Cimeira EUA-África em Luanda: Um marco estratégico para o futuro económico de Angola e do continente
A realização da 17.ª edição da Cimeira de Negócios EUA-África, que decorreu em Luanda entre os dias 22 e 25 de Junho de 2025, representa um divisor de águas nas relações económicas entre Angola, o continente africano e os Estados Unidos da América. O evento, que reuniu líderes políticos, investidores, empresários e instituições multilaterais de ambos os lados do Atlântico, teve como objetivo reforçar o compromisso dos EUA com o desenvolvimento sustentável de África, através de investimentos estratégicos, parcerias público-privadas e financiamentos estruturantes.

Num momento em que a economia global enfrenta desafios geopolíticos, inflação persistente e necessidades urgentes de transição energética e digital, esta cimeira demonstrou que Angola e África estão no radar das grandes decisões globais. Luanda foi palco de uma nova visão: África não apenas como continente receptor de ajuda, mas como parceiro igual em negócios, inovação e crescimento económico.
*O que está em jogo: acordos concretos para um novo ciclo económico*
Durante a Cimeira, Angola foi um dos países mais beneficiados com memorandos de entendimento, contratos e intenções de investimento, nos sectores de energia, infraestruturas, finanças, tecnologia, agricultura e indústria transformadora.
Dentre os acordos mais relevantes para Angola, destacam-se:
- Anúncio dos EUA para o reforço do financiamento do Corredor do Lobito em mais de 5 mil milhões de Dólares;
- Grupo Mitrelli e empresa americana Hydro-Link, acordo no valor de 1,5 mil milhões de dólares, para construção da infraestrutura para o transporte da electricidade das centrais hidroeléctricas de Angola para RDC.
- Acordo de parceria do Fundo Soberano de Angola (FSDEA) e grupo israelita Mitrelli, para criação da plataforma de desenvolvimento e investimento do Corredor do Lobito, visando a mobilização de fundos no montante de mil milhões de dólares, para investimentos em projectos agrícolas, logísticos, de energia renovável, indústria, infraestruturas, saúde e inovação digital, ao longo do Corredor do Lobito, recebendo um capital inicial de 100 milhões de dólares, que será realizado em partes iguais pelas partes.
- Empresa americana Cybastion e Angola Telecom: Assinatura de um acordo para reforço da segurança digital de instituições públicas angolanas, com financiamento estimado em 170 milhões USD;
- Acordos em análise para financiamento de PME’s angolanas, com apoio do DFC (U.S. International Development Finance Corporation), que visa promover o empreendedorismo local e aumentar a competitividade no mercado regional.
Além disso, memorandos regionais foram celebrados para melhorar as infraestruturas de transporte, acesso à internet de banda larga e projectos agrícolas, com impacto directo na zona da SADC, na qual Angola exerce papel estratégico.
*Impacto para Angola: além do capital, transferência de know-how e inclusão produtiva*
Angola sai desta cimeira com mais do que promessas. Sai com compromissos firmados que podem transformar sectores chave da sua economia. A entrada de capital americano em áreas como energia limpa, logística e cibersegurança trará, necessariamente, transferência de tecnologia, capacitação de quadros nacionais, criação de empregos e modernização da economia.
Ao focar-se em infraestruturas resilientes e inclusão digital, os projectos agora acordados estão alinhados com o Plano Nacional de Desenvolvimento 2023-2027, bem como com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforçando o posicionamento de Angola como um hub estratégico para o investimento na África Austral.
Esta nova fase do relacionamento bilateral também cria condições para reverter o actual défice de diversificação da economia angolana, reduzindo a dependência do petróleo, apostando em sectores com maior valor acrescentado e integração produtiva nacional.
*África em foco: reconstrução de uma nova parceria com os EUA*
A Cimeira em Luanda não foi apenas sobre Angola. Foi sobre África. O compromisso renovado dos EUA com o continente, agora com uma abordagem centrada em parcerias de benefício mútuo, é uma clara resposta à crescente concorrência global no continente, principalmente da China, da União Europeia e dos países do Golfo.
Cerca de 35 delegações africanas estiveram presentes, incluindo líderes empresariais e ministros de Estado, o que demonstra que a cimeira não teve apenas um impacto bilateral, mas sim continental, servindo como plataforma para fortalecer laços comerciais, promover cadeias de valor regionais e atrair novos financiamentos para infraestruturas críticas.
*Um apelo à execução e transparência*
Embora o entusiasmo e os números anunciados sejam impressionantes, é fundamental que Angola assuma um compromisso interno com a boa governação, transparência na execução dos projectos e ambiente de negócios favorável. Investimento externo só se converte em progresso real quando há estabilidade política, segurança jurídica, eficiência institucional e combate activo à corrupção.
A Cimeira de Luanda é, sem dúvida, um marco histórico. Mas o seu legado dependerá da nossa capacidade de executar com qualidade, medir resultados e assegurar que os benefícios se estendam à sociedade angolana como um todo – especialmente aos jovens, mulheres, empresários locais e comunidades vulneráveis.
*Luanda como farol de uma nova era*
Com esta Cimeira, Luanda torna-se símbolo de uma África ambiciosa, preparada para negociar em pé de igualdade e comprometida com o seu próprio desenvolvimento. Cabe agora aos líderes angolanos e africanos transformarem as promessas em realidades, os acordos em progresso e a confiança internacional em prosperidade concreta.
O futuro já começou. E começou em Luanda.