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M’vula: “As nossas músicas focam os problemas das comunidades e são o reflexo do dia-a-dia do povo angolano”

Com quase nove anos de existência, continuam a partilhar o mesmo amor inato pela música. O pop e o rock funde-se na sonoridade criada pelo grupo, que denuncia a realidade do povo e as vivências dos seis membros nas suas músicas. Por dois anos consecutivos, foram distinguidos como a melhor banda africana de rock, nos Afrima Awards, e descrevem o presente como o momento mais gratificante, pelo feedback que têm recebido dos fãs. “Focus”, o novo álbum que surgiu no final do ano passado, “foi um desejo que se concretizou” para o grupo M’vula, que além de contribuir para o cenário musical do rock nacional, quer transmitir uma mensagem de paz e amor com o seu trabalho.

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Qual a história dos M’vula? Como surgiu o grupo? É composto por quem actualmente?

A nossa história tem início no ano de 2008 em Luanda, quando o destino fez com que Edson Avelino apresentasse o seu irmão Mauro Jorge Avelino, rapper Lil Jorge, a Paulo Albuquerque, guitarrista. Fruto dessa amizade, nasce a vontade de formar o projecto musical M’vula. Ambos sentiam a necessidade de contribuir para o cenário musical do rock angolano. A expressão M'vula ou N'vula é de origem africana e significa chuva ou tempestade, em várias línguas do continente africano.

M’vula é representado pelos membros Lil Jorge e MG nos vocais, Paulo Albuquerque e Hugo Domingos “Red Kimba” nas guitarras, Bruno Braz no baixo, Edson “Michel” Marques na bateria.

Como e quando surgiu o gosto pela música em cada um de vós?

O gosto pela música é algo inato, nasce connosco, depois vem a adolescência e a curiosidade artística desperta. Foi nessa fase das nossas vidas, que os mais diversos estilos musicais começaram a fluir verdadeiramente dentro de nós.

Quem são os vossos ídolos e as vossas influências?

As nossas influências são diferentes entre cada membro da banda, no entanto a nossa sonoridade assemelha-se a Body Count, Rage Against The Machine, Limp Bizkit, Metallica, Red Hot Chili Peppers, Raimundos, Charlie Brown Jr. e Sepultura, entre outras bandas.

Qual a vossa inspiração para criar as músicas? E qual a mensagem que pretendem passar?

A essência das nossas músicas, surge da energia da sociedade em que a banda está inserida, e da consequente vivência de cada elemento da banda, nas suas realidades. A linguagem musical é uma fusão entre dois elementos fundamentais, o rap e o rock, criando uma sonoridade poderosa e cativante.

As mensagens das nossas músicas focam os problemas que afetam as comunidades. São o reflexo do dia-a-dia do povo angolano, sempre com o objectivo de fortificar a paz e o amor.

Dos temas que já criaram qual é o que tem mais significado para vocês? Porquê?

Provavelmente o tema “Filhos Dessa Luta”, pois foi com esse tema que recebemos a nossa primeira distinção, nos Angola Music Awards 2015 como Melhor Produção Musical de 2015.

Foi algo muito especial para nós, até porque a mensagem do tema aborda o facto de estarmos todos no mesmo barco rumo ao futuro, onde a única forma de sobreviver é através da persistência, onde a união terá de vencer a indiferença, e onde a vida é digna de respeito. É por isso um tema dedicado a todos os filhos dessa luta.

O vosso mais recente single, “Tristezas e Alegrias”, foi lançado em Agosto de 2016. Como é que o público tem reagido ao vosso trabalho? O balanço é positivo?

O single “Tristezas e Alegrias” é um tema que marca o início duma nova fase para nós. Foi lançado em parceria com o aplicativo Kisom da Unitel, e acreditamos que isso despertou o interesse de alguns curiosos, que ouviram falar dos M´vula pela primeira vez, e muitas dessas pessoas são actualmente fãs. O balanço é muito positivo.

