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Bruno Pegado: “É sempre importante ter alguém a torcer por nós dentro e fora das pistas”

Tem 34 anos e é o rosto da Pegado Motors e da primeira equipa angolana de carros buggy, a Pegado Racing Team Angola. A paixão pela velocidade surgiu em criança, e sonhou chegar até à Fórmula 1 mas nunca surgiu a oportunidade, e é no Campeonato Angolano de Rali/Raid 2016 que está a dar cartas, com o seu buggy made in Angola. Para o futuro, Bruno ambiciona ir mais longe, e ser o responsável por fabricar e assistir carros 100 por cento angolanos, tudo para enaltecer o desporto motorizado em Angola.

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Bruno, em primeiro lugar fale-me de si... Que idade tem, onde nasceu e cresceu, como foi a sua infância...

Tenho 34 anos de idade, nasci em Angola na província de Luanda. Sou do município da Ingombota, bairro dos Coqueiros, bairro que me viu nascer e crescer ate aos meus 15 anos de idade, altura em que deixei Angola, devido à fase triste de guerra que se viveu em Angola. Na altura, os meus pais notaram que o nosso futuro estava incerto, razão pela qual fomos enviados para o Zimbabwe.

A minha infância foi marcada pelo facto de ter sido asmático, longe das brincadeiras mais comuns dos rapazes na minha época, porque caía sempre em desmaios que me deixavam num estado de vida ou morte. Os meus pais viveram esta fase frequentemente comigo nos hospitais. Não tive a oportunidade de aprender a jogar futebol ou basquetebol enquanto miúdo, devido à minha doença, mas tinha jeito para trabalhos manuais, como criar coisas, por exemplo carros de lata, trotinetes, papagaios, entre outras criações que não exigiam esforços físicos.

Como surgiu o gosto pela velocidade?

Quando não se pode correr podemos sempre acelerar. (risos) Surgiu quando ganhei o meu primeiro jogo de consola, e me familiarizei com os jogos de carros e velocidade, que faziam parte dos meus jogos favoritos. Depois veio a onda Airton Senna, já eu queria ser piloto de Fórmula 1, infelizmente um sonho que não se iria realizar, mas não tirou a ambição de ser sempre bom em jogos de velocidade. Fui crescendo com isto, tive a oportunidade de assistir várias corridas de karting em Luanda, antigamente disputadas no largo do Kinaxixi nos anos 80/90, mais uma pitada da F1 que tornava-se cada vez mais popular em Angola nos anos 90. Quando saí de Angola tive várias experiências no karting internacional e foi a combinação perfeita. Hoje tenho um simulador de corridas em casa, onde desde 2013 estou entre os 50 mais no mundo, razão pela qual queria viver esta experiência na realidade. Não foi nos kartings, nem na F1, mas está a ser no Campeonato Angolano de Rali/Raid 2016, onde estou actualmente em terceiro lugar na classificação geral.

O Bruno é o rosto da Pegado Motors e da primeira equipa angolana de carros buggy 4x4 no país, Pegado Racing Team. Fale-me um pouco sobre estes projectos.

A Pegado Motors é um sonho realizado, não importa a nossa realidade. O que importa é que é uma realidade que veio para ficar. Pegado é uma homenagem ao meu falecido pai. Eu gostava muito dele, eu era apegado a ele. Foi a forma que encontrei de manter a sua memória e nome vivo, vivo a cada dia que passa com mais saudades dele…

A marca Pegado acaba também por ser cultura. Todos os modelos Pegado são baptizados com nomes da nossa cultura tradicional, simbologias e lugares. Foi uma forma que encontrei de representar Angola para o mundo, porque a marca Pegado irá longe, isto eu sei.

Ser o rosto e piloto da Pegado Racing Team surge na junção entre ter o carro a correr no campeonato, com alguém que já o conhece, e o realizar de um sonho em ser piloto.

O projecto está a marchar, no sentido de termos condições e oportunidade para montar uma fábrica em Angola, sendo que será a primeira em África. Estando em África, temos desertos e montanhas para conquistar, e eu acredito que lá chegaremos. Actualmente, contamos apenas com uma pequena unidade de montagem, sendo que os equipamentos chegam a Angola já 30 por cento montados, devido aos custos e o baixo capital que temos nesta fase. Mas para a frente é o caminho!

É também o responsável pela criação do primeiro veículo buggy montado em Angola. Como surgiu esta ideia?

