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OPEP corta produção de petróleo em 2024. Angola rejeita cortar quotas e entra em rota de colisão com OPEP+

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), liderada pela Arábia Saudita, vai cortar a produção de crude entre 600 mil a 1 milhão de barris por dia em 2024, contrariando a pretensão da Nigéria e de Angola. No entanto, o governador de Angola na OPEP disse que Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e vai manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024.

: Facebook Sonangol - Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola
Facebook Sonangol - Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola  

Os 13 ministros da OPEP, liderados pela Arábia Saudita, e os seus dez aliados, liderados pela Rússia, concordaram em "reduzir ainda mais a produção entre 600.000 e um milhão de barris por dia", escreve a agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP), citando uma fonte próxima das discussões.

A declaração oficial da reunião, disponível no site da OPEP, não faz referência ao número global do corte na produção, especificando que, para o caso de Angola e da Nigéria, a produção terá de limitar-se a 1,11 milhões e 1,5 milhões de barris diários, respectivamente.

"De acordo com a decisão da 35.ª reunião ministerial da OPEP e não OPEP, a finalização da análise pelas três fontes independentes (IHS, Wood Mackenzie e Rystad Energy), o nível de produção que pode ser atingido por Angola, Congo e Nigéria é o seguinte: Angola com 1,110 milhões de barris diários, Congo com 277 mil barris diários e Nigéria com 1,5 milhões de barris diários", lê-se na declaração divulgada no site no final da reunião.

A reunião de Quinta-feira tinha sido adiada face à resistência dos países africanos em aceitar o corte da produção permitida ao abrigo do acordo entre os 13 países da OPEP e os 10 aliados, mas as agências internacionais de notícias dão conta de 'vitória' da Arábia Saudita, que mantém o objectivo de baixar a produção para fazer subir os preços do petróleo.

Além do corte anunciado na Quinta-feira, a Arábia Saudita deverá prolongar a sua redução voluntária de um milhão de barris por dia para além de 2023, segundo a mesma fonte citada pela AFP, que dá conta da tentativa da Arábia Saudita de convencer os parceiros africanos a partilhar o fardo da redução da produção.

Nigéria e Angola, os dois maiores produtores de petróleo na África subsaariana, produzem cerca de 1,5 e 1 milhão de barris diários, respectivamente, e querem 'autorização' do cartel para produzir mais, tendo em conta as perspectivas de um aumento da produção a partir do próximo ano nos dois países.

A divergência dura desde Junho deste ano, quando foi determinada uma redução dos objectivos de produção para estes países, ao mesmo tempo que foi acordado um aumento das exportações dos Emirados Árabes Unidos devido à suas grandes reservas, escreve a AFP.

Angola rejeita cortar quotas

Apesar da decisão da organização, Angola rejeitou cortar as quotas. O governador de Angola na OPEP disse que Luanda rejeitou a quota atribuída pelo cartel, que previa uma redução, e vai manter a meta de 1.180 mil barris por dia para 2024.

Em declarações à Lusa, no final da 36.ª reunião ministerial desta organização de 23 países, em que foram deliberadas as quotas de produção para os seus membros a partir de 1 de Janeiro de 2024, Estevão Pedro disse que "Angola não concorda" com a decisão.

"Nós já tínhamos apresentado os nossos dados, tendo em conta as capacidades do país, mas entretanto a decisão (da OPEP+) foi contra o montante que nós prevíamos", sublinhou.

A OPEP+ apresentou uma meta de 1.110 mil barris/dia, enquanto Angola quer produzir mais 70 mil barris.

Segundo o responsável, durante a reunião, Angola reafirmou a sua posição, mas ao contrário da unanimidade que tem sido habitual, a OPEP decidiu uma quota na qual Angola não se revê.

"Não nos revemos no 1.110 mil de barris/dia que é reflectido no documento [comunicado da OPE] e continuamos com a nossa proposta que é de 1.180 mil barris/dia. Este montante é o que faremos o esforço de produzir durante o ano de 2024", reforçou.

Estevão Pedro sublinhou que Angola tinha apresentado uma quota de acordo com o que pode e pretende produzir, indicando que foi formalizada uma carta expressando esta posição.

"O que faltou na reunião foi o critério habitualmente utilizado que é a unanimidade", lamentou, considerando que a posição de Angola deveria "ser aceite", cumprindo o princípio da soberania dos países membros.

Quanto à permanência de Angola na OPEP, diz que qualquer decisão futura dependerá da resposta a esta carta.

"Vamos esperar pela reacção, primeiro vamos ter o 'feedback' da OPEP, tudo o que tiver de acontecer 'à posteriori' é 'a posteriori'", afirmou nas declarações à Lusa.

O responsável destacou que Angola sempre trabalhou no seio da OPEP para a estabilização do mercado, "que beneficia os produtores e os consumidores", pelo que a organização deveria aceitar o que o país lusófono pede.

Os outros membros concordaram com os cortes, adiantou Estevão Pedro, justificando que os problemas dos países são diferentes.

"A pretensão de Angola é produzir em função das suas capacidades e a quota atribuída pela OPEP está muito aquém das possibilidades de Angola", acrescentou, frisando que Angola tinha solicitado anteriormente uma quota superior e "tentou flexibilizar", apresentando uma nova meta, mais baixa.

Os membros do cartel que representa a maioria da produção de petróleo mundial desentenderam-se já na semana passada sobre as metas de produção para os países africanos, entre os quais estão Angola e Nigéria.

Arábia Saudita e os seus aliados queriam impor quotas mais baixas para a produção petrolífera dos países africanos, numa tentativa de aumentar os preços para o próximo ano, mas contaram com a oposição destes países, nomeadamente Angola quer pretende aumentar a produção e as receitas petrolíferas.

A OPEP é constituída pela Argélia, Angola, Guiné Equatorial, Gabão, Irão, Iraque, Kuwait, Líbia, Nigéria, República do Congo, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Venezuela, a que se juntam mais dez aliados, entre os quais estão a Rússia, o México, o Azerbaijão e o Cazaquistão, e o Brasil, que deverá entrar no grupo em Janeiro de 2024.

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