Foram a cabeça de cartaz do segundo dia da IV edição do festival Rock no Rio Catumbela 2016. Como foi a experiência? Superou as expectativas?

Foi a terceira vez que actuamos no Rock no Rio Catumbela, e a cada ano que passa a evolução faz-se sentir. É para nós um prazer imenso actuar naquele que consideramos ser um dos melhores festivais de África. O ano passado contou com a participação de músicos de todas as gerações vivas do nosso país, artistas com história na música angolana, e que proporcionaram a audição de géneros musicais para todos os gostos: semba, kizomba, kuduro, rock, hip hop, reggae, blues, jazz, world music, música electrónica…

Ficará para sempre nas nossas memórias, como um dos maiores eventos de rock realizados em Angola, onde a união fez a diferença e juntou todos em prol da arte.

Entre outros, conquistaram o troféu de melhor grupo africano de rock, nos Afrima Awards 2015 e 2016. O que sentiram com a atribuição dos prémios, e o que representaram essas vitórias para a banda?

Em 2015, foi uma enorme surpresa termos recebido um prémio internacional com o selo da União Africana. Foi a prova definitiva de que o nosso trabalho tem valor e qualidade, para elevar o nome de Angola. A distinção como “Best Artist in African Rock”, nos Afrima Awards 2015 com o tema "Volume 10", deu-nos muita confiança no futuro e mais exposição perante a comunicação social.

Em 2016 voltámos a ser nomeados nos Afrima Awards para Melhor Grupo de África e para Melhor Banda Rock de África, com o tema “Tristezas e Alegrias”, e estamos deslumbrados com o facto de pela segunda vez consecutiva termos recebido a distinção de melhor banda de rock do continente africano. É incrível! Estamos muito agradecidos e orgulhosos do nosso feito, pois sabemos que temos fãs leais e empenhados em apoiar-nos.

As dificuldades do meio artístico musical não passam ao lado de ninguém. Qual foi o momento mais difícil que ultrapassaram?

Em 2013 houve um momento complicado. Tínhamos finalizado as gravações do nosso EP ”Tempestade”, e a nossa vontade era mostrar M´vula a todas as pessoas. Assinámos o nosso primeiro contrato com uma editora e criámos muitas expectativas sobre o futuro, que acabaram por não se concretizar. Isso deixou marcas, mas superámos esse obstáculo e passámos a compreender que o que fazemos depende da nossa vontade. Sempre acreditámos no nosso valor, e sabemos que vale a pena persistir, pois essa é a nossa fé.

E qual foi o momento mais gratificante?

O momento mais gratificante é o presente. Hoje podemos sentir o carinho e a admiração dos nossos fãs, e sabemos que a nossa música é ouvida e inspira outras pessoas.

Como vêem o rock em Angola? Os angolanos são fãs desse género musical? E há apoios para os artistas?

O rock está a crescer em Angola. Muitos angolanos ouvem rock, mas não sabem que estão a ouvir rock, pois criou-se o estigma que rock é barulho, um preconceito que acreditamos estar a diminuir neste momento.

Os rockers apoiam-se uns aos outros, somos um movimento solidário e acreditamos que muito se poderá fazer no futuro, mas os apoios ainda são reduzidos.

Recentemente lançaram o vosso novo álbum intitulado “Focus”. Como foi a recepção do público ao vosso trabalho? Superou as expectativas?

O lançamento do álbum aconteceu dia 19 de Novembro na Praça da Independência. Foi mais um momento único, pois além da venda de CD’s e sessão de autógrafos, houve também duas actuações da banda durante o dia, de forma a brindar os nossos fãs.

O álbum “Focus” está a ter uma boa recepção da parte do público. Muitos aguardavam há bastante tempo, por isso foi um desejo que se concretizou. Enquanto uns ficam admirados com a qualidade do nosso trabalho, outros continuam sem perceber bem do que se trata, mas felizmente existe interesse. Sobre o futuro, o próximo passo será o lançamento do videoclipe do “Tristezas e Alegrias”.

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