"E nós necessitamos uns dos outros e sabemos que só ganhamos em tratarmo-nos bem uns aos outros, porque quem trate mal é maltratado, e sobretudo perde a oportunidade de tratar bem", acrescentou Marcelo Rebelo de Sousa, no Palácio de Belém, em Lisboa, tendo ao seu lado João Lourenço.
O Presidente da República, João Lourenço, iniciou esta Sexta-feira uma visita oficial a Portugal, numa altura em que estão em curso alterações ao regime jurídico de entrada de estrangeiros – que o Presidente da República português submeteu ao Tribunal Constitucional na Quinta-feira – e à lei da nacionalidade, promovidas pelo Governo PSD/CDS-PP chefiado por Luís Montenegro, que afectam os cidadãos dos países da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
Sobre os angolanos residentes em Portugal, o chefe de Estado português declarou: "Temos em Portugal uma enorme, querida, respeitada, fecunda comunidade angolana, muito estável, aumentando recentemente, e sendo sempre uma das três primeiras comunidades em Portugal".
Marcelo Rebelo de Sousa destacou o contributo dessa comunidade "de mais de pelo menos 80 mil irmãos angolanos, em todas as áreas da actividade", e em particular no sector social, "no domínio das IPSS, das misericórdias, dos cuidados formais e informais".
A seguir, o Presidente português falou dos portugueses, "certamente acima de 100 mil", que vivem e trabalham em Angola, "com mais de 1250 empresas que fazem parte do tecido empresarial angolano".
"Significa que os nossos irmãos angolanos se sentem bem em Portugal e que os compatriotas portugueses se sentem bem em Angola", considerou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, que leva quase oito anos de convivência com João Lourenço como chefes de Estado de Portugal e de Angola, os dois "estiveram em permanente contacto", traduzindo a realidade das relações entre os respectivos povos.
"Fomos fiéis aos nossos povos", defendeu, dirigindo-se ao seu homólogo, a quem chamou de "ilustre amigo" e agradeceu pelo "clima que foi possível criar ao longo destes anos".
O chefe de Estado português apontou como "crucial" o encontro desta Sexta-feira do Presidente de Angola com Luís Montenegro (primeiro-ministro português), pelo que "houve e está a haver e que vai ser objecto de tratamento com o senhor primeiro-ministro de passos importantíssimos na cooperação económica, financeira, política, diplomática, social, educativa, cultural".
Por outro lado, realçou que "vai haver uma cimeira no fim do ano entre a União Europeia e a União Africana", com João Lourenço na presidência da União Africana e o anterior primeiro-ministro português, António Costa, na presidência do Conselho Europeu.
"Vejam as coincidências do mundo", comentou Marcelo Rebelo de Sousa, mencionando que foi "Portugal quem na Europa desencadeou a iniciativa das duas primeiras cimeiras entre a União Europeia e a União Africana".
No fim da sua intervenção, o Presidente português expressou o desejo de que o relacionamento entre os povos e estados de Angola e Portugal tenha "ainda mais futuro do que tem presente ou que teve passado".
"Sabemos que nos momentos cruciais, Angola conta com Portugal, como nós contámos, por exemplo, durante a 'troika', com Angola. Em momento da perda financeira, mesmo no sector financeiro bancário, veio o apoio angolano e nós não esquecemos isso", referiu.
João Lourenço, que é também o presidente em exercício da União Africana, chegou ao Palácio de Belém pelas 11h00 e foi recebido com honras militares no Pátio dos Bichos.
Depois, teve um encontro a sós com Marcelo Rebelo de Sousa, seguido de uma reunião alargada às respectivas delegações. No fim, os dois presidentes prestaram declarações à comunicação social, sem responder a perguntas.