Testemunhas relataram à Human Rights Watch (HRW) que, na tarde de 22 de Fevereiro, pelo menos "três carrinhas de caixa aberta com dezenas de combatentes do M23 chegaram a vários pontos do bairro de Kasika, em Goma".
Nesse dia, sete pessoas foram executadas a oeste do quartel militar de Katindo, um antigo acampamento do exército congolês. Os corpos de outras 11 pessoas foram encontrados num estaleiro de construção perto do quartel.
A 23 de Fevereiro, os combatentes reuniram pessoas, nomeadamente para recrutamento forçado, e mataram três homens que tentavam escapar.
"O controlo brutal do M23 sobre Goma criou um clima de medo entre os que são vistos como aliados do Governo congolês", afirmou a investigadora sénior da HRW para a região dos Grandes Lagos, Clémentine de Montjoye.
Segundo a HRW, "a ausência de relatos de combates entre as partes envolvidas e a natureza dos ferimentos apontam para execuções deliberadas de detidos pelo M23, o que constitui crime de guerra".
Entre Fevereiro e Maio, a Organização Não-Governamental (ONG) entrevistou remotamente 22 pessoas, incluindo testemunhas das execuções, familiares das vítimas e profissionais de saúde.
Três profissionais de saúde afirmaram que foram recolhidos mais de 50 corpos da zona de Kasika entre 22 e 23 de Fevereiro, o que corresponde às informações fornecidas por residentes e outras fontes.
Os investigadores analisaram também reportagens da comunicação social, fotografias e vídeos enviados directamente por fontes ou encontrados nas redes sociais, tendo feito a geolocalização e verificação dos mesmos.
A 23 de Maio, a ONG contactou Lawrence Kanyuka, porta-voz da aliança do M23, a Alliance Fleuve Congo, mas não obteve resposta.
A HRW apela à responsabilização criminal dos comandantes e combatentes que ordenaram ou cometeram abusos.
Para a ONG, os confrontos no leste da RDCongo entre o M23, forças ruandesas, o exército congolês e grupos armados aliados têm exposto a população civil a crimes graves por todas as partes, incluindo execuções sumárias, violência sexual, deslocações forçadas e pilhagens.
Em Outubro de 2024, o procurador do Tribunal Penal Internacional anunciou que o seu gabinete iria retomar as investigações na RDCongo, país vizinho de Angola, com foco nos crimes cometidos em Kivu do Norte desde Janeiro de 2022.
A HRW defende que a investigação deve incluir as execuções de civis em Goma levadas a cabo pelo M23.
"O Governo do Ruanda, enquanto principal apoiante do M23, pode ser cúmplice dos crimes de guerra cometidos por este grupo armado", afirmou Clémentine de Montjoye.
"Os governos empenhados em negociar a paz entre as partes devem pressionar o Ruanda a cessar o apoio ao M23 e garantir que a justiça para os crimes graves seja uma prioridade", concluiu Montjoye.