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Opinião Os 5 em Angola

A experiência de sair à noite

Filipa Moita

Autora da página de Facebook Os 5 em Angola, que relata as experiências de uma família portuguesa de cinco elementos que imigrou para Angola.

Na passada sexta-feira, e ainda com os miúdos de férias em PT, decidimos ir jantar fora e aproveitar estes últimos dias a dois. Têm sido momentos divertidos na descoberta de sítios para comer a dois e de outros mais apropriados para levar as crianças. E foi assim, durante o nosso querido mês de Agosto em Luanda, sem as nossas crias, a trabalhar e a criar memórias de experiências gastronómicas.

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Desta vez, decidimos repetir um sítio que é do nosso agrado, quer pelo espaço, super bem decorado e bonito, quer pela comida, sempre bem confeccionada e de excelente qualidade. E nisso, o Oon.dah é fantástico, recomendo.

Fica situado no edifício Escom e possui parqueamento automóvel. Tem o lado negativo, o preço, mas ainda há pouco a fazer quanto a isso. Depois de muito pensar, decidi descrever a experiência desta noite porque deparei-me com uma realidade que ainda não tinha experienciado e que vale a pena ser contada pelo seu carácter único.

Voltando ao nosso local e ao nosso jantar, como sempre correu muito bem. O espaço estava cheio de pessoas bonitas “as usual” e foi muito agradável. Tivemos a companhia de um casal 5 estrelas e que entre histórias interessantes, fez com que o tempo passasse de forma agradável. Como queríamos continuar o convívio e a conversa, decidimos experimentar um dos sítios de referência da noite de Luanda.

Subimos ao piso superior e lá fomos nós, decididos a dar um pezinho de dança. À entrada, foi-nos pedido 5000 Akz por pessoa, o que dava direito a 2 bebidas. Bolas, é caro...ah espera! Estamos em Luanda.

Entrámos e confesso que o espaço em si me decepcionou um pouco pois tratava-se apenas de uma pista de dança pequena, com chão iluminado, rodeada de sofás e mesas. A música era boa e a cada nova batida, o nosso corpo mexia-se de forma quase involuntária. Estava ansiosa por dançar. Pedimos os nossos gins e dirigimo-nos para uma ponta do espaço, mais longe da música para tentarmos conversar. Já me tinha esquecido do quão difícil é conversar num sítio destes. De repente, dei conta que já há muitos anos que não entrava numa discoteca.

Passado um bocado, o espaço começou a encher. E vi realmente, quem frequentava este lugar, com características tão selectas. Confesso que abdiquei de dançar para observar as entradas das senhoras e jovens angolanas, impecavelmente bem vestidas para a night angolana. Da cabeça aos pés, vestidas de forma irrepreensível em que as marcas de topo imperavam em conjuntos ousados e de muito bom gosto. Nunca no mesmo espaço, encontrei peças de Cavalli, Channel, Prada, YSL ou Louboutin, entre outras, com tanta expressão. E os adereços também estavam muito bem representados. Outra coisa não seria de esperar. O dinheiro ajuda, eu sei, e muito! Mas o bom gosto também impera, sem dúvida.

E nunca vi tantas costas a descoberto em vestidos lindos. Costas e silhuetas lindas. Por breves momentos, pensei que estava num qualquer desfile de moda internacional, onde elas iam entrando num palco já montado e de uso frequente. Dava gosto observar e constatar a elegância do sexo feminino.

Mas eles também não ficavam atrás, nos seus fatos de corte impecável ou num casual de extremo bom gosto. Alguns muito difíceis de desviar o olhar pois eram deveras elegantes e muito sedutores.

A acompanhar o convívio animado, iam passando à minha frente, baldes e mais baldes de champagne em gelo, numa correria desenfreada, de um lado para o outro do espaço, dando trabalho aos empregados de mesa que já suavam, apesar do frio que ainda se fazia sentir.

Entre os desfiles de beleza misturados com inúmeras selfies de grupo, musicas com bom ritmo e o nosso Gin, passaram sem darmos conta 2 horas. A conversa animada ajudou imenso e de certa forma sentimo-nos bem ali. Estávamos no “nosso mundo” dentro daquele outro mundo e foi bom.

Eu já sabia que as mulheres angolanas se vestiam bem, pois elas no seu dia-a-dia, para o trabalho, esmeram-se na apresentação e acho que fazem bem. Temos de parecer e sentirmo-nos bonitas. No entanto, e analisando bem as coisas, se elas para trabalhar, se vestem como eu, quando vou a um casamento, devia ter previsto a indumentária delas para sair à noite! Além do mais (e isto admiro imenso) conseguem andar pelas complicadas ruas de Luanda, de saltos altos, com a maior das facilidades.

Mas esta saída à noite, neste ambiente, superou todas as minhas expectativas. E dei por mim a pensar que quando saio para jantar, tento aliar o confortável ao elegante, numa mistura ao meu gosto. Neste dia tinha optado por salto alto, calças de ganga, top branco e blazer. Depois deste quadro de exuberância, começo a pensar que estava vestida para ir às compras!

Os meus pés também já se queixavam e pediam para ir embora. Não estavam habituados a tamanha tortura. Pode ser que um dia, também consiga usar com facilidade saltos agulha e ainda dançar horas e horas seguidas.

Depois deste cenário tão exclusivo, bastou sairmos à rua para levarmos de frente com a realidade dura da vida, aqui para os “pequenos”. São aos grupos, os miúdos que nos esperam à saída do prédio, às 3h30 da manhã e nos chamam “madrinha”, só para lhes darmos dinheiro. O problema é o facto de usarem o dinheiro que lhes damos, para comprar saquinhos de bebidas alcoólicas, como whiskey, cujo pacotinho custa 50 Akz ou a garrafinha de 100 Akz. No meio disto, prefiro comprar comer e dar directamente aos miúdos, esperando que não deitem fora a comida, mal lhes volte costas. Já aconteceu.

Numa só noite, num só espaço, as diferentes realidades de Angola.

Esmagador...

Fiquem bem, Ya?

Opinião de
Filipa Moita

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