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Advogado diz que condenação de cerca de 200 pessoas na Lunda Sul teve “razões políticas”

A defesa das cerca de 200 pessoas condenadas por rebelião na província da Lunda Sul considerou, esta Quinta-feira, que o processo teve “razões políticas" e não jurídicas e visou inibir o exercício das liberdades de manifestação na região.

: Paulo Novais/EPA
Paulo Novais/EPA  

"Tem sim algum cunho político, porque nos parece que a ideia é reprimir qualquer tentativa de quem tenta reclamar sobre a autonomia ou independência daquela zona, mas entendemos que a questão de fundo das reclamações daquela comunidade tem a ver com condições sociais, a pobreza", afirmou, esta Quinta-feira, o advogado Guilherme Neves.

Em declarações à Lusa, o presidente da Associação Mãos Livres, organização não-governamental angolana promotora dos direitos humanos e defensora dos 198 cidadãos condenados por rebelião e participação em motim, considerou tratar-se de um processo "meramente político".

Para a Mãos Livres, que recorreu da decisão, o Tribunal da Comarca de Saurimo não provou grande parte das acusações imputadas aos arguidos.

"Porque reclamar um direito não pode significar prisão", frisou Guilherme Neves, salientando que os cidadãos, à data dos factos (Outubro de 2023) não provaram qualquer motim.

"Entendemos que não houve motim algum, eles (efectivos da polícia) provocaram o motim e o povo em nenhum momento se rebelou. Era uma manifestação pacífica só que foi interpretada como uma rebelião", argumentou.

Independentemente de ser uma "comunidade abençoada" com recursos naturais, como diamantes, realçou o responsável, a pobreza extrema e a falta de oportunidades na região das lundas deram azo àquela "manifestação pacífica", insistiu.

Perto de 200 pessoas foram condenadas pelo Tribunal da Comarca de Saurimo com penas entre os dois e oito anos de prisão pelos crimes de associação criminosa, rebelião, participação em motim e desobediência, na sequência de tumultos registados em 2023.

São no total 198 arguidos condenados pelo referido tribunal, após estes participarem em tumultos registados nos dias 7 e 8 de Outubro de 2023, na cidade de Saurimo, província da Lunda Sul, leste de Angola, noticiou na Quarta-feira a Televisão Pública de Angola (TPA).

De acordo com o tribunal, ficou provado que os réus, com idades compreendidas entre os 18 e 78 anos, entre homens e mulheres, desobedeceram à ordem de dispersão da polícia nacional, marcharam até às imediações do palácio do governo provincial arremessando pedras, garrafas e paus contra os agentes da corporação.

Pelo menos três agentes da polícia ficaram feridos, na ocasião, e várias viaturas foram danificadas, como realçou o juiz, citado pela TPA, salientando que os autores eram membros do autodenominado Manifesto Jurídico Sociológico do Povo Lundês.

Este manifesto é liderado por Jota Malakito, que defende a autonomia da região da Lunda-Tchokwe em Angola, e tentou promover um acto de proclamação da autonomia deste território.

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