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Opinião A opinião de...

A liderança não mora no cargo

Valdemar Vieira Dias

Profissional de Comunicação e Marketing Empresarial | CEO da Valmonteiro | Colunista

Há uma ideia teimosa que circula nas organizações: a de que para liderar é preciso ocupar um cargo. Como se o poder de inspirar, influenciar e transformar dependesse exclusivamente de quem assina. Mas a realidade mostra que, muitas vezes, a liderança nasce muito antes do cargo — e, em muitos casos, vive longe dele.

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Liderança é comportamento, não hierarquia. Quem lidera é quem mobiliza, quem escuta, quem age com propósito. Não é o título que define um líder, é a forma como ele se relaciona com os outros, como assume responsabilidades, como reage à pressão e, sobretudo, como se comunica. Em muitas empresas, os verdadeiros líderes não estão no topo do organograma. Estão na linha da frente, entre os colegas. São aqueles que acolhem os novos membros, que oferecem ajuda sem serem chamados, que têm a coragem de levantar temas difíceis quando ninguém quer falar.

“Liderança é comportamento, não hierarquia.”

O(A) caro(a) leitor(a) já observou que em quase todas as equipas há aquela pessoa a quem todos recorrem quando precisam de clareza ou apoio — mesmo que ela não tenha nenhum cargo formal? Isso é liderança informal, e é talvez a mais genuína. É ela que cria cultura, que molda comportamentos, que sustenta a equipa nos bastidores.


Lembro-me de um exemplo prático numa empresa de distribuição, aqui mesmo em Luanda. Um colaborador do armazém — sem qualquer função de chefia — identificou um padrão de falhas na logística e propôs uma solução simples. Resultado? Redução de 30% nos atrasos. Não esperou por autorização. Não usou o poder. Usou a observação e a proactividade. E isso, convenhamos, é liderar.

Do outro lado, há a armadilha do cargo vazio. Pessoas com cargos, mas sem influência. Com poder formal, mas sem autoridade moral. Gestores que impõem regras, mas não inspiram comportamentos. Chefias que têm medo do silêncio e preenchem tudo com ordens. Em empresas assim, o clima pesa, a motivação evapora e o talento sai pela porta.

Quantas empresas o(a) caro(a) leitor(a) conhece em que o(a) “chefe” é apenas uma figura decorativa, enquanto os verdadeiros líderes estão nos corredores, nas salas de reunião, nos grupos de WhatsApp?

É preciso rever os critérios de promoção, deixar de premiar apenas quem grita mais alto e começar a reconhecer quem constrói pontes, resolve conflitos e inspira pelo exemplo. A solução não passa apenas por formação — embora ela seja essencial. Passa também por escuta activa, feedback verdadeiro e coragem de admitir que nem todo gestor é, de facto, um líder.

No fundo, liderar é assumir o impacto que se tem, mesmo sem a designação oficial. É perguntar-se: “O que é que a minha presença provoca nas outras pessoas?” Porque liderar não é mandar. É influenciar com consciência. É comunicar com empatia. É actuar com intenção.

E por isso insisto: a liderança não mora no cargo. Mora na postura. Mora no compromisso. Mora na forma como se age quando ninguém está a ver. O cargo pode até abrir uma porta. Mas é a atitude que mantém o respeito.

“O cargo pode até abrir uma porta. Mas é a atitude que mantém o respeito.”

Numa Angola que está em processo de reinvenção empresarial, quem souber valorizar essa liderança silenciosa — que acontece nas pausas, nas entrelinhas e nos exemplos — terá sempre um passo à frente.

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Valdemar Vieira Dias

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