Ver Angola

Política

João Lourenço vê aprovada nova equipa para secretariado do Bureau Político

O novo presidente do MPLA, eleito Sábado num congresso extraordinário, viu esta Segunda-feira aprovadas as propostas dos nomes que apresentou para integrarem o Secretariado do Bureau Político do partido, indica um comunicado oficial.

Augusto Dias dos Santos:

A decisão resultou da quarta reunião Extraordinária do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), com João Lourenço a ver aprovados os dez nomes, dois deles de mulheres, para outros tantos cargos de secretários daquele órgão.

Como secretária para a Política de Quadros foi escolhida Luísa Damião, já eleita Sábado na reunião do Comité Central – que se seguiu ao congresso extraordinário – como vice-presidente do partido, e para a Política Social foi nomeada Iolanda dos Santos, tendo sido também recuperado o "histórico" Mário Pinto de Andrade para os Assuntos Políticos e Eleitorais.

Manuel Pedro Chaves ficou como secretário para as Relações Internacionais, Paulo Pombolo para a Informação, Diógenes de Oliveira para a Administração e Finanças, Salomão Xirimbimbi para a Política Económica, Jorge Dombolo para a Organização e Mobilização, Pedro Morais Neto para os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria e João Almeida Martins para a reforma do Estado, Administração Pública e Autarquias.

Na reunião desta Segunda-feira, presidida por João Lourenço, o Bureau Político, que se reuniu pela primeira vez após o VI Congresso Extraordinário do MPLA, saudou a eleição do novo líder do partido, manifestando-lhe o "apoio incondicional" para que, "com a força do passado e do presente, se possa melhorar o que está bem e corrigir o que está mal", frase utilizada na campanha eleitoral de 2017 e recuperada no conclave.

O Bureau Político também se congratulou com a eleição, pelo Comité Central, de Luísa Damião como vice-presidente do MPLA e de Álvaro Manuel de Boavida Neto como secretário-geral, bem como aprovou a proposta, também de João Lourenço, para a liderança do Grupo Parlamentar, que fica doravante nas mãos de Américo António Cuononoca.

Para a Mesa da Assembleia Nacional o Bureau Político do MPLA designou Emília Celestino Dias para primeira vice-presidente e Suzana Augusta de Melo para segunda vice-presidente. Como director de Gabinete do presidente do MPLA, o Bureau Político aprovou o nome de Adriano Meireles Patrocínio. 

Reginaldo Silva: recomposição da direcção é “ruptura substancial com passado”

A nova direcção do MPLA "aponta claramente para uma ruptura substancial com o passado", disse à agência Lusa o jornalista e analista angolano.

Questionado sobre os novos nomes que integram sobretudo o novo Secretariado do Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), sob proposta de João Lourenço, o analista disse que, ao surgirem personalidades quase desconhecidas, a aposta parece ser a de "democratizar o partido".

"A recomposição da direcção aponta, claramente e antes de mais, para uma ruptura substancial com o passado do partido no poder que, até ao último Sábado, teve na figura e no poder pessoal de José Eduardo dos Santos uma referência demasiado absorvente, para não dizer mesmo asfixiante, que condicionou fortemente a democratização interna do MPLA", sublinhou Reginaldo Silva.

O jornalista lembrou que foi com Eduardo dos Santos que se criou "um verdadeiro culto da personalidade", alimentado "mais por medos e receios do que propriamente por algum sentimento mais genuíno de admiração e mesmo respeito pela sua liderança".

"Mas, mais do que estar preocupado com o reforço dos seus poderes, penso que João Lourenço, até provas em contrário, parece-me estar mais apostado em democratizar internamente o MPLA, através do rejuvenescimento da sua direcção executiva, trazendo para a ribalta novas figuras que de facto nunca tiveram qualquer contacto com o poder ao mais alto nível", analisou.

Para Reginaldo Silva, o afastamento do Bureau Político de "praticamente todos os ‘maquisards’", com a excepção de João Ernesto dos Santos ("Liberdade"), é uma "referência política" que tem de merecer o necessário destaque, que vem confirmar a dinâmica renovadora e reformista que marcou o primeiro ano da sua liderança à frente do executivo.

Nesse primeiro ano, João Lourenço "surpreendeu tudo e todos" pelas medidas cirúrgicas que foi tomando, sobretudo por algumas delas terem posto em causa, em toda a linha, "a herança e os interesses do até então todo-poderoso Eduardo dos Santos", prosseguiu o analista.

"A certa altura, [Eduardo dos Santos] pensou que, com uma espécie de controlo remoto, poderia manter intacto, mesmo afastando-se da vida política activa, todo o seu poder e influência acumulados ao longo de 38 anos de poder", acrescentou.

Para Reginaldo Silva, antigo correspondente da imprensa portuguesa em Angola, o importante são os "novos rostos" descobertos por João Lourenço, em que o destaque vai para a nova vice-presidente do MPLA, Luísa Damião, uma antiga jornalista da ANGOP.

"[Os novos rostos] sabem que vão ter de se esforçar bastante para mostrarem o seu valor e, sobretudo, para não deixarem os seus créditos, ainda não firmados, por mãos alheias. Vão ter de dar o melhor de si, em condições políticas marcadas por uma maior abertura, para provarem que sabem e podem fazer muito melhor que os mais velhos e veteranos do MPLA que foram agora render. Sabem que o MPLA, internamente, vai continuar a ser um terreno onde as areias vão continuar a ser bastante movediças", sustentou.

O antigo jornalista do Jornal de Angola e correspondente, entre outros, do Jornal de Notícias e do Público, considerou também que este será um "forte estímulo que vai condicionar pela positiva o desempenho" dos novos membros do Bureau Político.

Questionado se, com a nova composição do Bureau Político, a ligação a Eduardo dos Santos fica definitivamente cortada, Reginaldo Silva disse ser ainda cedo para tentar adivinhar como o ex-Presidente de Angola e agora também ex-líder do MPLA se vai relacionar com a nova direcção do partido.

"Mas parece-me claro que João Lourenço vai assumir por inteiro, e com todas as consequências, a sua nova condição de líder do MPLA, não permitindo que, do exterior, movimentações de bastidores possam pôr em causa ou minar a sua liderança", observou.

"Mas continuo a pensar, mesmo depois do discurso feito Sábado no Congresso, que Eduardo dos Santos deixa a vida política activa com algum arrependimento por ter tomado uma tal decisão [deixar a presidência e a liderança do MPLA], o que facilitou bastante todo o processo de transição política e geracional, que agora está formalmente concluído e que, mais tarde ou mais cedo, iria ter lugar", referiu.

A transição, terminou Reginaldo Silva, foi um processo que o país "já há algum tempo estava a precisar como de pão para a boca", pois estava a ficar "demasiado evidente" que a gestão do anterior Presidente "tinha entrado em rota de colisão".

Permita anúncios no nosso site

×

Parece que está a utilizar um bloqueador de anúncios
Utilizamos a publicidade para podermos oferecer-lhe notícias diariamente.