Érica Tavares, conselheira da EcoAngola, referia-se ao quadro de alta concentração de algas da espécie ‘Noctiluca scintillans’, que vem afectando a orla marítima da província de Luanda há pelo menos três meses.
Face à situação, o Governo criou um grupo multissectorial que integra representantes de várias instituições, para garantir uma abordagem integrada e eficaz para identificar a origem do fluído e implementar medidas necessárias para mitigar os impactos, tendo sido recolhidas amostras para análises, cujos resultados ainda se aguardam.
“O que temos que fazer neste momento é não criar comissões, mas equipas de trabalho. Temos o Instituto Nacional de Gestão Ambiental, temos o Ministério do Ambiente, o Ministério das Pescas, criar equipas que façam análises, que monitorizem e que possam lançar alertas que temos os nutrientes muito altos, que provavelmente isto vai acontecer, porque consegue-se projectar, prevenir isso e alertar a população”, disse Érica Tavares.
A EcoAngola e os Guardiões da Costa Mwangolé, duas organizações de defesa ambiental angolanas, divulgaram, Terça-feira, os resultados preliminares de uma investigação, que aponta para um aumento de algas da espécie ‘Noctiluca scintillans’, conhecida por causar florações bioluminescentes e deterioração da qualidade da água quando cresce excessivamente.
Segundo Érica Tavares, a denúncia do que estava a ocorrer chegou em Agosto e a 6 de Setembro foi enviada uma carta às autoridades a informar, com fotografias e relatos de pescadores e moradores locais sobre o que estava a acontecer e a solicitar que o Governo fizesse uma investigação.
“Não se recebeu uma resposta directa, viu-se apenas o comunicado partilhado pelos grupos de Whattsapp”, disse Érica Tavares, frisando que “publicou-se mais informação para se atrair atenção”.
“Não podemos esperar que os que erram vão se fiscalizar, então as organizações da sociedade civil precisam de organizar, precisam de fazer estudos independentes e estamos a precisar de fazer isso para que o Governo possa fazer melhor”, frisou.
“Aguardamos os resultados da comissão multissetorial e vamos depois comparar resultados e ver como é que podemos contribuir para prevenir que isso volte a acontecer”, acrescentou.
De acordo com a ambientalista, as algas são sazonais e o fenómeno tem acontecido todos os anos, com a diferença de que este ano a intensidade é maior, porque cada vez mais as águas residuais vão parar ao mar, sem tratamento, fazendo-se maior uso de químicos na agricultura.
“Quanto mais químicos - que chamamos nutrientes para os organismos - aumentam, mais essas algas vão se proliferar. Se nós não começarmos a ter leis, a monitorizar, a responsabilizar e simplesmente continuarmos a manter a forma como estamos a gerir as nossas águas residuais, entre outros, nos próximos anos isto há de piorar”, disse.
A conselheira da EcoAngola expressou preocupação com os relatos de pescadores, que dão conta que o peixe morto que veio dar à costa foi comercializado, considerando tratar-se de uma questão de saúde pública.