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Opinião Do Zaire ao Cunene

Massangano

Pedro Rui Silva

Pedro Rui Pereira da Silva trabalhou em Angola como Engenheiro Electrotécnico. Nascido em Portugal, no Porto, a 8 de Dezembro de 1969, casado com Ana, pai de Francisco e Luísa. Fotógrafo amador. Viajante.

Quando o inconfidente José Álvares Maciel chegou a Massangano, em 1792, já o forte contava com mais de 200 anos de história. Maciel havia sido detido dois anos antes no Brasil, em Vila Rica, por envolvimento com a Inconfidência Mineira.

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Condenado à morte, viu a sua pena comutada em degredo perpétuo. Massangano foi o seu destino. E foi aí cumpriu o seu castigo, antes de ser libertado para sobreviver por seus próprios meios, entregue à sua sorte e engenho. E, reza a história, foi o seu engenho que lhe permitiu, não só sobreviver, mas atingir até alguma prosperidade por terras da Raínha Ginga. Anos antes, em 1640, a própria N’Ginga tentou um assalto a Massangano, fracassando na tentativa de tomar o forte e vendo suas irmãs aprisionadas pelos Portugueses. E foi ali, no ano seguinte, nas margens do Kwanza que os Portugueses haveriam de se refugiar fugindo de Luanda tomada pelos Holandeses. Até que, vindo do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá, logrou expulsar a Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais da capital Angolana, em 1648.

A Massangano chega-se hoje, tomando a estrada de Catete, e, por alturas de Maria Teresa, seguindo em direcção ao Dondo. Dessa estrada, muito degradada e exigindo cautela na condução, sai-se para 20 Km de picada em mau estado, que tardará uma hora a percorrer. E, ali chegando, são as ruínas do antigo tribunal que nos dão as boas vindas. Em seguida a antiga Câmara e, junto à porta de armas do forte, crianças numerosas, que nos hão-de seguir com evidente excitação até às restantes paragens. Do forte, das ruínas do forte, sobressai a ampla vista do mítico Kwanza, serpenteando por entre a verde paisagem. Canhões vários resistem ainda ao tempo e ao criminoso descaso a que foi votado este marco da história Angolana. Mais adiante, a Igreja de Nossa Senhora da Vitória, com o túmulo do explorador Paulo Dias de Novais que, subindo o vale do Kwanza em busca das lendárias minas de prata de Cambambe, acabaria por fundar a povoação de Nossa Senhora da Vitória de Massangano na confluência do Kwanza com o Lucala. Daí, da igreja, seguiremos até à praça dos escravos, seguindo a indicação dos nossos pequenos cicerones. Não é difícil imaginar ali as inúmeras transacções que haviam de levar um cativos Africanos até ao outro lado do oceano. Para engrossar a mão de obra escrava tão necessária nesse Brasil colonial, para Minas Gerais, para Vila Rica, imagino, para as minas de ouro que haviam de incendiar os sentimentos independentistas Mineiros, que haveriam de trazer José Álvares Maciel a Massangano. A essa Massangano onde se chega por uma picada, que percorreremos, mais tarde para regressar a Luanda. Com a sensação de dever cumprido, com a excitação de termos seguido as pegadas de figuras chave desse Portugal de outrora, desse pequeno país de Bragança até Timor, de ter seguido a história, de ter feito parte de uma aventura. Longa, de mais de quatrocentos anos…

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