O Desemprego Juvenil: Uma Realidade Preocupante
De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de desemprego entre os jovens angolanos permanece alta, situando-se acima dos 50% em várias províncias. Este número não é apenas uma estatística fria – ele representa sonhos adiados, talentos desperdiçados e uma sensação crescente de frustração.
É verdade que Angola passou por avanços em infra estruturas e educação, mas ainda existe uma desconexão gritante entre o que é ensinado nas instituições de ensino e as reais necessidades do mercado de trabalho. Muitos jovens formam-se em áreas saturadas ou pouco valorizadas, sem que haja uma estratégia nacional clara de orientação profissional e planeamento económico.
Além disso, a maioria dos empregos disponíveis são informais, precários e sem garantias laborais. Jovens licenciados veem-se obrigados a aceitar trabalhos temporários, mal remunerados ou até mesmo a recorrer ao comércio ambulante para sobreviver. Isto não só contribui para o subemprego, como também perpetua ciclos de pobreza e desigualdade.
O Papel do Estado e da Iniciativa Privada
Na minha opinião, o Estado angolano tem uma responsabilidade urgente de liderar uma reforma profunda no sector do emprego juvenil. Não se trata apenas de criar vagas no funcionalismo público, mas sim de fomentar um ambiente propício ao empreendedorismo juvenil, à inovação tecnológica e ao investimento em sectores produtivos como a agricultura, turismo, indústria transformadora e economia digital.
É igualmente fundamental combater práticas como o nepotismo, o clientelismo e a corrupção, que afastam os jovens mais talentosos e comprometidos dos cargos de decisão e liderança. O mérito deve ser o principal critério de acesso a oportunidades, e não as ligações políticas ou familiares.
O sector privado, por sua vez, deve deixar de olhar para os jovens como mão-de-obra barata e começar a vê-los como parceiros estratégicos no crescimento empresarial. Investir em programas de estágio bem estruturados, capacitação contínua e políticas de retenção de talentos é um passo essencial para valorizar a juventude angolana.
Educação, Formação Técnica e Esperança
Outro eixo fundamental para combater o desemprego jovem é a valorização da educação técnico-profissional, que continua a ser marginalizada em favor de formações universitárias que nem sempre garantem empregabilidade. Em muitos países desenvolvidos, são os técnicos especializados que sustentam as indústrias e serviços — Angola não pode continuar a ignorar este modelo.
Os jovens precisam também de acreditar no seu próprio valor. Incentivar uma cultura de autonomia, inovação e criatividade pode ser transformador. Iniciativas como hubs de inovação, centros de formação em tecnologia e programas de microcrédito para pequenos negócios devem ser massificados, especialmente fora de Luanda, onde as oportunidades são ainda mais escassas.
Conclusão
Angola está num ponto de viragem. A juventude é a sua maior força e o seu maior risco. Se for ignorada, desvalorizada ou subestimada, poderá tornar-se fonte de instabilidade. Se for capacitada, escutada e integrada, será o motor de um novo ciclo de crescimento, justiça social e prosperidade.
Chegou o momento de repensar o modelo de desenvolvimento nacional com base nas necessidades e potencialidades dos jovens. Garantir-lhes emprego digno é, no fundo, garantir um futuro sustentável para toda a nação angolana.
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A Opinião de Janísio Salomão Janísio Salomão