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Rafael Marques diz que PR deveria dar explicações ao país

O activista e jornalista Rafael Marques critica o Presidente da República, João Lourenço, por ainda não ter dado explicações ao país sobre a “crise de segurança pública” em Luanda e responsabiliza-o pela situação que se vive no país.

: Ampe Rogério/Lusa
Ampe Rogério/Lusa  

"Há dias ainda estava o Presidente a mostrar que tem o controlo da situação e que manda e pode e que decide quem será o seu sucessor, e que faz tudo. E agora estamos a ver que nem o Presidente da República, nem os membros do seu séquito, vêm a público explicar o que é que se está a passar no país", afirmou à agência Lusa Rafael Marques.

"A única pessoa que parece ter cabeça para pensar neste país é o Presidente, que não sabe governar e é extremamente incompetente e rodeou-se de pessoas tão incompetentes quanto ele e nada funciona neste país. Esta é a razão porque temos uma verdadeira crise de segurança pública neste momento em Luanda, em que, com actos básicos de vandalismo, foi possível isolar o centro de Luanda da cidade e transformar as áreas periurbanas, a periferia de Luanda, em zonas de vandalismo", afirmou.

A "crise de segurança pública", marcada por protestos violentos, coincidiu com a greve de operadores de táxis e as manifestações contra o aumento do custo de vida convocadas para Segunda, Terça-feira e esta Quarta-feira na capital.

Pelo menos cinco pessoas, entre as quais um oficial da polícia, morreram e 1214 foram detidas, na sequência dos protestos que começaram Segunda-feira em Luanda, segundo anunciou Terça-feira à noite o porta-voz do Comando Geral da Polícia de Angola, Mateus Rodrigues.

Rafael Marques critica ainda a falta de diálogo, considerando que Angola é "um país onde não há diálogo entre o Governo e a sociedade civil, e onde as pessoas cada vez mais nutrem um antagonismo, um antagonismo indisfarçável contra a beligerância do Presidente, contra o seu coração de pedra. O resultado só pode ser este".

O activista receia que a situação se possa agravar "porque agora as pessoas percebem as fragilidades do próprio regime".

"Fazem uns comunicados institucionais e ninguém sai à rua para acalmar a população. E neste momento Luanda está basicamente parada, está paralisada. A capital do país está paralisada. As lojas estiveram fechadas, os serviços públicos, tudo fechado. E mais, é um acto que basicamente parte de uma greve dos taxistas com todo o direito que lhes assistia, porque esta medida do Presidente foi totalmente irreflectida", salienta, referindo-se ao fim dos subsídios dos combustíveis sem que a decisão fosse acompanhada de medidas que mitigassem os seus efeitos.

Rafael Marques recorda que, no passado, alertou para esta situação.

"Estes aumentos [dos preços dos combustíveis] deveriam ser acompanhados da provisão de uma rede funcional de transportes públicos. O Presidente, nos últimos anos, gastou perto de 800 milhões de dólares a comprar autocarros para os transportes públicos e a maioria desses autocarros foram entregues a membros do MPLA, a empresas de pessoas associadas ao poder, que foram colocar em serviços privados, ou guardaram os autocarros, e centenas de autocarros foram mantidos em parques para as campanhas do MPLA", acusa.

O resultado, reforça, é que João Lourenço "não diminui a despesa pública, aumenta a despesa pública (...) e a pensar que o povo deve continuar a sofrer em silêncio porque ele tem um coração de pedra".

"E as pessoas estão fartas disso, quer dizer, ele está a provocar uma situação de rebelião contra o seu poder. Por causa dos seus actos de insensibilidade. Ele não sabe governar", reitera.

Rafael Marques acusa ainda João Lourenço de dispor dos dinheiros públicos "como se fossem da sua conta bancária pessoal".

"A governação só vai ao encontro dos seus caprichos pessoais. E não é assim que se governa um país. É só ver como ele faz: grande parte do dinheiro do país [vai] para actos de contratação simplificada e da adjudicação directa, em que ele não dá cavaco a ninguém, não explica nada a ninguém. Quer dizer, põe e dispõe dos recursos do Estado como se fossem da sua conta bancária pessoal. Basicamente, ele pensa mesmo que os recursos do Estado são recursos que estão no seu bolso", avalia.

Para Angola ser "um país funcional e acabar com esse modelo de desgovernação", importa "começar a pensar e a discutir a transição pós-Lourenço", defendeu.

Quanto ao papel da polícia nesta "crise de segurança pública", Rafael Marques aconselha João Lourenço a não pensar em resolver o problema pela via da violência.

"Porque pode ter o efeito boomerang", avisa.

Questionado quanto ao carácter inorgânico dos protestos e a dificuldade do MPLA em entabular o diálogo, Rafael Marques responde que o partido no poder "não tem que conversar com movimentos inorgânicos".

"O MPLA tem de conversar com a sociedade. E como o MPLA conversa com a sociedade? Através das suas instituições. Através da prestação de contas. Através da apresentação de políticas públicas efectivas", explica.

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