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Investidores brasileiros podem apoiar desenvolvimento do sector petroquímico em Angola

Um especialista em petróleo e gás defendeu que o sector petroquímico em Angola tem “enorme potencial” para os investidores brasileiros, que têm conhecimento e tecnologia para apoiar o desenvolvimento desta indústria no país.

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Em declarações à Lusa a propósito da visita do Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva a Angola, entre Sexta-feira e Sábado, Flávio Inocêncio considerou que mais do que no 'upstream' (produção) haverá interesse da parte do Brasil em desenvolver a cooperação no setor petroquímico com Angola, o segundo maior produtor de petróleo em África.

"Há três projectos de refinaria em Angola – Lobito, Cabinda e Soyo – e estes têm uma ligação para o setor petroquímico, isso também é uma forma de exportar valor agregado de petróleo e gás, aí vejo enorme potencial para o Brasil a nível de parcerias, porque tem 'know how' e tecnologia", destacou.

O analista de petrolíferos realçou que o Brasil tem muitas oportunidades internas a nível da produção, já que a petrolífera estatal brasileira, Petrobras, ao contrário da congénere, Sonangol, opera a maior parte das concessões petrolíferas do Brasil e está a produzir mais de dois milhões de barris só no pré-sal.

"Até agora, a Petrobras nunca procurou participar em concursos públicos para licitação de blocos petrolíferos de forma isolada", afirmou, a propósito da nova ronda de licitações que se preparam para Setembro para a exploração petrolífera das bacias terrestres do Baixo Congo e do Kwanza.

O especialista considera que Angola pode promover o sector petrolífero, oferecendo melhores condições financeiras aos investidores que licitam e incentivos fiscais, menos burocracia e problemas na emissão de licenças e flexibilizando as regras no conteúdo local que "acabam por afugentar investidores".

Mas, "Angola não pode fugir da realidade geológica e, por vezes, parece que as pessoas não entendem isso, pensam que é apenas um problema político, quando a realidade é que Angola tem reservas geológicas mito limitadas, sempre teve", sublinhou.

Flávio Inocêncio disse também que a Sonangol deveria ter melhores condições para produzir petróleo, pois a petrolífera estatal "nunca conseguiu produzir petróleo, de forma independente, de forma significativa", produzindo apenas cinco por cento do petróleo nacional.

"Isso é muito pouco para uma empresa que se diz petrolífera, mas tem sido essencialmente uma gestora de concessões petrolíferas", observou, alertando ainda para os "mitos" relacionados com a descarbonização e a transição energética.

"A Sonangol [que está a alargar as suas áreas de negócios para a energia solar] não é uma empresa de electricidade, quando se fala de energias renováveis estamos a falar de um modelo de negócio de electricidade. Angola não vai conseguir substituir as exportações de petróleo e gás por exportações de electricidade, até porque este negócio é essencialmente local e regional. Se calhar há empresas que podem ser criadas e fazer melhor este papel", assinalou, defendendo que estes aspetos deviam ser "repensados".

Para este responsável, as exportações de petróleo serão mais facilmente substituídas pelo agronegócio e pelo setor mineral, áreas que terão "um grande 'boom'" em Angola.

Por outro lado, a visita de Lula, que quer reatar os laços africanos, sobretudo com Angola, poderia ser um novo fôlego para a Biocom - Companhia de Bioenergia de Angola.

"Os brasileiros são muito bons nos biocombustíveis e isso poderá ser uma avenida para Angola também diversificar a exportação", salientou o analista.

A empresa, criada para desenvolver projectos de produção de açúcar, etanol e energia eléctrica em que participam a Sonangol, Odebrecht e o Estado através do Instituto de Gestão de Activos e Participações do Estado (IGAPE), está praticamente parada e tecnicamente falida.

Flávio Inocêncio abordou também as vantagens de Angola poder aderir aos BRICS, devido ao banco de desenvolvimento que se pretende criar, um tema que pode também estar na agenda dos dois presidentes.

O bloco, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, anunciou nesta Quinta-feira o alargamento a novos membros, como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Egipto, Irão e Etiópia que foram "convidados" a entrar.

O Presidente João Lourenço não foi à cimeira, que decorre na África do Sul, mas para o analista tal não significa desinteresse, mas sim uma forma hábil de manter a equidistância devido ao conflito na Ucrânia.

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