Em entrevista à Lusa a partir de Lagos, na Nigéria, Osaruyi Orobosa, vice-presidente da entidade coordenadora do projecto do corredor económico do Lobito, afirmou que esta infra-estrutura, que liga o porto de Lobito, em Angola, à Zâmbia, e à República Democrática do Congo (RDCongo), modernizando a parte da via férrea que já existe e ampliando-a, "vai impulsionar a actividade económica", e não só o sector dos minerais em que os três países são ricos.
"Há minas que dantes não eram viáveis porque não tinham um plano de escoamento viável, e por isso fechavam, e agora podem voltar a abrir. Mas a Zâmbia é um país muito rico em produtos agrícolas, como soja e milho, matérias-primas com grande potencial comercial e que podem facilmente beneficiar do corredor económico do Lobito para movimentar os bens agrícolas, que prevemos que representem pelo menos um terço da carga", disse.
A linha férrea entre Lobito e a fronteira com a RDCongo está já construída desde o princípio do século XIX, mas precisou de substanciais melhoramentos para permitir um funcionamento mais eficaz, explicou, lembrando que este troço já está concessionado a três empresas, entre as quais figura a portuguesa Mota-Engil.
"Este projecto chama-se Lobito 1, que vai desde o Lobito até à fronteira com a RDCongo, e daí para Kolwesi, utilizando a MSC, a companhia férrea estatal, que poderá ser uma das maiores plataformas para o cobalto e cobre das minas da região", explicou Osaruyi Orobosa, apontando que daí a linha continuaria para sul, rumo à Zâmbia.
"Tudo isto cria um corredor económico que liga os três países, e que no futuro poderia ser alargado até à Tanzânia, oferecendo uma ligação entre os oceanos Atlântico e Índico, que poderá servir não só para transportar as matérias-primas da região para serem exportadas, mas também as próprias trocas comerciais entre os países da região", acrescentou o líder deste projecto na AFC, coordenadora do projecto ferroviário de transformação para operacionalizar o corredor do Lobito no seu todo.
Entre os exemplos de trocas comerciais, Osaruyi Orobosa apontou ainda que Angola "vai ter um excedente de produção de energia" que pode exportar para outros países utilizando esta ligação, que vai também ser usada para "transportar fibra óptica usando os mesmos direitos de passagem, o que aumenta a conectividade e tem um grande impacto na população".
O Corredor do Lobito é o primeiro corredor económico estratégico lançado sob a égide da Parceria para as Infra-estruturas e Investimento Global do G7 (PGI), em Maio de 2023, a que se seguiu a assinatura de uma declaração conjunta entre a União Europeia (UE) e os Estados Unidos da América (EUA), à margem da Cimeira do G20 de Setembro de 2023 em Nova Deli, de apoio ao desenvolvimento do Corredor.
Em Outubro do ano passado, durante o Fórum Global Gateway, a UE e os EUA assinaram – em conjunto com Angola, a RDC, a Zâmbia, o Banco Africano de Desenvolvimento (AfDB) e a AFC – um Memorando de Entendimento (MoU) para definir os papéis e objectivos para a expansão do Corredor.
Este acordo de concessão foi assinado em Setembro, colocando a AFC como promotora principal do projecto que vai ligar os três países africanos.
Prevê-se que a linha férrea a construir no âmbito dos acordos assinados crie benefícios económicos de aproximadamente 3 mil milhões de dólares para os países, reduza as emissões atmosféricas em cerca de 300 mil toneladas por ano, e crie mais de 1250 postos de trabalho durante a sua construção e as operações, aponta-se ainda no texto apresentado em Nova Iorque, à margem da Cimeira do Futuro.