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Ainda acredito na Humanidade

Rose Palhares

Nasceu em Angola mas foi no Brasil que concretizou o sonho da moda. Designer de Moda há três anos, Rose Palhares já conquistou o troféu de Criadora do Ano 2013, Estilista Internacional 2015 e Melhor Traje Típico Africano no México. A sua assinatura? Vestidos de festa sob medida que ganham vida a partir dos tecidos africanos.

Costumo dizer que nascemos na década mais preciosa, nos famosos anos 80. A geração angolana dos anos 80 tem a faca e o queijo na mão, mas simplesmente não a sabe usar ou distraiu-se com a nova geração que consegue tudo aquilo que para nós só acontecia nos “states”.

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Considero a geração dos anos 80 sortuda por ter conhecido o melhor da nossa Luanda e a culpada por arranjar mil desculpas por não ter evitado toda esta tragédia. Será que foi porque nos privaram da guerra e por nos terem dado melhores condições? Posso também falar dos que não saíram da terra, é... talvez esses são também as vítimas.

Somos a geração de ouro, que tem ainda ensinamentos para passar mas simplesmente deixou se envelhecer pela rapidez da globalização, temos a bondade no coração pois vivemos no tempo em que vizinho era família, gatuno vivia na rua, música era educativa e dinheiro servia para nos facilitar e jamais nos definir.

Lembro-me que os sábados eram sagrados e sinónimo de família, nesses dias pontuais a família servia para aliviar a semana laboral e educar-nos, seja com gargalhadas, anedotas ou até com um jogo de sueca, que ai dos mais novos que se metessem.

Lembro me das idas a Cabo Ledo, Mussulo ou Corimba, ahhhh aí vivíamos para nós e não para os outros.

Lembram-se de quando a luz ia?? Nós simplesmente convivíamos...

O pai sempre foi ausente, mas cada um fazia a sua parte, o amor ao próximo era divino, a malícia era pecado e as crianças eram anjinhos. As mulheres? Eram de méritos, sim, digo isso pois sou uma. A mulher valorizava-se pois sabia o significado de amor próprio, mérito e conquista pessoal. Sou Mulher e prezo tudo isso... mas ainda assim, somos a geração que viveu essa transição, mas que se deixou estar.

Mas eu ainda tenho esperança na humanidade, confesso. Não vejo Homens a mudar Angola,  não imagino músicos a fazê-lo, nem tão pouco ricos monetários a fazê-lo. Vejo uma Mulher. A nossa Terra carece de carinho, que só as nossas mães souberam dar, de educação, que só os nossos professores com paciência e amor materno souberam dar, carece de justiça, que só as mães faziam porque eramos muitos primos e irmãos na mesma casa, e de um pouco mais da velha tradição. A nossa terra precisa de exemplos e líderes, de seres Humanos, que saibam desde o berço que ser não é ter e que para dar só precisa exemplificar.

Um dia, alguma geração irá entender que a nossa Mamã Angola só precisa de uma Mulher para ser a mãe que tanto lhe falta.

Chamo me Rose Palhares, sou Designer de Moda e aprendi na minha profissão que o acto do homem das cavernas usar uma pele de animal para se cobrir do frio servia também para mostrar, por Mérito próprio, o animal que matou com as próprias mãos.

 

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