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Estação histórica do comboio de Luanda serve para comércio e habitação

Um edifício centenário do centro de Luanda serve hoje, como vários na capital, para comércio e habitação, mas a sua função original ainda é recordada pelos moradores ou não fosse a histórica estação do comboio da Cidade Alta.

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Filha de um antigo electricista da empresa do Caminho de Ferro de Luanda (CFL), Teresa André Luís recordou à Lusa a história de uma linha que há meio século ligava ao centro da capital, com destaque para a estação da Cidade Alta, onde mora, e que a geração actual desconhece.

É que hoje já não resta qualquer vestígio dos carris que outrora, até 1958, ligavam à zona nobre da cidade.

"Passavam aqui comboios. Através da transferência de alguns funcionários que vieram de Malanje, então a direcção dos caminhos-de-ferro resolveu transferir para Luanda alguns dos seus funcionários e foram surgindo essas casas", explica Teresa.

As transformações que o antigo edifício da estação da Cidade Alta sofreu são visíveis, restando pouco mais do que a placa com o nome e alguns traços característicos do edifício ferroviário do tempo colonial português.

O resto é a ocupação das instalações, para pequenos comércios, onde se vende de tudo um pouco, bem como dos seus armazéns nos arredores, onde hoje já não há qualquer linha. De acordo com Maria Eduarda dos Santos, outra moradora, a estação, na Maianga, chama-se hoje bairro Constrói.

"Eu apenas sei que aqui foi uma estação dos caminhos-de-ferro pelo que a minha mãe contava. Era a estação do cinco, mas mais tarde deixou de ser caminhos-de-ferro e agora é Constrói, nome de uma antiga empresa que também trabalhava aqui", explicou.

No exterior da estação, uma rua de sentido único mas de muito movimento, a algumas centenas de metros do Palácio Presidencial, uma pequena placa metálica que sobreviveu ao tempo recorda, aos mais distraídos, a história do local: "Edifício da 1.ª Estação dos Caminhos-de-Ferro de Luanda, Património Histórico-Cultural, Despacho Publicado no Diário da República I série n.º 205 de 31.08.1981".

O edifício da estação e mais cinco armazéns preenchiam na época o espaço que hoje é o bairro Constrói e que ainda desperta curiosidade.

"É um local histórico porque às vezes vêm alunos da universidade, do ensino médio e alguns estrangeiros fazer aqui pesquisas, sobre como era o espaço antigamente. Deviam fazer mesmo uma espécie de museu, para preservar e continuar com a história, para os mais novos, em vez de ser lugar de habitação", desabafou Maria Eduarda dos Santos.

A actual linha do CFL liga Luanda à província de Malange, num percurso de 428 quilómetros reabilitado em 2011, após o fim da guerra civil, mas tudo começou em 1881, durante a ocupação colonial por Portugal.

Viviam então em Luanda 15.000 pessoas, entre os quais cerca de três mil portugueses, segundo os registos da altura.

O primeiro troço do comboio em Angola foi inaugurado a 31 de Outubro de 1888, através do então Caminho-de-Ferro de Ambaca, ligando Luanda à Funda, num percurso de 45 quilómetros. Chegaria a Malange, no interior norte de Angola, em 1909 (interrompido devido à guerra civil entre 1991 e 2011), para assegurar o transporte de passageiros e garantir o escoamento até ao porto da capital - e depois a exportação - da produção agrícola local, nomeadamente o café, mas também do ferro e manganés.

A primeira estação, no Bungo, junto à marginal de Luanda, ainda mantém hoje a traça original e chegou então a permitir a ligação à zona mais nobre da capital: a cidade alta.

Desconhecida das gerações mais novas, parte dessa linha - hoje sem rasto visível - cruzava o centro da cidade, ligando ainda à então Câmara Municipal de Luanda, com dois comboios diários, até ser desactivada em 1958, "quando a expansão urbanística tomou conta da cidade", recorda o livro publicado pelo CFL para assinalar os 127 anos, em 2015.

Só nesse ano, o CFL transportou cerca de 3,5 milhões de passageiros, mesmo sem a linha para fazer chegar o comboio à Cidade Alta.

Em 1973, os comboios de Luanda transportaram 946.066 passageiros.

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