Em Angola, cerca de 54% da população vive abaixo da linha de pobreza e mais de 75% da força de trabalho encontra-se no sector informal. Este cenário revela não apenas a dimensão do desafio, mas também o vasto potencial de transformação que existe se forem criadas as condições certas para impulsionar a produtividade local e o empreendedorismo de base.
Microfinanças são, na sua essência, um catalisador de inclusão económica, pois, representam acesso a instrumentos financeiros que permitem que indivíduos historicamente excluídos participem activamente na economia. Quando bem estruturadas, promovem o espírito empreendedor, fortalecem cadeias de valor locais e criam resiliência económica nas comunidades mais vulneráveis.
O sector informal, embora muitas vezes marginalizado, é um dos principais motores da actividade económica em Angola. Nele circulam milhares de pequenos negócios — de quitandeiras a agricultores familiares — que sustentam famílias e movimentam mercados. No entanto, a ausência de acesso a financiamento adequado, educação financeira e canais formais de comercialização limita severamente o seu crescimento e contribui para a estagnação económica e perpetuação da pobreza.
Diversas experiências em contextos semelhantes demonstram que, quando as microfinanças são adoptadas como ferramenta de desenvolvimento económico local, o impacto é significativo: aumento do rendimento familiar, criação de empregos, dinamização das economias comunitárias e elevação dos índices de bancarização. O microcrédito, quando aliado à capacitação e ao acompanhamento, permite que uma ideia simples se transforme num negócio sustentável — gerando valor e dignidade.
Em Angola, nota-se a inexistência de uma abordagem sistémica e coordenada que coloque as microfinanças no centro da estratégia de redução da pobreza.
A construção de uma sociedade mais justa e economicamente resiliente passa por reconhecer as microfinanças como um parceiro estratégico na luta contra a pobreza.
Para tal, importa:
1. Adoptar uma abordagem integrada, que inscreva as microfinanças nas políticas de promoção do emprego, apoio à agricultura familiar e empoderamento da mulher;
2. Promover políticas e regulamentos amigáveis, que incentivem a expansão dos serviços microfinanceiros com responsabilidade, sustentabilidade e foco no impacto social;
3. Fomentar colaborações estruturadas entre instituições, parceiros de desenvolvimento e actores comunitários, no sentido de levar soluções financeiras até as bases.
A inclusão financeira não é um luxo — é um pilar do desenvolvimento. E as microfinanças, quando tratadas como aliadas e não como acessórios, podem ser a ponte entre a sobrevivência e a prosperidade. Com estruturas bem reguladas, modelos sustentáveis e orientação para impacto, as microfinanças tornam-se verdadeiros aceleradores de inclusão e crescimento para milhões de angolanos.