Entre os países analisados no relatório "Dignidade e respeito nos serviços públicos em África: um factor invisível no compromisso global de não deixar ninguém para trás" estão os lusófonos Angola e Moçambique – na lista de piores classificados –, São Tomé e Príncipe, que apresenta resultados medianos, e Cabo Verde, que está na lista de melhores classificados.
"Em média, nos 39 países, uma percentagem substancial da população adulta afirma ter tido contacto, nos 12 meses anteriores ao inquérito, com um estabelecimento de saúde pública (58 por cento), uma escola pública (34 por cento) e/ou uma agência governamental que fornece documentos de identificação, tais como certidão de nascimento, carta de condução, passaporte ou licença (33 por cento), indicou o Afrobarómetro no estudo.
Entre os que afirmam ter tido contacto com estes prestadores de serviços públicos, quase metade diz ter achado "difícil" ou "muito difícil" obter um documento de identidade (49 por cento), assistência policial (46 por cento) ou serviços de saúde (45 por cento); mais de um terço diz ter sido tratado com pouco ou nenhum respeito pelas autoridades de identificação (39 por cento) e pelo pessoal médico (36 por cento); uma percentagem semelhante (34 por cento) afirma que os agentes da polícia no seu país raramente ou nunca "actuam de forma profissional e respeitam os direitos de todos os cidadãos", enumerou.
Outra das conclusões apresentadas é que os jovens e os cidadãos pobres são particularmente susceptíveis de relatar dificuldades na obtenção de serviços, bem como de receberem tratamento desrespeitoso por parte dos prestadores de serviços.
"Os inquiridos que se sentiram desrespeitados pelos prestadores de serviços públicos são mais propensos a desconfiar e a desaprovar os seus líderes eleitos, mais propensos a estar insatisfeitos com a forma como a democracia está a funcionar no seu país e menos propensos a apoiar uma forma democrática de Governo" até porque "são os inquiridos com mais habilitações que têm maior probabilidade de sentir que os trabalhadores dos serviços públicos os desrespeitam, em comparação com os inquiridos com menos habilitações, comparou.
Relativamente à tabela apresentada pelo Afrobarómetro com dados relativos à falta de respeito, 46 por cento dos inquiridos em Angola disseram já ter sentido essa sensação em agências governamentais que fornecem documentos de identidade, 48 por cento em serviços de saúde, 44 por cento quando tiveram de contactar com a polícia e 34 por cento nas escolas.
Em Moçambique, 45 por cento dos inquiridos afirmaram ter-se sentido ofendidos em serviços de identidade, 46 por cento em serviços de saúde, 37 por cento em contacto com as autoridades e 41 por cento no sector do ensino.
Já os são-tomenses relataram números inferiores: 35 por cento em serviços de identidade, 30 por cento em serviços de saúde, 48 por cento quando em contacto com a polícia – a maior percentagem dos quatro lusófonos mencionados – e 19 por cento na educação.
Por sua vez, Cabo Verde apresentou os melhores resultados dos quatro lusófonos: 9 por cento em serviços de identidade, 17 por cento em serviços de saúde, 26 por cento em contacto com as autoridades e 9 por cento nas escolas.
"O Afrobarómetro é uma rede de investigação pan-africana e apartidária que fornece dados fiáveis sobre as experiências e avaliações africanas da democracia, governação e qualidade de vida. Desde 1999, foram realizadas nove rondas de inquéritos em 42 países. A 9.ª ronda de inquéritos (2021/2023) abrange 39 países", indicou a entidade.