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Opinião A Opinião de Janísio Salomão

Porque mereceu o Bispo Dom Afonso Nunes ser condecorado com o Prémio 'Paz e Desenvolvimento'?

Janísio Salomão

Mestre em Administração de Empresas, Consultor Empresarial e Técnico Oficial de Contas

O líder espiritual da Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo no Mundo (Os Tocoístas), Sua Santidade Bispo Dom Afonso Nunes, foi recentemente distinguido com o prestigiado Prémio na Classe "Paz e Desenvolvimento", atribuído pelo Presidente da República, João Lourenço. A distinção reconhece não apenas a sua dedicação à causa da paz nacional durante os anos mais turbulentos da história contemporânea de Angola, mas também o seu contributo inestimável para o progresso social e espiritual das comunidades tocoístas e da sociedade em geral.

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A notícia da condecoração despertou em muitos o desejo de revisitar o percurso deste homem oriundo do Município da Damba, Província do Uíge, Comuna do Nsoso, que, aos 35 anos, em plena guerra civil, ousou erguer a sua voz em nome da reconciliação nacional.

Voz profética pela paz

Num dos momentos mais marcantes da sua trajectória, Dom Afonso Nunes protagonizou uma intervenção histórica no Centro de Imprensa Aníbal de Melo, em 2001. Um ano antes da assinatura dos Acordos de Paz, dirigiu-se ao país com um discurso firme e profético: "Angola tem de alcançar a Paz". Num tempo em que as estradas estavam intransitáveis e a esperança rareava, clamou pelo fim do conflito armado, exortando os líderes à verdade, à transparência e ao perdão.

Num apelo comovente, afirmou que a paz não viria de potências estrangeiras, mas devia ser construída dentro de Angola, pelos próprios angolanos. "A paz não virá da América, nem da Itália, muito menos da extinta União Soviética. A paz está em Angola e é aqui onde devemos buscá-la".

Dom Afonso Nunes não ficou pelas palavras. Em 2001, apresentou à Assembleia Nacional um Plano Nacional de Paz, propondo que a conquista do poder se desse pela via pacífica, rejeitando a guerra e as armas como meios legítimos.

Arquitecto da reconciliação e do desenvolvimento

A sua acção transcende o domínio político, sendo igualmente notável no campo eclesiástico e comunitário. Como líder máximo da Igreja Tocoísta, desempenhou um papel central na reunificação da família tocoísta, fragmentada por 17 anos de divisões internas.

Durante o seu mandato, ergueu grandes obras que hoje são marcos do compromisso social da Igreja, como:

Catedral Universal TocoístaTemplo do Deus Vivo, com capacidade para mais de 25 mil fiéis;
Complexo Escolar Simão Gonçalves Tôco, uma das maiores escolas secundárias do distrito urbano do Kilamba Kiaxi;
Fundação Profeta Simão Gonçalves Tôco, dedicada a causas filantrópicas;
Instituto Superior Politécnico Tocoísta de Angola (ISPTA);
Rádio Tocoísta – A Voz da Esperança (89.1 FM);
Cozinhas comunitárias para combate à fome e apoio a famílias vulneráveis;
Infraestruturas eclesiásticas e missionárias padronizadas em várias províncias.

Presença no ecumenismo e na solidariedade social

Sua liderança também se projecta no diálogo interdenominacional e inter-religioso, sendo Dom Afonso Nunes reconhecido no seio do Conselho das Igrejas Cristãs em Angola (CICA), do Fórum Cristão Angolano (FCA), onde é co-fundador, e na Federação Inter-Religiosa para a Paz Mundial (FIRPM).

Na vertente social, é destaque pela distribuição de roupas, medicamentos, utensílios agrícolas e apoio alimentar a comunidades carenciadas em Angola e noutros países africanos.

Missão divina

Fiel ao legado do Profeta Simão Gonçalves Tôco, Dom Afonso Nunes considera sua missão um chamamento divino. Como afirmou o Profeta ao confiá-lo com a tarefa espiritual: "Em ti estarei como alguém que veste um fato-macaco".

Este reconhecimento nacional simboliza não apenas a reverência de um país a um dos seus filhos mais devotos, mas também o triunfo de uma espiritualidade comprometida com a justiça, a reconciliação e o desenvolvimento de Angola.

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