Como surgiu o Banco Alimentar Contra a Fome Angola e como se tem desenvolvido a sua actividade em território nacional?
Surgiu após o meu conhecimento da obra do comandante José Vaz Pinto, fundador do Banco Alimentar Contra a Fome em Portugal. Depois de o contactar comecei a envidar esforços, há mais de 14 anos, com o então bastonário da Ordem dos Advogados de Angola, Manuel Gonçalves, para adaptar os estatutos do Banco Alimentar à legislação angolana. Mais tarde, e pela amizade que me une à Albina Assis, convidei-a para ser presidente do Banco Alimentar Contra a Fome Angola. Com ela e mais 14 angolanos cheios de boa vontade o Banco Alimentar Contra a Fome Angola foi constituído em 2012. Uma instituição que tem como objectivo recolher bens alimentares junto da sociedade civil, com maior poder de compra e espírito solidário, através de duas campanhas anuais realizadas nas grandes superfícies comerciais. O objectivo é distribuir, depois, esses bens junto das associações protocoladas com o Banco Alimentar.
Quais as principais acções que promove e em que áreas?
A recolha e distribuição da comida angariada nas campanhas, assim como outras doações de entidades nacionais e internacionais.
Quantas campanhas de recolha de alimentos realizam por ano e em que locais?
Realizamos duas campanhas por ano nos estabelecimentos Gika, Maxi, Intermarket, Martal, Casa dos Frescos e Candando.
Quais os resultados obtidos na última recolha de alimentos? A quantidade de bens doados foi superior ou inferior relativamente à anterior angariação? Para quando está agendada a próxima recolha?
Na última campanha foram recolhidas seis toneladas de alimentos distribuídas da seguinte forma: Candando - 1,914 quilos; Kero Gika - 852 quilos; Maxi Morro Bento - 768 quilos; Kero Talatona - 700 quilos; Kero Morro Bento - 672 quilos; Maxi Maianga - 619 quilos; Intermarket - 245 quilos; Casa dos Frescos Talatona - 146 quilos; e Casa dos Frescos Vila Alice - 87 quilos.
A quantidade de bens angariados foi semelhante à da anterior campanha, registando-se alguma alteração no mix dos produtos doados. A próxima recolha de alimentos decorrerá nos dias 3 e 4 de Junho de 2017.
Nas acções que promove a instituição conta com a ajuda de muitos voluntários?
Infelizmente não. Vamos ter que criar motivações junto da sociedade civil que tanto contribui na altura das doações mas que, dificilmente, se engaja a acções de trabalho voluntário.
Na hora de ajudar, o povo angolano mostra-se solidário e contribui ou notam alguma relutância?
A maioria das pessoas adere desde que devidamente informadas sobre o que é o Banco Alimentar porque, por vezes, confundem o nosso organismo com uma instituição financeira. Além disso, mostrando a relação de bens que se entregam e a quem a maioria adere.
As angariações que organizam são suficientes para suprir as necessidades de todos os que recorrem ao Banco Alimentar?
Para o número actual de associações com quem temos protocolo e com uma boa gestão, dá um contributo muito grande para as necessidades do ano. No entanto, queremos chegar a mais instituições como o Beiral e outras. Mas, para isso, temos que aumentar o número de voluntários do Banco Alimentar e qualificá-los para melhor comunicarem com as pessoas que fazem as doações.
Desde o processo de angariação dos bens, que passos são dados até à entrega definitiva dos alimentos à população?
Tudo começa com a pesagem num centro de recepção das recolhas. Nas duas últimas campanhas, o centro de recepção funcionou no parque de estacionamento do Maxi Morro Bento. Ao longo de dois dias vão-se pesando as recolhas conseguidas por superfície comercial. Depois de pesadas, as doações são separadas por tipo de produto. Segue-se a distribuição desses bens de acordo com o número de utentes de cada associação e caracterização dos mesmos, como por exemplo, crianças de tenra idade (Boa Nova), jovens (Horizonte Azul, Arnaldo Jansen, Don Bosco, Divina Providência, etc.) ou os mais velhos (AASTI - Associação de Amizade e Solidariedade para com a Terceira Idade).
Como são escolhidas as instituições a quem são doados bens pelo Banco Alimentar Angola? Quais os critérios e requisitos que prevalecem nessa selecção?
São instituições com vários anos de existência, apoiadas pela Igreja Católica ou por grupos de pessoas reconhecidas, que têm cozinha e que transformam os alimentos doados em pratos de comida, com excepção da AASTI que tem as pessoas internas.
Que apoios recebe o Banco Alimentar Angola por parte de entidades privadas e estatais?
Temos um único apoio financeiro para as despesas das campanhas e de logística concedido pelo Banco de Fomento Angola. Para além disso, contamos com o apoio da agência Back nas acções de informação e divulgação junto dos media.
Além da recolha de alimentos, que outras acções tem a instituição realizado?
O Banco Alimentar tem desenvolvido duas outras acções. Uma delas consiste em visitas ao Hospital Pediátrico onde entregamos lanches e brinquedos. A outra é a Oficina de Leitura e Artes que, aos Sábados, no passeio da Samba, com o apoio da Lev'Arte, oferece uma actividade de leitura de histórias e contacto com os livros para as crianças da zona da Samba Rocha Pinto.
As novas instalações do Banco Alimentar já estão a funcionar?
Não, porque os apoios para a construção não se concretizaram. É um projecto que vai demorar mais algum tempo. Esperamos que em 2017 esta situação tenha alguma melhoria e que consigamos obter os apoios necessários.
Quais os próximos projectos do Banco Alimentar de Angola?
Criar um núcleo em Benguela e outro no Lubango.