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Coca o F.S.M.: “O país quer evoluir na música e há mentalidades que estão a bloquear o caminho”

Nasceu em Luanda e cresceu lá fora, mas diz ser angolano com orgulho e apegado às suas raízes. Estudou música, uma paixão que sempre fez parte da sua vida. Produz vários estilos e afirma que faz “música para a alma”, intensa e genuína, como um reflexo da sua própria vida. Funde música electrónica com outros estilos, e está envolvido em vários projectos musicais, entre eles o Afrologia, que descreve como “uma mistura de ideias revolucionárias na arte musical que não acaba”. Acredita na diversidade e na evolução musical, e no reconhecimento de artistas que fazem música com informação de qualidade. Coca o F.S.M. admite ainda que a música é a sua vida, e que apesar de todos os sonhos e projectos, o importante é ser feliz.

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Coca, primeiro fale-me um pouco sobre si… Onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância, que idade tem, os seus estudos…

Sou o Coca, nasci em Luanda nos anos 80... Infelizmente cresci fora de Angola, por causa de forças maiores… Mas sou um angolano orgulhoso das minhas raízes. Tenho muito orgulho do meu funje e do meu povo! Estudei música e desde muito cedo liguei-me muito ao conhecimento musical. Passei pelo conservatório e também tive aulas de jazz numa escola algo conceituada.

Quando e como surgiu o gosto pela música?

O gosto pela música, na verdade não consigo dizer exactamente quando nasceu, mas consigo dizer que sempre gostei dela. Acredito que como ser humano é um prazer indispensável. É o meu escape, o meu calmante. Parece que quase se torna físico.

Quem são as suas influências e os seus ídolos na música?

As minhas influências variam de John Coltrane a Erykah Badu. Viajo muito do velho para o novo. Na verdade, gosto de tudo que tenha alma... Não gosto muito do descartável.

O Soul é o seu estilo de eleição? Qual a sua influência nos variados estilos que produz?

Não gosto de me prender num estilo, por isso não gosto de me caracterizar. Acredito muito em deixar a alma tomar conta do meu físico, quando produzo, independentemente do estilo, mas sou muito “jazzy”. Faço música para a alma. Não sou exigente para a música. Gosto dela simples e com muita personalidade.

A sua poesia não é convencional, pois escreve exactamente como fala. Onde busca a sua inspiração?

Acredito que se a música for genuína num todo, há possibilidade de se tornar clássica. Quando escrevo não invento histórias... Falo de mim e daquilo que conheço. Sou jovem e vivo a vida ao máximo, e a minha curta experiência não é boring, é intensa.

De todos os temas que já escreveu, qual é o mais especial para si e porquê?

Não tenho filhos preferidos. Cada um destaca-se dependendo do momento. Faço música todos os dias, e cada dia surpreendo-me, mas nunca me esqueço das músicas que me trouxeram para aqui. Gosto muito delas todas, e na verdade há muitas que não ouço a anos, o que é bem estranho… (risos)

É considerado um dos pioneiros quando se fala na fusão da música electrónica com o afro-beat, o break-beat, o jazz, o neo-soul e até o hip-hop. O que o levou a esta aposta? E como se sente por ser um dos responsáveis por esta fusão inovadora de estilos?

Na verdade são alguns dos estilos que ouço e torna-se muito fácil mistura-los de forma intuitiva. Nada me leva a planear fazer, ou produzir uma música. É algo que nasce naturalmente, e ainda bem que aqui me sinto responsável por um movimento ou estilo, que de certa forma abre mentes, muda perspectivas, faz com que as pessoas não identifiquem tipos de música, deixem de estereotipar o que é simplesmente música. Angola e a música lusófona tem muito caminho para frente. Ok vamos respeitar o que já foi feito, mas há algo enorme e ainda sem nome a ser feito.

Entre os vários projectos musicais que esteve envolvido, o Afrologia destaca-se pela inovação na criação das músicas, e pela sonoridade envolvente que criam em palco, ao misturar elementos acústicos com electrónicos. Pode falar-me um pouco mais sobre este projecto?

Afrologia foi criado por mim e pelo meu Irmão Tuka A.K.A Soulbreakexxtra que também é produtor, para juntarmos ideias musicais e também juntarmos amigos músicos numa só forma. O projecto é um projecto ao vivo que nunca tem fim. Muito brevemente é possível que estejamos num palco perto. É uma mistura de ideias um pouco revolucionárias na arte musical, um projecto de intervenção que não acaba. Estamos a pensar oferecer a primeira parte em forma de álbum pela nossa label 32TECLAS em 2017.

Neste momento em que projectos está envolvido?

Neste momento estou a trabalhar no INDIGO que é um projecto formado por mim e pelo Kiwla Santos, um artista que está também ligado ao Afrologia, e um amigo e colega de longa data. O álbum tem 13 faixas e está na fase de mistura e master, e deve estar nossas mãos em Novembro/ Dezembro, e vamos começar a nossa viagem de promoção no Rock In Rio Catumbela já no dia 7 de Outubro. Já temos o primeiro vídeo do single “Rapazes não choram” dirigido pelos manos Claver e também muito bem editado pelo Edvaldo António. Já está no Youtube e recomendo.

As dificuldades e a competitividade do meio artístico musical não passam ao lado de ninguém. Qual foi o momento mais difícil que ultrapassou, desde que iniciou a sua carreira?

Na verdade a parte mais difícil, e que eventualmente vai ser quebrada, são as mentalidades. Mentalidades estas que no futuro vão exigir diferença. Há que haver gostos para tudo. E tudo isto começa nas rádios, nos bares e até mesmo nos próprios artistas e nos produtores de eventos. Tem que haver diversidade. O país quer evoluir e estas mentalidades estão a bloquear o caminho.

E qual foi o momento mais gratificante?

Os momentos gratificantes são sempre que estou em palco com os meus amigos, as viagens, etc… Fazer música, novos “inputs”, novas ligações musicais, são sem dúvida as coisas mais gratificantes.

Relativamente aos prémios confinados aos artistas do mundo da música, o que pensa sobre eles? Acha que são indispensáveis para demonstrar o sucesso de uma carreira?

É importante que os trabalhos sejam reconhecidos, não pela quantidade de vezes que toca na rádio, mas pela qualidade de informação que a musica transmite. Muitas vezes os álbuns que ganham prémios são álbuns sem história, sem tronco nem cabeça...

Já foi premiado pelo seu trabalho? E ambiciona algum prémio em específico?

Ainda não, mas planeio começar a envolver-me mais directamente com o público e com a indústria. Não quero ser hipócrita, com certeza vai ser muito bom ganhar, quando ganhar.

Como vê o mundo da música em Angola? Há apoios para os nossos artistas?

O mundo da música em Angola é pequeno e estranho. É engraçado, porque existem grupinhos ligados a uma máquina. Fazem todos a mesma música, o mesmo ritmo, a mesma letra. O sub-mundo angolano é bem mais interessante, mas infelizmente os apoios são escassos.

O que é que a música representa para si na sua vida?

A minha vida gira à volta da música, ou o contrário. No trabalho, no carro e em Angola, a música ouve-se alto… É pena não termos mais lojas e diversidade musical nas rádios.

Por fim, quais os seus planos para o futuro? Novos projectos? Novos temas ou concertos?

Os meus planos é conseguir acabar os que comecei. Em termos musicais ainda este ano vem o álbum dos INDIGO, que para mim promete e recomendo! (risos) O resto é deixar a vida levar… O mais importante é ser feliz! 

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