Adalberto Costa Júnior respondia a perguntas do público durante a sua participação na III edição das Conversas da Economia sem Makas, conduzida pelo jornalista Carlos Rosado de Carvalho, garantindo que o seu partido é aberto ao diálogo.
"Um dos maiores problemas que temos é o problema do medo, é um problema real. Tivemos um período terrível de guerras e estive em alguns ambientes de negociação política onde ouvia pessoas do outro lado a dizerem: 'não esperem que vos vamos facilitar a transição porque vocês vão se vingar, vocês vão-nos fazer pagar'", afirmou, negando que tal vá acontecer.
Como exemplo prático, apontou a abertura da UNITA a personalidades independentes — "o que não é um exercício fácil e está sujeito a críticas internas" —, citando a Frente Patriótica Unida (FPU), iniciativa que, admitiu, "não foi pacífica no plano interno", assim como o grupo parlamentar, que acolhe também membros de outros partidos.
"Estamos preparados para pensar numa Angola sem os vínculos do cartão do partido. Eu não sou daqueles que, um dia se chegar a Presidente da República — e espero chegar — dizer que o governo vai ser feito só com militantes do partido. Nunca vou dizer isso. E não vou dizer que eu ganhei as eleições e que os outros membros de outros partidos não pensem que alguma vez vão para o governo", afirmou, recebendo forte aplauso da sala.
Em contraste, criticou o comportamento do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), afirmando que o presidente do grupo parlamentar da UNITA enviou uma carta ao seu homólogo do MPLA a procurar consensos sobre as leis em discussão no parlamento, tendo recebido como resposta a indisponibilidade para o diálogo. "Nós não fazemos esse tipo de práticas", garantiu.
"Não vai haver 'revanche', nem caça às bruxas", reforçou.
Adalberto Costa Júnior sublinhou também que existe censura em Angola, afirmando que "é fundamental ter uma imprensa ao serviço do país, da pluralidade, do contraditório", e lamentando que hoje haja menos acesso à comunicação social do que no tempo de José Eduardo dos Santos, antigo Presidente da República, apontando uma "regressão" nas liberdades.
O líder da UNITA classificou ainda a nova Divisão Político-Administrativa (DPA) de Angola como "um instrumento político para evitar a alternância", defendendo o avanço para as autarquias e apelando ao resgate da independência do poder judicial.
"É preciso resgatar a independência do poder judicial. É uma questão prioritária para fazer funcionar o país. O que vemos hoje é escandaloso", frisou o dirigente do maior partido da oposição.