Numa nota informativa, o Bureau Político do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) lamenta a morte, no Sábado, aos 99 anos, "de um dos grandes filhos de Angola, Sua Eminência Dom Alexandre Cardeal do Nascimento, arcebispo emérito de Luanda".
De acordo com o comunicado, a sua trajectória vocacional está associada à sua trajectória política de Angola sob domínio colonial, marcada pela luta de libertação nacional até à independência.
"Dom Alexandre Cardeal do Nascimento deixou o seu registo na luta de libertação nacional e na defesa da integridade e independência da República de Angola, causas que o levaram a sofrer por mais de uma vez a privação da liberdade", refere a nota.
Entre os seus feitos, o MPLA destaca a criação da Universidade Católica de Angola, a reabertura da Rádio Ecclesia, emissora católica angolana, e o retomar de várias infra-estruturas importantes de evangelização, conferindo maior abrangência à Igreja Católica.
Referência a nível nacional e internacional, realça a nota informativa, o cardeal Alexandre do Nascimento deixa uma vasta bibliografia, notabilizando-se entre os principais autores angolanos, "não restando dúvidas de que o povo angolano perde hoje um intrépido defensor das suas nobres causas".
"Neste momento de dor e luto para Angola", o MPLA augura que o "espírito patriótico expresso nas suas palavras e acções sirvam de inspiração a todos angolanos no exercício que deve ser conjunto de servir o povo e fazer Angola crescer".
O cardeal Alexandre do Nascimento, nascido a 1 de Março de 1925, era natural da província de Malanje, e foi ordenado sacerdote a 20 de Dezembro de 1952.
Licenciou-se em Filosofia e Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma e em Direito Civil pela Universidade de Lisboa.
Dedicou-se à docência em Luanda e foi redactor-chefe do jornal católico "O Apostolado" entre 1953 e 1956, tendo sido implicado em 1957 devido ao seu envolvimento na causa da liberdade do povo angolano no denominado "Processo dos Padres", desse modo foi forçado pelas autoridades coloniais portuguesas a fixar residência em Lisboa de onde regressou dez anos depois.
Em 1975, foi nomeado bispo de Malanje e em 1977 foi promovido arcebispo metropolitano do Lubango e chegou a ser sequestrado pelas então forças armadas da UNITA, partido da oposição, na província do Cunene, onde foi administrador apostólico da diocese de Ondjiva, sendo posto em liberdade após apelo do Papa João Paulo II.
A 5 de Janeiro de 1983 foi nomeado cardeal pelo Papa João Paulo II, com o título de Cardeal-Presbítero de São Marcos em Agro Laurentino.
Foi transferido para a Arquidiocese de Luanda em 1986, tendo renunciado ao governo pastoral da arquidiocese em 2001.