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2024: Analistas antecipam ano desafiante e de agravamento das condições das famílias angolanas

Especialistas ouvidos pela Lusa prevêem que Angola terá em 2024 um ano “bastante desafiante” em termos políticos e económicos, o que vai agravar as condições das famílias angolanas.

: Ampe Rogério/Lusa
Ampe Rogério/Lusa  

O politólogo angolano David Sambongo antecipa tempos "bastante desafiantes" para o segundo ano do segundo mandato do Presidente João Lourenço, faltando apenas três anos para aplicar as políticas públicas consagradas no programa do Governo, sufragado nas eleições gerais de 2022, antes de o país ir a votos novamente.

João Lourenço, Presidente da República e do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), "deverá começar a pensar já num delfim para a sua eventual substituição no congresso de 2026", na antecâmara das eleições gerais de 2027, disse.

Em entrevista à Lusa, o especialista apontou a aprovação da última lei do pacote legislativo autárquico – Lei da Institucionalização das Autarquias – como outro desafio político para 2024, recordando as abordagens divergentes no parlamento sobre a temática.

Sambongo salienta que a referida lei vem estabelecer os critérios para a selecção dos municípios que vão às autarquias locais, considerando ser esta uma "matéria de muita fragmentação a nível da Assembleia Nacional".

A materialização ou implementação das autarquias locais, prosseguiu, "é também um desafio premente do ano 2024 para a governação angolana".

O politólogo elencou também a discussão da proposta de lei sobre a alteração da Divisão Política Administrativa de Angola como matéria que deve preencher igualmente os debates políticos em 2024.

As actuais condições das famílias angolanas, cada vez mais pobres, com salários desvalorizados e preços dos bens alimentares em níveis galopantes, vai continuar a constituir um "calcanhar de Aquiles" para a governação angolana no próximo ano, indicou Sambongo.

Um cenário corroborado pelo economista angolano Wilson Chimoco, que considera que as condições do país vão "continuar a agravar-se" em 2024, não vendo possibilidades de crescimento robusto e inclusivo da economia que reduzam as desigualdades e o desemprego.

Para o especialista, a taxa de desemprego em Angola deverá continuar acima dos 30 por cento em 2024 e o Orçamento Geral do Estado (OGE) "não terá espaço suficiente" para combater as desigualdades.

"(O OGE 2024) tão pouco terá recursos para executar programas que melhorem as condições de vida de mais de 50 por cento da população que vive em condições de pobreza multidimensional", disse Chimoco em declarações à Lusa.

Na sua projecção para o próximo ano, o economista disse haver indicações de que a taxa de inflação em 2024 se vai manter acima dos 20 por cento, "enquanto os salários deverão manter-se praticamente estagnados", o que "deverá reduzir o poder de compra das famílias".

Em relação aos mercados, o economista considerou ser expectável que as condições monetárias se agravem à medida que a taxa de câmbio continua a depreciar-se face ao dólar norte-americano.

Salientou, por outro lado, que a taxa de inflação deve continuar a acelerar e o acesso às divisas ficar mais dificultado, o que deverá "traduzir-se em mais desafios para o crescimento da economia".

Segundo Wilson Chimoco, a maior abertura da economia ao eixo ocidental poderá induzir reformas no sector financeiro e no sistema de justiça.

"Mas não me parece que seja suficiente para atrair e compensar a queda do investimento chinês na economia não petrolífera, que tem vindo a registar redução", argumentou.

E isso, assinalou ainda, "terá impactos significativos sobre o desempenho da economia não petrolífera e na capacidade de criação de novos empregos", rematou o economista angolano, também docente universitário.

O OGE 2024 fixa despesas e estima receitas globais avaliadas em 24,7 biliões de kwanzas, prevendo um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2,8 por cento.

Pelo menos 57,8 por cento do total da despesa deste OGE 2024, estimado em 14,3 biliões de kwanzas, será alocado ao serviço da dívida pública, interna e externa, como assumem as autoridades angolanas.

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