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Presidente da UNITA: “Angola não é, ainda, o país que sempre idealizei”

O presidente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Isaías Samakuva, diz não se rever no país construído em 40 anos de independência, alertando que ter paz envolve também dar respostas às necessidades da população.

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“A paz não é apenas o calar das armas. A paz real passa necessariamente pela satisfação das necessidades básicas dos cidadãos”, apontou o líder do maior partido da oposição angolana em entrevista à Lusa, a propósito do aniversário dos 40 anos da independência de Angola, deixando várias críticas implícitas à forma como o país tem sido governado.

“Angola não é, ainda, o país que sempre idealizei. Durante a guerra de libertação sempre sonhei com um país diferente do que temos hoje. Pensava que, com a independência, deixaria de me preocupar com questões com que ainda hoje me preocupo. Porém, mesmo assim, devo dizer, sem hesitar que os sacrifícios consentidos durante a guerra colonial valeram bem a pena”, aponta o dirigente da UNITA.

Isaías Samakuva recorda que a 11 de Novembro de 1975, aquando da proclamação da independência angolana (o MPLA em Luanda e a UNITA no Huambo) do regime colonial português, encontrava-se na então cidade de Silva Porto, hoje Cuíto, capital da província do Bié, onde trabalhava como fiscal na inspecção do trabalho.

“Na transição do dia 10 para 11 de Novembro celebrei com amigos a ascensão do meu país ao estatuto de independente na praça ladeada pelos edifícios do palácio do Governo do Bié, da Câmara Municipal e do Banco de Angola. O ambiente reinante nesse local e no país era um misto de alegria, de tensão e de incerteza”, recorda o dirigente e deputado, que sucedeu a Jonas Savimbi na liderança da UNITA, depois da sua morte em 2002.

Num balanço de 40 anos de independência, sempre com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) na liderança e 27 dos quais numa guerra civil entre os dois movimentos de libertação, Samakuva diz que “faltaram valores importantes” que teriam contribuído para “o esforço de erguer um país estável e próspero”.

“Destaco o sentimento de unidade nacional, o reconhecimento da diversidade de factores culturais, étnicos, regionais e raciais que compõem o tecido humano angolano, o respeito pela diferença e a cultura de diálogo. A ideia de que uns são melhores ou mais importantes do que os outros e de que há os que são os únicos representantes do povo angolano, por exemplo, conduziu-nos para desentendimentos que nos levaram a uma guerra que destruiu o país nos seus variados aspectos e sectores”, refere o líder do partido do ‘galo negro’.

Após a “emancipação política” com o 11 de Novembro de 1975, defende que o país entrou “por caminhos ínvios”, mas que ainda assim a independência nacional “foi uma conquista importante e com valor inquestionável”.

“Governar é, acima de tudo, servir. O cidadão deve ser o ponto de partida e de chegada de toda acção governativa”, defende o presidente da UNITA, sublinhando em simultâneo que a reconciliação nacional não pode ser “algo vago e abstracto”.

“A reconciliação nacional também é material”, aludindo igualmente aos casos de intolerância política que continuam a registar-se em Angola.

Com eleições gerais previstas para 2017 e a liderança na UNITA em processo de clarificação, Samakuva refere que o partido tem procurado juntar-se às outras forças políticas e à sociedade civil “na busca de soluções comuns para os problemas comuns”.

Nesse sentido, remata, desde que “mantendo identidade política e ideológica própria”, a UNITA “continuará aberta a trabalhar com todos os que buscam a mudança da situação que se vive no país, adoptando formatos e soluções que a situação recomendar”.

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