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Opinião A opinião de...

A importância da produção do café para a manutenção das florestas no Amboim

Vicente Kimbamba

Engenheiro Agrónomo e Mestre em Gestão Ambiental pela Pan African University. Pesquisador científico, consultor agrónomo e membro da APROFAGRO

Embora seja originária da Etiópia, o Café tem uma relação histórica, social e económica com Angola, além de colocar-nos em destaque mundialmente na década de 1970, ela uniu diferentes grupos étnicos dentro do território nacional e manteve intacta por muitos anos as florestas. Atualmente, Angola já não figura na lista dos principais produtores de café, a guerra civil, a fuga de quadros e o êxodo rural são apontados como alguns dos fatores que levaram à queda de produção do café.

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Quando se fala de produção de café em Angola é praticamente impossível não falar sobre o Município do Amboim, este que foi um dos maiores produtores a nível nacional dado as condições edafoclimáticas favoráveis e empresas que na época dispunham de tecnologias que otimizavam a produção. Amboim continua sendo um tecido importante na cadeia de valor do café, mas dado a dificuldade de renovação dos cafezais, manejo, comércio, crédito e entre outros fatores, os produtores têm optado pelo milho, retirando então os cafezais e as árvores florestais culminando ao desmatamento permanente das florestas.

O desmatamento induzido pelo homem, como queimadas, monocultura, extração ilegal de madeira, etc., tem resultado na perda de nosso patrimônio biológico, da biodiversidade, o declínio da produção de café e consequentemente coloca em risco as condições edafoclimáticas que até então apresentam-se favoráveis para o cultivo do café sombreado. As florestas apresentam inúmeras vantagens, fornecimento de matéria orgânica para o solo, importância na cobertura do solo contra a erosão, ajudam na reciclagem de nutrientes, atuam na regulação do clima, garantem o equilíbrio ecológico e entre outros. Para o caso da região supracitada, é fundamental manter as florestas não só pelos benefícios levantados aqui, mas também pelo fato de que as florestas contribuem muito para a qualidade do café. E nessa região, a floresta e o café acabam sendo um “património” existe uma ligação histórica, então além de causar o desequilíbrio ambiental e outros problemas advindos do desmatamento estaria também a reduzir o potencial produtivo da cultura e dificultar o crescimento e solidificação da cadeia de valor do café.

É necessário e urgente olharmos atentamente nessas questões, pois a situação do Amboim pode ser semelhante às outras regiões com potencial produtivo de café, como é o caso por exemplo da Província do Uíge, K. Norte, Cabinda e Benguela. Se não levarmos em consideração, um dia iremos acordar sem florestas, sem condições edáficas e climáticas para a produção do café. Nesse caso, é fundamental incentivar, sensibilizar e direcionar políticas de créditos para dinamizar todas as fases da cadeia de valor de café o que automaticamente implicará na redução do desmatamento devido a necessidade do sombreamento para a cultura em destaque.

Em vista os argumentos apresentados, reflitamos as seguintes questões: tendo em vista a preferência do milho em relação ao café, como o governo e/ou entidades não governamentais irão mitigar essa situação? Qual é a razão dessa migração de cultura? Está a população do município do Amboim ciente das consequências causadas pelo desmatamento de floresta? Queremos de fato se impor no mercado internacional atingindo níveis de produção semelhante ou próximo da década de 1970?

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Vicente Kimbamba

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