Este é um projecto que ganhou força em 2007, quando fiz um estudo de viabilidade sobre o turismo em Angola. Com a visão que tenho idealizei passeios turísticos, actividades de lazer e radicais, em carros recreativos. Quando comecei a fazer pesquisas de mercado, estive quase seis meses a fazer avaliações, e vi que era possível montar um carro de raiz. Contactei ex-colegas universitários, que eram de origem asiática, e fui convidado a conhecer a indústria automóvel mais de perto. Daí foi só contratar os engenheiros certos, ter as fábricas certas, e fazer as parcerias necessárias, uma vez que não tinha um elevado capital financeiro disponível. Hoje tenho os carros no mercado, com acordos com os mercados do Canadá e Alemanha, como revendedores exclusivos por tempo acordado, por terem sido investidores destes países a apostarem no projecto nesta primeira fase, e têm direitos de venda como forma de reembolso dos valores investidos. Já para África e o resto do mundo tenho portas abertas para o futuro, que almejo ser promissor.

Em Maio deste ano, fez estreia absoluta no Campeonato Angolano de Rali/Raid (CARR), na classe E, com o primeiro veículo buggy montado em Angola, e apesar de pequenas avarias, acabou por ficar no excelente lugar mais baixo do pódio. Qual foi a sensação como estreante? Superou as suas expectativas ou ambicionava ainda mais?

Foi uma experiência única a minha primeira corrida. Não tinha experiência profissional nem conhecimento de inúmeras regras e tácticas de corrida em rally, e confiei apenas no carro e nas minhas qualidades individuais. Poderia ter feito mais e melhor se já as dominasse, mas para um estreante com a avaria que tive por erro mecânico nosso, e um carro made in Angola, correndo com marcas já conceituadas na modalidade, aquele terceiro lugar soube muito bem.

Como vê o desporto motorizado em Angola?

Já teve o seu pico alto, neste momento esta sendo morto aos poucos. Digo isto porque e inacreditável que os desportos motorizados em Angola, até à presente data, não tenham visibilidade televisiva, daí a falta de patrocínios e a não adesão da população, o que está a matar as equipas angolanas da modalidade. Ninguém sobrevive por muito tempo nesta modalidade com meios próprios.

O nosso caso Pegado Racing Team Angola torna-se diferente, porque é com estas participações que vamos melhorando os nossos carros, daí a importância de lá estarmos, para obter os resultados necessários, para avaliarmos o que será melhor para os nossos modelos. Já temos resultados muitos positivos, temos o nosso rollbar já com mais de 15 por cento de alterações.

Vejo que com os esforços necessários, podemos ter brevemente um campeonato só com carros da Pegado, e com os patrocínios necessários, para garantir a sobrevivência da modalidade na nossa categoria.

Sente o apoio dos angolanos quando corre? Até que ponto esse apoio é importante para si?

Quem fala a verdade não merece castigo. No princípio o que eu ouvi foram as dúvidas sobre o carro. Se haveria de aguentar as pancadas e os traçados que não são nada fáceis, porque estamos a falar em TT [todo o terreno]. Depois de fazer o Quilengues – Huíla, que é o traçado mais difícil do campeonato, e ter sido apoiado pela população local, sendo um desconhecido com um carro desconhecido, foi muito agradável. Espero conquistar mais admiradores nas futuras corridas, porque é sempre importante ter alguém a torcer por nós, dentro e fora das pistas.

Quantas vezes já subiu ao pódio e qual das vezes lhe deu mais gozo? Porquê?

Estamos no início do campeonato, sendo que até ao momento já foram realizadas três corridas, sendo que falhamos a primeira no Namibe, e completamos as outras duas, alcançando o terceiro e quarto lugares. Mas o pódio que me deu mais gozo foi fora de pista, na Filda, ao ganhar o prémio de melhor empresa privada de 2016.

Que medalha ou prémio gostaria de ganhar, e a que pódio gostaria de subir, mas ainda não o fez?

Todo piloto deseja sempre na sua carreira um primeiro lugar. Este ano estou a correr para melhorar o carro, e ganhar experiência profissional. Já para o próximo ano almejo este primeiro lugar.

Quais são os planos para o futuro do piloto Bruno Pegado?

Pretendo continuar a correr até onde der. Quero abrir uma escola de formação de pilotos, e dar o meu contributo para o engrandecimento da modalidade em Angola. Pegado Challenger é um projecto que será uma realidade em Angola, apenas com carros fabricados e assistidos por nós.

 

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