Ver Angola

Opinião A Opinião de Janísio Salomão

Como estará Angola a preparar-se para a alta de preços a nível mundial?

Janísio Salomão

Mestre em Administração de Empresas, Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas

A economia mundial está a ser fortemente afectada por um tsunami nos preços. Quando o bloco formado pela União Europeia (EU) e os Estados Unidos da América (EUA) aplicaram sanções, ninguém contava que as medidas tivessem um efeito boomerang nestas economias.

:

As sanções aplicadas aos produtos russos, a falta de escoamento da produção de cereais como: trigo, milho e óleo de girassol através do Mar Negro na Ucrânia, acabaram por criar um cocktail perfeito para a alta de preços que se verifica na economia mundial. Com o aditivo do alto custo do frete e do gás, os preços atingiram níveis nunca registado nas economias mais desenvolvidas.

De acordo o site The Economist (2022), o índice de preços ao consumidor da América (CPI) de Junho, subiu 9,1% em comparação com o ano anterior, sendo a taxa mais alta de quatro décadas e superou as previsões de um aumento de 8,8%.

Realça ainda a Agência que, os investidores foram apanhados de surpresa, situação que acabou por causar uma forte queda das acções.

De acordo o Gabinete de Estatística da União Europeia, Eurostat, a inflação na zona euro subiu para 8,9% e tem vindo a acelerar desde Junho de 2021, impulsionados pelos preços da energia, que teve um peso de 39,7%.

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) no seu mais recente comunicado (2022), destacou que a taxa de inflação ao consumidor (CPI) dos países que integram a organização acelerou para 10,3% em Junho, atingindo o maior patamar desde o ano de 1988. Os preços da energia registaram um aumento anual de 40,7% em Junho, registaram-se igualmente uma volatilidade nos preços dos alimentos atingiu uma taxa de 6,7% no mês de Junho.

As previsões do Banco Mundial (BM) sobre o comportamento dos preços não são nada animadoras. "Desde o seu pico em meados da década de 1970, a inflação global diminuiu acentuadamente. No entanto, a inflação aumentou em 2021-22 como resultado da recuperação da demanda global da pandemia e dos preços crescentes das commodities, especialmente desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. Enquanto a inflação subiu mais nas economias emergentes, na Europa e na Ásia Central, o aumento dos preços dos alimentos e da energia também aumentou acentuadamente na África Subsaariana".

O Instituto Nacional de Estatística de Angola (INE) publicou o comportamento do índice preço referente ao mês de Agosto. Enquanto o Índice Preços Grossista (IPG) do consumidor registou uma variação de 1,12% no período de Julho a Agosto, uma redução de 0,01 pontos percentuais. O Índice Preços do Consumidor Nacional (IPCN) registou uma variação de 0,76% de Julho Agosto, registando – se uma desaceleração de 0,05 pontos percentuais.

Pese, embora ambas tenham registado uma redução do período de Julho a Agosto, destaca o INE, que os preços dos produtos nacionais aumentaram 1,83% comparados com o mês de Julho, sendo a Secção A – Agricultura, Produção Animal, Caça e Silvicultura que maior aumento de preços registou com 1,88%.

Quando analisado as causas do aumento, se verifica que os produtos importados tiveram uma forte contribuição na inflação registada no período, sendo a sua contribuição de 0,67 pontos percentuais, ou seja, 60% enquanto os produtos nacionais, contribuíram com 40% do valor da inflação global.

Pese embora a inflação mensal, 1,12% (IPG) e 0,76% (IPCN), tenham uma tendência decrescente, os sinais, embora ténues, são visíveis, Angola já está e poderá ser fortemente afectada por uma "inflação importada".

Infelizmente, o pais continua excessivamente dependente de mercados externos, nomeadamente: Europa, Ásia, América e restantes países do continente africano.

Estes países, dos quais Angola importa mais de 80% dos bens de consumo, matéria-prima, e inputs agrícolas, são fortemente afectados por uma alta de preços actualmente. E, como consabido, quando os preços de bens ou serviços sobem, Angola sente por arrasto.

O Banco Mundial, deixou claro no seu relatório, que existem riscos para as economias que fazem parte da África Subsariana, nomeadamente:

  • As incertezas do conflito entre a Rússia e Ucrânia, podem levar ao aumento dos gastos com importações de alimentos;
  • Insegurança alimentar países que dependem de alimentos da Ucrânia e Rússia;
  • Alta dos preços dos fertilizantes, uma vez que fazem parte das despesas públicas de muitos países. O caso de Angola é uma realidade.
  • Seca, e outros eventos climáticos podem exercer uma forte pressão nos preços dos alimentos;
  • Irregularidades das chuvas e temperaturas acima da média podem agravar a situação;

Estará Angola preparada para fazer face a estes riscos? A Reserva Estratégica Alimentar (REA), continua a ser financiada pelo Governo Angolano. Até quando estarão os cofres cheios para continuar a financiar os preços baixos dos alimentos no mercado através da REA? Aonde irá o cinto suportar e a elasticidade aguentar? Um desafio, colocado para que o país, paute tanto pela diversificação da balança de exportação, dispersão do risco do consumidor/cliente e forte aposta na produção de fertilizantes e produtos agrícolas, que nos impelem a baixar a importação de alimentos nos níveis verificados actualmente.

 

Opinião de
Janísio Salomão

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.