Segundo um comunicado remetido ao VerAngola, a iniciativa – liderada pela The Nature Conservancy (TNC) e pelo World-Wide Fund for Nature (WWF), pelo Gabinete de Administração da Bacia do Rio Cunene (GABHIC) e pelo Instituto Nacional de Recursos Hídricos (INRH) – tem em vista proteger as fontes de água, "o rezoneamento dos Parques Nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana", bem como a "exploração do estabelecimento de áreas de conservação e co-gestão baseadas na comunidade".
Nesse sentido, a TNC e a WWF têm trabalhado na Iniciativa de Planeamento da Conservação do Sudeste de Angola e das Fontes de Água, "que está a reunir um conjunto abrangente de dados e informações para apoiar os planos de conservação das instituições governamentais, para que estas possam tomar decisões informadas sobre onde, porquê e como investir na conservação".
No quadro dessa iniciativa, realizou-se, em Luanda, um workshop no sentido de "envolver os actores no aperfeiçoamento das estratégias de conservação e definir vias de implementação".
Segundo o representante do INRH, Narciso Ambrósio, perante as "condições em rápida mudança", está-se numa altura "crucial para a conservação das fontes de água" primitivas do sudeste do país.
"Face às condições em rápida mudança, encontramo-nos num momento crucial para a conservação das fontes de água pristinas do sudeste de Angola. O nosso compromisso no Instituto Nacional de Recursos Hídricos é garantir que estes ecossistemas vitais não só continuem a prosperar como também beneficiem as comunidades que deles dependem", apontou.
"Ao dar prioridade à gestão sustentável e às medidas de protecção, estamos a salvaguardar o nosso património natural para as gerações futuras. Esta iniciativa não se trata apenas de conservar os recursos hídricos; trata-se de preservar a nossa identidade, a nossa cultura e o nosso futuro económico comum", acrescentou.
No workshop, o representante do GABHIC, Carolino Mendes, disse que é preciso "agir agora na implementação de medidas de conservação no sudeste de Angola que equilibrem as necessidades ambientais e sociais".
"À medida que avançamos com a nossa ambiciosa agenda de conservação, reconhecemos que a preservação dos nossos recursos naturais não é apenas um imperativo ambiental, mas também uma componente vital da nossa identidade nacional e do nosso futuro económico partilhado. Ao salvaguardar a nossa biodiversidade e garantir a gestão sustentável dos nossos ecossistemas, estamos a investir na saúde e na prosperidade das nossas comunidades para as gerações vindouras", acrescentou.
Quem também interveio na ocasião foi Colin Apse, da TNC, que apontou que "ao contrário de muitos rios e lagos no mundo que estão entre os ecossistemas mais degradados, os rios no sudeste de Angola estão em condições ecológicas notavelmente boas, o que significa" que se tem "uma oportunidade única de manter estes ecossistemas prósperos para o benefício da natureza e das pessoas".
"Ao investir na protecção destes recursos naturais hoje, podemos assegurar um futuro sustentável tanto para as pessoas como para a vida selvagem no sudeste de Angola e esta iniciativa representa um passo significativo para atingir esse objectivo", disse ainda a responsável da TNC.
Já Moses Nyirenda, director de Conservação da WWF, destacou a relevância da iniciativa.
"A saúde do nosso planeta depende de ecossistemas saudáveis. Temos de actuar urgentemente para proteger estes recursos naturais vitais não só para a vida selvagem, mas também para as comunidades que deles dependem. A gestão sustentável dos nossos rios é essencial para garantir a segurança da água e a biodiversidade em Angola", indicou.
O workshop de Planeamento de Conservação da Água no Sudeste de Angola e nas Fontes de Água, teve duração de dois dias, servindo igualmente como "plataforma para feedback sobre os planos espaciais que foram desenvolvidos durante esta iniciativa".
"As origens destes rios incluem os rios Cubango-Okavango, Cuando e Zambeze, na mesa planáltica de Angola", cujas bacias são reconhecidas como "uma das cinco áreas de elevada biodiversidade e de natureza selvagem mais intactas do mundo", dado que as suas nascentes suportam "uma rica biodiversidade, zonas húmidas vitais e proporcionam um imenso valor social e cultural", salientando-se que ao se investir em medidas de "protecção e de gestão sustentável da utilização dos solos", o país possui "a rara oportunidade de salvaguardar estes rios a um custo relativamente baixo em comparação com a sua recuperação quando degradados, promovendo simultaneamente actividades económicas baseadas na natureza, como o ecoturismo".
De referir que o sudeste de Angola conta com "alguns dos sistemas fluviais mais significativos de África, contribuindo com cerca de 120 a 150 quilómetros cúbicos de escoamento superficial por ano, ou aproximadamente 8000 a 10.000 metros cúbicos de água por habitante por ano, de acordo com o Relatório de Levantamento e Estado da GIRH de Angola".
Por exemplo, a bacia do Cubango-Okavango, por si só, é essencial "para a manutenção de uma gama diversificada de vida selvagem, incluindo uma das maiores populações contíguas de elefantes africanos, e fornece recursos essenciais de água doce para uso doméstico e agrícola das comunidades locais", adianta a nota, que destaca que a biodiversidade do país é excepcional, "com mais de 1260 espécies de plantas endémicas e 275 espécies de mamíferos, como a famosa palanca negra gigante, o búfalo vermelho e o elefante da savana", bem como os rios possuem igualmente "um valor social e cultural significativo e possuem um potencial inexplorado para apoiar o desenvolvimento económico através de indústrias baseadas na natureza, como o ecoturismo".
Contudo, as condições na região encontram-se a mudar de forma rápida, abrangendo as "infra-estruturas fluviais propostas, como barragens e desvios de energia hidroeléctrica, a desflorestação persistente e uma concentração crescente da actividade humana ao longo dos principais rios e cursos de água, o que pode provocar tensões nos sistemas de água doce".