Em declarações à agência Lusa à margem do Fórum Ibrahim, a decorrer em Marraquexe, revelou que participantes de outros países africanos estão "bastante expectantes com o facto de o Presidente João Lourenço encabeçar então a União Africana".
"Temos ainda alguns conflitos em África por resolver e Angola acaba por ter uma responsabilidade acrescida", explicou.
"São desafios que nós acreditamos piamente que estaremos em condições de, se não resolver, pelo menos minimizar", acrescentou.
Lourenço assumiu a presidência rotativa da organização em Fevereiro, um cargo essencialmente honorífico exercido durante um ano, elegendo a resolução de conflitos como uma prioridade.
No entanto, em Março anunciou o abandono do papel de mediação do conflito entre a República Democrática de Congo (RDCongo) e o Ruanda, depois de fracassadas as negociações directas com o grupo rebelde M23 e alegando factores "externos".
Mara Quiosa disse ter tido contactos com uma delegação do Sudão, palco do maior conflito no continente africano, para pedir a atenção da presidência da União Africana.
"Nós vamos levar esta preocupação. Solicitaram-nos que fizéssemos chegar essa preocupação ao presidente Lourenço e assim o faremos", garantiu.
Na conferência, que tem como tema "Alavancar os recursos de África para colmatar o défice financeiro", além de debates sobre reformas políticas e financeiras, disse ter-se interessado pelo tema da liderança feminina.
"Sendo mulher, não podia ser diferente. Pudemos partilhar alguma experiência de outros países, de outras realidades aqui de África, mas sempre no intuito de dizer que a mulher está aqui e a mulher é capaz de fazer e a mulher quer agregar valor a todas essas políticas públicas que têm sido traçadas, mas também a nível dos próprios partidos políticos", afirmou à Lusa.
No cargo há cerca de seis meses, Quiosa foi antes governadora das províncias do Cuanza Sul, Cabinda e Bengo e vice-presidente da Comissão Administrativa da Cidade de Luanda para a Área Política, Social, Assuntos Comunitários e Ambiente.
A nova vice-presidente do partido no poder em Angola desde a independência, em 1975, acredita que a experiência acumulada "ajuda também no trabalho do dia-a-dia" e que dá "uma perspectiva diferente do país".
"Eu tenho propriedade suficiente de dizer que eu conheço o país, eu conheço as necessidades das comunidades, eu conheço à vontade os anseios da população, porque de facto nós estivemos lá com elas", vincou.
A dirigente de 44 anos considera que é importante, "cada vez mais, uma governação de proximidade".
Vista como uma possível sucessora de Lourenço, cujo segundo mandato termina em 2027, Quiosa preferiu enfatizar a crescente influência feminina na política em Angola, como o apoio do Presidente.
Durante os seus mandatos, argumenta, houve mais mulheres governadoras e ministras, os cargos de vice-Presidente da Angola e de presidente da Assembleia Nacional também são ocupados por mulheres e cerca de 40 por cento do parlamento é composto por mulheres.
"Temos cada vez mais mulheres em cargos de decisão, em cargos de liderança, do que tínhamos há anos (...). E temos estado a exercer este papel novo, com bastante mestria, mas também com resiliência, porque não é fácil", sublinhou.
"Por ser mulher, nós temos a necessidade de, diariamente, provar à sociedade, provar ao mundo do que nós somos capazes", afirmou.
A conferência IGW 2025, que começou Domingo, prolonga-se até esta Terça-feira em Marraquexe.
Políticos, académicos e activistas vão debater como podem os países africanos mobilizar-se para acelerar o desenvolvimento social e económico num contexto internacional de declínio da ajuda externa.