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Opinião Angola, o país e a saúde

Saúde actual em Angola

Mónica Tavares

Mónica. Vinte e oito anos. Enfermeira. Portugal viu-a nascer, Angola obrigou-a a crescer. Como milhares de portugueses, fez as malas e cruzou o Atlântico. Por dinheiro? Não. Porque “trabalhar em saúde é querer ajudar”. E Angola precisa de ajuda.

Angola é caracterizada pela alegria do povo, pelo calor humano e pela riqueza dos pequenos paraísos que esta terra guarda… Quem vai embora recorda com saudades e quem cá está, gostava de poder ficar… A verdade é que nos últimos meses Angola tem mudado, todos os dias lemos ou ouvimos notícias que nos preocupam… E há uma que me preocupa especialmente, a saúde deste povo.

Rede Angola:

Com a situação que o país tem vindo a atravessar, todos nós podemos notar que as ruas não estão como outrora, que as cidades não parecem postais e que os jardins deram lugar ao acumular de lixo. Infelizmente para todos nós, o acumular de lixo e as águas estagnadas são as condições ideais para a proliferação dos mosquitos Anopheles gambiae e Aedes aegypti. Se o primeiro é um velho conhecido que há muito espalha Malária por Angola o segundo, embora menos vulgar, é também um motivo para a nossa preocupação. Este mosquito, o Aedes aegypti, pica apenas de dia e tem a capacidade de reproduzir 2500 ovos, durante os 40 dias de tempo de vida, é ainda capaz de transmitir quatro graves tipos de doenças e pelo menos uma delas tem, recentemente, ceifado muitas vidas, a febre amarela. Além desta, temos o Zika Vírus, a Dengue e a Chikungunya.

As quatro doenças que este mosquito pode transportar são distintas, ainda que em algumas delas os sintomas possam ser semelhantes, pelo menos no princípio. A doença que se desenvolve depende do vírus que está no mosquito. Evidentemente, nem todos os mosquitos da espécie estão infectados. Vamos abordar cada uma delas e perceber os seus sinais e sintomas.

Febre Amarela:

Os principais sintomas da febre amarela são: febre, dores nas costas, calafrios, dor de cabeça, náuseas e perda de apetite. Se a doença se agravar pode aparecer icterícia (aparência amarelada) e vómitos, bem como, hemorragias internas e das mucosas. O melhor tratamento para esta doença é a prevenção, tomando a vacina. Esta vacina deve ser tomada quer pelos habitantes das zonas onde há risco de doença, quer pelos viajantes estrangeiros, que devem tomar a vacina, pelo menos, 10 dias antes da viagem. A toma desta vacina era realizada de 10 em 10 anos, mas estudos avançados pela OMS, descrevem que apenas uma dose é suficiente para nos conferir protecção para toda a vida.

Vírus Zika:

Após a picada do mosquito, a doença pode ou não desenvolver-se. Os sintomas são febre, erupções avermelhadas em todo o corpo, conjuntivite (infecções nos olhos, algo que não acontece nas outras doenças), mau estar geral e artrite nas mãos e pés. Também podem acontecer, em alguns casos, diarreia e dor nos olhos. Os sintomas desaparecem em 5/7 dias e é uma doença que em adultos não tem consequências muito graves, a não ser no caso de mulheres grávidas, já que os efeitos podem ter consequências no feto. Embora não esteja cientificamente provado, a comunidade cientifica acredita que existe uma relação entre o Vírus Zika e a microcefalia, por causa do aumento verificado de recém nascidos com microcefalia nas áreas afectadas pelo vírus.

Dengue:

Esta doença, transmitida pelo mesmo mosquito, manifesta alguns sintomas muito semelhantes aos do Vírus Zika. No início aparecem febre e dores musculares. No entanto, no caso da Dengue a febre é muito alta e as dores nas articulações muito fortes, quase insuportáveis em alguns casos. Além destes sintomas temos ainda náuseas e vómitos, dores muito fortes de cabeça e uma dor localizada atrás dos globos oculares. Infelizmente a Dengue não tem cura, não tratamos a doença, mas os sintomas. Estudos científicos têm vindo a ser realizados no sentido de ser criada uma vacina para prevenir esta doença que ceifa inúmeras vidas, anualmente, mas ainda sem resultados.

Chikungunya:

As dores que aparecem na Chikungunya são consideradas insuportáveis. Curiosamente, o seu nome vem de uma palavra oriunda de um país africano (Tanzânia) que significa “dobrar-se de dor”. Os primeiros sintomas chegam entre três a sete dias após a picada. Além dessas terríveis dores nas articulações, também acontecem náuseas, febre alta e erupções cutâneas em forma de pequenas bolhas avermelhadas que vêem acompanhadas por comichão intensa.  A principal diferença para as anteriores, é que pode ocorrer hemorragia nasal.

Tratamento:

Embora existam avanços a nível da investigação para serem concebidas vacinas para prevenir estas doenças, infelizmente, a única vacina que existe é para a prevenção da febre amarela. Nos restantes casos, não temos uma cura para a doença, tratamos apenas os sintomas.

Quanto à Anopheles gambiae é a principal responsável pela transmissão da Malária, também conhecida por paludismo, impaludismo ou maleita. É uma doença infecciosa transmitida por mosquitos e provocada por protozoários parasitários do género Plasmodium. A doença é geralmente transmitida através da picada de uma fêmea infectada do mosquito Anopheles, a qual introduz no sistema circulatório do hospedeiro (o ser humano) os microorganismos presentes na sua saliva, os quais se depositam no fígado, onde maturam (amadurecem) e se reproduzem. A malária manifesta-se através de sintomas como febre, dores no corpo e dores de cabeça, que em casos graves podem progredir para coma ou morte. Embora ainda não exista uma vacina para prevenção da Malária, já existem tratamentos com anti-maláricos que são eficazes no combate à doença, desde que detectada inicialmente.

Todos nós sabemos que Angola é um país propicio à existência destes tipos de insectos e todos sabemos que eles matam silenciosamente, as nossas crianças, os nossos pais, os nossos irmãos... Portanto, é imperativo que em Angola ou em qualquer parte do Mundo, conheçamos os responsáveis pela transmissão da doença, os seus perigos, e como a podemos combater e devemos passar esta informação a todos os que nos rodeiam, porque pequenas mudanças podem fazer grande diferença. Nunca é demais salientar que as melhores medidas para combater estes mosquitos são: uso de redes mosquiteiras impregnados ou não com insecticidas, roupas que protejam pernas e braços, redes em portas e janelas, uso de repelentes, eliminação dos criadores dos mosquitos (vegetação excessiva), limpeza com a eliminação de todos os focos de lixo, eliminação de focos de águas paradas, tratamento da água, cobrir recipientes que acumulam água, guardar baldes e vasos vazios e de boca para baixo.

O pouco que cada um de nós possa fazer, pode fazer a diferença na nossa saúde. Protejam-se, previnam-se, vacinem-se e cuidem-se! Pela vossa saúde e pela dos que vos rodeiam!

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