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Rui Quitadi: “É preciso que a sociedade apoie os artistas para que a arte cresça”

Nasceu no Uíge e foi para Luanda, ainda em criança, onde o gosto pela arte começou a florir. Influenciado pelo mestre Fernando Valentim, descobriu o seu próprio estilo, inspirado nas suas origens e no quotidiano. A sua participação numa exposição colectiva, sobre as vítimas das chuvas em Angola, foi a mais marcante da sua carreira, pela causa solidária que representou. Para Rui Quitadi, a arte “é uma ferramenta para despertar consciências”, que enriquece qualquer meio em que esteja inserida, e a adesão do público ao seu trabalho “é como a cereja no topo do bolo”. Aos 48 anos, promete dedicação à arte, sempre com muito trabalho, e admite que a sua maior ambição “será sempre aprender e crescer como artista”.

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Rui, fale-me um pouco de si... Onde nasceu e cresceu, que idade tem, o que estudou?

Eu nasci em Mucaba, província do Uíge, mas muito cedo, com oito anos de idade, fui viver para Luanda para poder ter um melhor acompanhamento estudantil. Sou segundo filho de oito irmãos, e na altura a minha mãe faleceu e foi uma forma de não sobrecarregar o meu pai a todos os níveis. Hoje tenho 47 anos, ensino base concluído em Angola e primeiro ano do curso de artes plásticas. Mas toda a formação cultural e artística foi feita em Portugal.

Como surgiu o seu vínculo com a arte? Quando começou a pintar?

O vínculo com a arte surgiu cedo, praticamente inocente, mas o gosto pela pintura já vivia no meu íntimo. Também cedo percebi que o segredo estava no berço familiar, e aí tudo foi acontecendo naturalmente, sensibilizado-me assim com a arte, mais ou menos desde os 14 anos de idade.

Muitos artistas seguem técnicas e movimentos artísticos de outros. Quem são as suas principais influências?

Verdade, e como se diz, antes de sermos educados fora é preciso educação interna, ou seja, de casa, que tem primeiro que ser consolidada. A minha principal influência foi a do mestre Fernando Caterca Valentim em Luanda, que me ajudou a ter as primeiras linhas mestras sobre as artes plásticas. E as influências internacionais seguiram-se, com o português Abílio Belo Marques e o espanhol Salvador Dali.

Como desenvolveu o seu estilo e quais são as suas inspirações?

O meu estilo surge logo quando o mestre Valentim me orienta sobre qual é a historia da arte, quais as nossas marcas quanto à origem e suas linhas mestras a seguir. As minhas inspirações não fogem muito à regra… Tem a ver com onde nasci, cresci, as minhas origens, o meu quotidiano, ou seja, tudo o que é palpável e tudo que vive e se movimenta no meu meio natural.

Qual a obra que mais gosta e que mais prazer lhe deu a criar? Porquê?

Quanto à obra que mais gosto… Para mim a obra de arte é como, na vida familiar, a relação de pais para filhos... Todos são amados de forma igual mas há sempre um predilecto… Para mim sem dúvidas é a intitulada “Origens”, tudo pela simbiose e significado que ela representa desde o meu nascimento, os meus pais, irmãos, educação, costumes, vivências e toda a caminhada e lutas que me acompanham até hoje.

Já expôs o seu trabalho tanto aqui em Angola como em vários países no estrangeiro. Alguma das exposições foi mais marcante para si?

De todas as minhas exposições, a mais marcante foi sem duvida a minha participação na exposição colectiva alusiva às vítimas das chuvas e cheias em Angola, de natureza solidária, tudo pela causa social que representou.

E como é a adesão do público angolano ao seu trabalho? E dos estrangeiros?

A adesão do público angolano é como a cereja no topo do bolo. É mais aderente talvez pela maior identidade cultural, mas a dos estrangeiros também tem tido muita influência e transmite-me uma motivação disciplinar e extra.

Aos 21 anos, já era membro da União Nacional dos Artistas Angolanos, e já contava com uma exposição em Luanda. Como foi o seu percurso até chegar aqui? Quais as principais dificuldades que enfrentou?

O meu percurso foi normal. As dificuldades sempre existiram, mas a vontade e a capacidade de superação, tanto no plano técnico como artístico, foram maiores, e as dificuldades ultrapassadas com vontade e dedicação pessoal.

A arte é um reflexo do contexto social, da época em que é criada. Como é que a sua arte faz essa caracterização dos tempos actuais, e de que forma reflecte o mundo em que vivemos?

A arte é sempre um veículo forte que ajuda, não só no contexto social como também influencia as vivências de cada ser social, independentemente dos seus costumes, raça ou credos.

Que reacções pretende despertar nas pessoas com o seu trabalho?

O meu trabalho tem uma essência natural, que se exprime pela vivência humana, social, e forma de vida, por isso, todas as pessoas que observam o meu trabalho rapidamente percebem o que eu quero transmitir. As minhas obras abrangem e retratam particularmente o quotidiano, e nisso tento despertar o amor à sociedade e ao próximo.

Como vê a cultura nos dias de hoje? Acha que a arte está a empobrecer, ou cumpre com o seu papel de reflectir a sociedade?

Penso que a arte em geral vai cumprindo os seus objectivos, mas é preciso que a sociedade em geral apoie os artistas para que a arte cresça e perdure, situação essa que nos dias de hoje não se verifica. O artista, como qualquer ser vivo, precisa de incentivo e apoio moral, e muitas vezes equilíbrio material para que seja promissor e fraterno.

Relativamente a prémios... Quantos e quais já ganhou? Ambiciona algum em especial?

No que diz respeito a prémios, tive uma menção honrosa do Hotel Sol Algarve, mas não ambiciono nenhum prémio em especial. Só prometo dedicação à arte, com muito trabalho. Só assim poderei aspirar por prémios ou sucesso artístico. Mas a minha maior ambição será sempre aprender e crescer como artista.

Por fim, o que é que a arte representa para si? É uma forma de expor os seus sentimentos e impressões do mundo ou é apenas um hobby?

Para mim a arte representa tudo o que se possa imaginar. A arte enriquece todo o meio ambiente no sentimento ou simplesmente para ser observada. É uma metáfora que deve ser encarada como uma ligação entre os povos. Nesse contexto, para mim não e apenas um hobby, mas sim uma ferramenta para despertar consciências em todo o panorama social.

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