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Opinião

O peso dos transportes no orçamento familiar angolano

Jelson Cristóvão

Jelson Cristóvão é gestor com uma carreira sólida na área de Recursos Humanos e Administração Educacional. Lidera projectos de desenvolvimento organizacional e estratégias de gestão de talentos. É também Treinador Comportamental Internacional certificado.

Angola vive um momento de grandes dificuldades económicas, marcado pela subida constante do custo de vida, impulsionada pelo aumento dos combustíveis e pela falta de reajuste nos salários, principalmente no sector privado. Recentemente, a preocupação com os transportes públicos ganhou destaque, após o anúncio do aumento das tarifas dos táxis colectivos e autocarros urbanos, agravando ainda mais a pressão sobre o orçamento das famílias angolanas.

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A Subida das Tarifas de Transporte: Um Novo Fardo para os Trabalhadores

No dia 6 de Julho de 2025, a Agência Nacional dos Transportes Terrestres (ANTT) anunciou oficialmente o aumento das tarifas dos transportes públicos colectivos. As novas tarifas são as seguintes:

  • Kz 300,00 por viagem nos táxis colectivos (candongueiros);
  • Kz 200,00 por viagem nos autocarros urbanos.

Segundo o comunicado oficial, este aumento foi justificado pelo recente reajuste no preço do gasóleo, que passou a custar mais no mercado nacional. A ANTT afirmou que esta medida visa garantir a continuidade dos serviços de transporte e o equilíbrio financeiro das empresas do sector.

Apesar de a medida ser legalmente justificada, a verdade é que ela pesa, e muito, no bolso do trabalhador comum, sobretudo no sector privado, onde os salários continuam congelados e não acompanham o ritmo da inflação.

O Poder de Compra em Queda e o Impacto Social

Actualmente, um trabalhador que utiliza dois transportes por dia (ida e volta) passa a gastar:

  • Kz 600,00 por dia em táxis colectivos;
  • Kz 400,00 por dia em autocarros urbanos.

Isto representa, ao fim de 22 dias úteis no mês, um gasto de:

  • Kz 13.200,00 mensais em táxis colectivos;
  • Kz 8.800,00 mensais em autocarros urbanos.

Tendo em conta que o salário médio no sector privado varia entre Kz 150.000,00 e Kz 250.000,00, é fácil perceber que o transporte consome uma parte significativa dos rendimentos familiares. Este cenário agrava-se quando se considera que os preços de alimentos, energia, saúde e educação também subiram nos últimos meses. Muitas famílias são obrigadas a cortar outras despesas essenciais para garantir o transporte até ao local de trabalho ou a optar por soluções mais precárias, como mototáxis ou caminhadas longas, aumentando o risco de acidentes e a fadiga diária.

O Papel do Estado e a Necessidade de Soluções Sustentáveis

Na minha opinião, este problema não pode continuar a ser ignorado. O Governo precisa de pensar em soluções para proteger os trabalhadores, que são a base da economia nacional. Algumas medidas urgentes incluem:

  • Implementação de subsídios de transporte para trabalhadores de baixa renda;
  • Reajuste gradual do salário mínimo, de forma proporcional ao aumento do custo de vida;
  • Investimentos sérios na modernização e expansão dos transportes públicos, com maior eficiência e preços mais acessíveis;
  • Estímulo à criação de transportes alternativos, como bicicletas públicas ou transportes eléctricos.

Por outro lado, as empresas privadas também têm o seu papel. Devem considerar apoiar os seus trabalhadores com subsídios de transporte, horários de trabalho mais flexíveis ou, quando possível, soluções de transporte organizadas pelas próprias empresas.

Conclusão

O aumento das tarifas dos transportes colectivos representa muito mais do que uma questão económica. Trata-se de uma questão social, que afecta directamente a qualidade de vida de milhares de trabalhadores angolanos, principalmente aqueles que já enfrentam salários baixos e pouca segurança no emprego. Se o problema não for tratado com responsabilidade, Angola poderá assistir ao agravamento das desigualdades sociais, ao aumento da pobreza urbana e à desmotivação dos trabalhadores, que acabam por perder grande parte dos seus rendimentos apenas para se deslocar até ao trabalho.

É urgente que o Estado, as empresas e a sociedade civil trabalhem em conjunto para encontrar soluções justas e sustentáveis, garantindo que o transporte não continue a ser um fardo insuportável para as famílias angolanas.

Referências

Agência Nacional dos Transportes Terrestres. (2025, 6 de julho). Comunicado de imprensa: Ajuste nas tarifas dos transportes públicos coletivos. Disponível em [ANTT – comunicados] 

Banco Nacional de Angola. (2025, 21 de maio). Pressão inflacionária mantém-se em torno dos 17,5 %. Lusa/Correio da Manhã correiodamanhacanada.com+1sapo.pt+1.

Instituto Nacional de Estatística. (2024). Relatório anual de estatísticas. Luanda: INE ine.gov.ao+1correiodamanhacanada.com+1.

IMF. (2025, abril). Regional Economic Outlook: Sub‑Saharan Africa. Washington, DC: FMI worldbank.org+7imf.org+7undp.org+7.

Trading Economics. (2025). Taxa de inflação pré‑via de Angola. Disponível em [TradingEconomics] pt.tradingeconomics.com.

World Bank. (2025). Global Economic Prospects: SSA Growth Projections. Washington, DC: World Bank.

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