação, a fragilidade institucional e a ausência de uma estratégia clara para combater a pobreza e a desigualdade continuam a limitar o potencial económico angolano", argumenta o também membro da Chatham House.

Um dos exemplos que aponta é a defesa da retirada dos subsídios aos combustíveis, uma das várias medidas impopulares que o FMI defendeu para Angola, como para outros países africanos, com o argumento de que esta despesa estatal devia ser canalizada para investimentos e apoio às camadas mais desfavorecidas da população.

Esta medida, diz Rui Verde, "parece ter uma racionalidade financeira de poupança da despesa pública, e muitos economistas apoiam-na, contudo, a realidade é que piora significativamente o padrão de vida do povo, que já é frágil, tem consequências inflacionistas em cascata, e não tem muito sentido, quando o mercado de distribuição dos combustíveis não funciona em concorrência, mas tem uma estrutura de domínio oligopolista".

Para além disso, continua, "o Estado mantém gastos de funcionamento promovidos pelas elites do regime que são insustentáveis e absurdos, o que cria desequilíbrios fundamentais no sistema político-económico angolano de que o FMI não se apercebe ou não quer perceber".

O investigador insiste que "o insucesso dos programas do FMI em Angola" tem raízes profundas que vão além de questões meramente económicas — envolvem dimensões históricas, políticas, epistemológicas e institucionais", que resultam de ter concebido os programas "com base em modelos macroeconómicos padronizados, centrados na estabilidade fiscal e na liberalização dos mercados, frequentemente ignorando os contextos singulares das economias africanas".

O Fundo, conclui, falha também "ao subestimar a complexidade das instituições africanas", caracterizadas por "uma ausência de capacidades administrativas, prevalência de corrupção sistémica e captura do Estado por elites políticas".

Estes problemas, considera, não são suficientemente abordados nos programas de assistência técnica e financeira, que deviam fazer era "criar uma nova economia, não aplicar receitas de um modelo a outro modelo completamente diferente".

Relacionado

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.