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Opinião Os 5 em Angola

Novos amigos

Filipa Moita

Autora da página de Facebook Os 5 em Angola, que relata as experiências de uma família portuguesa de cinco elementos que imigrou para Angola.

Uma das grandes preocupações que tive, ao saber que a família vinha para Angola, foi o de gerir as emoções e expectativas das minhas filhas, de 12 e de 9 anos. E nos últimos meses em Lisboa, começámos a sentir o nervoso miudinho de uma decisão desta envergadura. O coração estreitou e começámos a sentimos verdadeiramente a dor de uma despedida. E agora, como iríamos viver com as saudades dos nossos amigos e familiares?

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Enquanto durou a novidade dos primeiros dias, a vida deslizava calma e descontraída. Apesar do choque de culturas claramente evidente, as minhas filhas já sabiam o que iam encontrar e assim, queriam “à força” conhecer e entranhar na cultura angolana. Queriam-se integrar pois sabiam que esta iria ser a sua próxima casa. E o processo de assimilação na cultura começou precisamente na escola delas. Um ambiente muito mais pequeno face ao que estavam habituadas em Lisboa, mas mais familiar e acolhedor. Todos se conheciam. Perfeito, pensei eu. Mas confesso que nos primeiros dias não foi fácil. Eram alunas novas, diferentes, e o choque aconteceu. Havia críticas, isolamentos e silêncios. A típica recepção quando se integra um ambiente novo e ainda por mais um ambiente escolar já enraizado de alunos e professores. As minhas filhas eram as estrangeiras. Mas felizmente não durou muito. Durou o tempo necessário para elas explorarem o caminho certo junto dos colegas, de se darem a conhecer e iniciarem amizades.

Posso dizer com orgulho que as minhas filhas, fruto da educação que têm em casa, sempre souberam qual era o seu lugar. Sempre foram ensinadas a respeitar o outro, o ambiente e as tradições de cada sítio e por causa disso, a sua integração em Angola não custou muito. Hoje adoram a sua escola, os seus professores e já não passam sem as suas amizades. Estão plenamente integradas. Mas, e as amizades que ficaram em Lisboa?

Essas foram mais difíceis de suportar nos primeiros…2 meses. Sim, foi o tempo que a minha filha mais velha levou a se habituar à distância das suas amigas do coração. Sempre que ia ao Facebook e via publicações das amigas chorava e isolava-se de nós. No fim de contas, nós desenraizámo-la de tudo e de todos. Foi um tempo muito difícil pois não estava a conseguir suportar e ver a tristeza da minha filha, que só atenuou quando fomos a Lisboa, em Dezembro. E aí eu soube que elas, realmente, gostavam disto, pois já estavam a contar os dias para voltar. E nós também!

Uma das coisas boas de ter criado a página do Facebook, foi o de através dele, ter conhecido várias pessoas, quer em Lisboa, quer em Angola. Pessoas que conheci antes de vir para cá e que me deram todo o seu apoio na nossa integração. Hoje somos vizinhos e acima de tudo, amigos! Através da creche do meu Vi, também reencontrei uma amiga que já não via desde que ambas demos à luz, no mesmo dia, os nossos rapazes. Lembram-se desta história?

E também conheci a linda família dos Britos em Angola…tudo pessoas que, tal como eu, fizeram de Angola a sua casa, a sua terra. Escolheram viver aqui, com grandes dificuldades, mas nada que não fosse suportável quando temos a família junta.

Mas também nós, os pais da casa, sofremos com esta mudança, superável quando há vontade e espirito de descoberta e de aceitação. E dessa forma, que melhor educação podemos dar aos nossos filhos, que a descoberta de novos sítios, novas realidades e novas dificuldades? Não os torna mais fortes? Acho que é muito importante sairmos da nossa bola de vidro e enfrentarmos a vida tal como ela é, uns dias bonitos e outros menos agradáveis.

E Angola põe-nos constantemente à prova. Todos os dias. Mas é bom cair de vez em quando, pois com a queda, aprendemos a nos levantar, e a forma como nos levantamos de cada vez que caímos, ensina-nos a ser fortes e a crescer como indivíduos.

E aqui agradeço aos meus amigos angolanos. Sempre presentes e incansáveis na procura do nosso bem-estar e na nossa ambientação à “nossa” e agora minha cidade.

Obrigada por estarem connosco sempre que vos pedimos, inclusive para nos levarem a conhecer o “Mercado do 30”. Foi uma aventura e tanto. Prometo que para a próxima, levo galochas! Outros amigos fui e vou conhecendo na minha página, amizades que são pedidas, impressões que são trocadas e encontros que são marcados.

Tudo porque quando estamos longe dos nossos, as amizades, que são poucas, viram rapidamente algo mais e os laços estreitam-se e são estas PESSOAS que aqui estão connosco que passamos a chamar de FAMÍLIA. São eles que nos sustêm quando as saudades apertam e que nos ajudam a manter a sanidade mental quando estamos longe de quem mais amamos.

É isto que mais custa aqui. Não é o trânsito, nem os buracos, nem as dificuldades dos horários que desmoralizam. São as saudades de todas aquelas pessoas que deixámos em Lisboa e por quem ansiamos ver novamente em breve. Tudo o resto é mínimo, porque com amigos, com encontros e com momentos bem passados, todos os momentos valem ouro e fazem-nos sentir bem!

Por isso, posso dizer com confiança que não estamos sozinhos aqui. O Skype ajuda a minimizar a distância e o Facebook é uma janela aberta entre nós, os amigos de Lisboa, a família, e os novos amigos que esta nova realidade trouxe às nossas vidas.

Obrigada por “me lerem”, por me criticarem e ajudarem a compreender certos sentimentos, por me incentivarem a escrever mais do que vejo e sinto e principalmente pelas mensagens de encorajamento e PRESENÇA dos que estão longe e dos que agora estão aqui comigo, nesta Luanda, ao mesmo tempo tão arrebatadora e tão cativante.

Só vivendo aqui se sente o que tento descrever…Não é a cidade onde nasci mas é a cidade onde a minha família e eu optámos por viver e apesar das suas dificuldades diárias, é onde quero que os meus filhos cresçam e aprendam a aceitar as diferenças, as dificuldades e a beneficiar de toda a envolvente que um novo País pode oferecer.

Sou assim uma pessoa riquíssima, pois tenho amigos e família em Portugal e em Angola e graças ao blog, ganhei novos amigos, novos conhecimentos e pessoas importantes que já considero como família. E isto lembra-nos que as amizades e os amigos valem mais que qualquer outro bem material pois quer nos momentos felizes ou nos mais complicados, eles estão lá, do nosso lado, a apoiar-nos.

A todos os meus “velhos” amigos, aos meus novos amigos, e às novas amizades trazidas pelo blog, página do Facebook ou o site VerAngola, o meu muito obrigada por estarem aí desse lado. É bom ter a vossa companhia!

Fiquem bem, Ya?

 

Opinião de
Filipa Moita

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