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Covid-19: Governo avalia riscos económicos, mas não revê Orçamento para já

O Governo está a analisar os riscos económicos associados à epidemia de Covid-19, nomeadamente em termos de preço, produção e venda do petróleo, mas não vai rever para já o Orçamento Geral do Estado (OGE).

: Ampe Rogério
Ampe Rogério  

"Estamos a acompanhar de perto todos os desenvolvimentos, com cuidado e realismo, e esperamos que os impactos sejam os menores possíveis", afirmou a ministra das Finanças Vera Daves, no Sábado, em Luanda, durante um encontro com jornalistas.

A titular das Finanças realçou que a questão não se resume à ligação Angola-China (a China é o principal parceiro comercial de Angola) porque o impacto não se circunscreve aos países que têm uma relação mais directa com a China, mas "irá tocar várias economias devido à interdependência no que respeita ao fornecimento de bens e à movimentação de pessoas".

Segundo analistas do Standard Bank, as vendas da China, onde surgiu o surto do coronavírus, a Angola representavam 13,3 por cento das importações totais, e as vendas de petróleo angolano ao gigante asiático valiam quase 70 por cento do total.

Vera Daves admitiu que um cenário de menor crescimento económico "vai ter impacto na gestão do tesouro e da dívida pública", mas não adiantou detalhes sobre as medidas que o Governo vai adoptar para minimizar os riscos para a execução orçamental em 2020.

O director do Gabinete de Estudos e Estatísticas do Ministério das Finanças (MINFIN), Emílio Londa, adiantou que, além dos esforços financeiros adicionais necessários para prevenir e combater a epidemia, estão a ser analisados vários impactos negativos para o país, como a descida do preço do petróleo e o eventual aumento dos preços dos bens importados, assinalando que Angola é essencialmente um país importador.

Há também preocupações quanto à pressão da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) para reduzir a produção petrolífera, devido à maior dificuldade em vender petróleo a nível mundial.

Apontou ainda efeitos secundários decorrentes da queda da economia e das bolsas mundiais, mas a maior ou menor gravidade dos impactos vai depender da rapidez com que se regresse à normalidade.

O Governo vai também rever a sua programação económica para o período entre Fevereiro e Abril, incluindo indicadores como o Produto Interno Bruto (PIB), a inflação ou os câmbios, "o que seria feito com ou sem coronavírus", adiantou o mesmo responsável.

"Estamos numa fase de alguma incerteza", admitiu Emílio Londa, acrescentando que a reprogramação não implica necessariamente uma revisão do OGE.

"O OGE só é revisto quando as alterações nos pressupostos são relativamente grandes. Só depois desta análise toda e em função dos resultados é que o executivo vai concluir se é necessário ou não. Não se pode rever o Orçamento sempre que há um imprevisto", comentou.

O director da Unidade de Gestão da Dívida Pública do MINFIN, Walter Pacheco, complementou que o Covid-19 pode também trazer efeitos positivos nomeadamente a redução das taxas de juro, o que permitiria uma poupança de 392 milhões de dólares na dívida externa angolana.

Considerou que o preço do barril de petróleo deve ser avaliado segundo a média dos últimos meses e tendo em conta uma perspectiva da evolução dos preços nos próximos meses.

"Assumindo uma média de 50 a 52 dólares, a queda de tesouraria seria de cerca de 450 milhões de dólares, o que significaria um défice entre 60 a 90 milhões de dólares", disse Walter Pacheco.

Na Sexta-feira, o preço do barril de Brent, referência para os mercados internacionais, afundou 6 por cento cotando-se em torno dos 47 dólares no mercado de futuros de Londres devido à contracção da procura face à propagação do coronavírus.

O OGE para 2020 foi elaborado com base no preço médio do barril de petróleo de 55 dólares, uma produção média diária de um 1 milhão 436 mil e 900 barris e uma taxa de inflação de 25 por cento.

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