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Angola, um gigante adormecido que procura o seu lugar na indústria do café

As plantações de café ainda perduram e se Angola retomasse hoje os níveis de produção de 1974 podiam render mais de 450 milhões de dólares em exportações anuais, ideia que leva empresários e Governo a tentar fazer ressurgir o gigante africano.

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A guerra civil que se seguiu à independência deixou campos ao abandono, muitos transformados em local de combate, e o país perdeu o quarto lugar entre os maiores produtores de café do mundo, então com quase 250 mil toneladas anuais.

Com o preço do café para exportação a dois dólares por quilograma e num país que tenta soltar-se da dependência do petróleo, que assegura normalmente mais de 70 por cento das receitas fiscais, o negócio tenta paulatinamente reerguer-se.

“Hoje muita dessa cultura do café perdeu-se um bocado. A mística que Angola tinha perdeu-se um bocadinho. A guerra devastou enormemente campos e hoje há que recuperar tudo novamente, é um caminho longo e dificílimo”, confessa à Lusa Carlos Carneiro, administrador da Sociedade Agropecuária de Angola, proprietária da maior fazenda de café do país.

Localizada no Calulo, Cuanza Sul, a 300 quilómetros de Luanda, a Fazenda Cabuta produz “num ano bom de chuva” até 400 toneladas de café. Já indicadores internacionais apontam que a produção total angolana se cifra actualmente em 2500 toneladas de café, embora os números oficiais de Angola apontem para cerca de 15.000 toneladas.

Com 780 mil pés de café numa área total de fazenda, secular, que chega a 25 mil hectares, é um exemplo dos efeitos da guerra civil, que terminou em 2002, tendo sido ocupada por forças da UNITA. Os pés de café ficaram, como por todo o país, mas as infra-estruturas foram destruídas e o povo, que trabalhava na produção, abandonou os terrenos.

É por isso que Carlos Carneiro, que está envolvido com outros empresários angolanos na criação de uma associação para representar toda a fileira do café, admite que a recuperação da produção não será tarefa fácil. Ainda assim é possível, até porque a matéria-prima e condições naturais como o solo, a geografia e o clima perduram.

“Esse potencial existe e além disso existe muito café que está plantado e que não está a ser colhido”, conta. Por outro lado, admite a necessidade de apoio do Estado, financeiro, para fazer voltar os camponeses à produção, reerguer as estruturas e recuperar as plantações.

Em grandes fazendas por todo o país, tal como a Cabuta, ainda é possível perceber o antigo funcionamento, com hospitais, escolas e igrejas no seu interior, envolvendo até o pequeno agricultor, externo, que entregava a sua produção de café na fazenda.

Actualmente, a Angonabeiro, empresa angolana do grupo português Nabeiro convidada em 2000 pelo Governo angolano para levantar a fileira do café, compra (e exporta) o da Fazenda Cabuta e de várias outras, mas é insuficiente para as necessidades.

Segundo o director-geral, José Carlos Beato, só em 2014 a Angonabeiro comprou 800 toneladas a cerca de 20.000 produtores de várias províncias, o maior registo de sempre. Apesar de “não ser fácil nem imediato”, diz que é possível o nosso país voltar a ascender aos lugares cimeiros da produção e exportação de café e defende também o apoio directo do Estado.

“Através de um subsídio ao café produzido, por exemplo. É uma forma que foi encontrada em muitos países, para tornar gerar competitividade. É uma possibilidade se facto se quer o regresso ao campo e à produção de café”, assume.

Cativar o interesse de grandes empresas internacionais especializadas para assumir a gestão das fazendas é também defendido por José Carlos Beato, recordando que no caso angolano há a vantagem de não ter de levantar uma fileira do zero, já que os pés de café subsistem.

De regresso à Cabuta, Moisés Domingos, de 45 anos, leva meia vida à frente da área de produção de café e chega a ter 600 pessoas a trabalhar ao mesmo tempo para assegurar as várias fases. Ali tudo se faz, desde a recolha do café à secagem e ao descasque, além da torrefacção e moagem.

“É muito trabalho, mas compensa. O café pode ser potencial de Angola e noutra hora já o foi”, recorda, orgulhoso, enquanto avança com os últimos preparativos para a época da apanha.

Naquela fazenda, que já está totalmente industrializada, o café pode levar três meses, desde a colheita à torrefacção e moagem, a pronto para ser consumido, com duas marcas próprias. Contudo, trata-se de um cenário ainda pouco comum em Angola.

José Caldeira, director da Fazenda Cabuta, garante que a actividade do café tem sido lucrativa e vem em crescendo, para orgulho dos trabalhadores locais, enquanto aguarda a exportação em força do café. “Porque é o sabor de Angola que vai por aí fora, para os outros países”, remata.

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