"Temos ouvido apregoar que Angola é um país extremamente rico (...), mas ainda temos crianças a estudar debaixo de árvores, crianças a escrever com cadernos em cima das pernas", lamentou Hermínia do Nascimento.
A sindicalista alertou que a situação de "falta de financiamento sério [da educação] acontece, infelizmente", em todos os países de África.
Por sua vez, o secretário-geral da Confederação Sindical da Educação dos Países de Língua Portuguesa, Heleno Araújo, disse esta Terça-feira à Lusa que a educação no espaço lusófono não deve ser vista como lugar de competição, mas de solidariedade entre os povos.
O também presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação do Brasil falava à Lusa à margem da abertura do Fórum Internacional da Educação dos Países da Língua Portuguesa, que decorre em Bissau entre esta Terça e Sexta-feira.
O Fórum é co-organizado pela Confederação Sindical da Educação dos Países da Língua Portuguesa (CPLP-SE) e a Internacional da Educação, juntando, num hotel de Bissau, representantes de sindicatos de professores de países lusófonos.
Questionado sobre como se pode dar a volta à falta de financiamento dos Governos ao sector da educação, Heleno Araújo disse que o problema afecta "quase todos os países lusófonos" e que estes devem deixar de lado o espírito de competição entre si, adoptando a solidariedade.
O responsável afirmou que não se deve continuar a fazer avaliações com classificações: "Se tem primeiro lugar é porque tem o último. Isso é para competição, para desporto, que nós gostamos, mas na educação não, educação tem de ser equitativa, a educação tem de ser por igual, solidariedade, onde todos têm direitos iguais em todas as partes desse mundo".
O secretário-geral da Confederação Sindical da Educação dos Países de Língua Portuguesa observou que o problema também afecta o Brasil, mas que se poderia resolver com "uma auditoria séria" às dívidas que os Governos dizem ter com terceiros.
Heleno Araújo acredita que, sem os serviços da dívida, os países lusófonos teriam dinheiro suficiente para financiar os sectores da educação, saúde, habitação e outras necessidades da população.
O sindicalista afirmou ainda que Brasil e Portugal têm a responsabilidade de fazer mais em termos de solidariedade no sector da educação em relação aos restantes países da CPLP, a mesma solidariedade que disse devia ser estendida ao sector do ambiente.
O ministro da Educação, Ensino Superior e Investigação Científica da Guiné-Bissau, Henry Mané, felicitou os sindicatos da educação da CPLP pela realização do fórum em Bissau e aproveitou para assinalar a recente elevação do arquipélago dos Bijagós a Património Mundial Natural pela UNESCO.
O governante observou que, se a Guiné-Bissau explorar bem as potencialidades das ilhas Bijagós, terá recursos para financiar os sectores da educação e da saúde.
As resoluções do Fórum Internacional da Educação dos Países da Língua Portuguesa serão entregues aos chefes de Estado da organização que estarão reunidos em cimeira na Sexta-feira, também em Bissau.