Luís Assis, responsável pela empresa Agreement, é um dos produtores que mostrou dúvidas quanto à certificação durante uma visita dos embaixadores europeus acreditados em Angola a duas províncias atravessadas pelo Corredor do Lobito (Huambo e Bié), na Quarta-feira.
O agricultor, que explora no Bié 400 hectares dedicados ao milho e feijão, planeia expandir a produção com mais 150 hectares de abacate, com vista à exportação.
"Uma das principais preocupações é precisamente a questão da certificação. Num futuro próximo vamos pretender exportar, a UE tem as suas exigências e viemos questionar como é que a UE nos pode apoiar na certificação dos produtos", disse à Lusa o agricultor, que tem um contrato com o grupo agro-industrial Carrinho, num encontro com a delegação europeia.
Em resposta, a embaixadora europeia, Rosário Bento Pais, sublinhou que "a fruta angolana, o abacate ou outra, não tem problemas de entrada na Europa", referindo-se à certificação já reconhecida no caso do abacate a ser exportado para os Países Baixos.
A responsável europeia apontou o desenvolvimento das plataformas de Cáala, que a União Europeia também vai co-financiar, indicando que a produção do abacate é uma das prioridades.
"Neste momento vai ser só o abacate enquanto fruta, mas no futuro queremos ter a cadeia de valor completa", afirmou.
O centro logístico da Cáala, localizado no município do Huambo, é uma das principais infra-estruturas associadas ao escoamento da produção agrícola na região centro de Angola.
A exportação de abacates a partir da região do Huambo será uma das primeiras experiências concretas no âmbito do Corredor do Lobito, infra-estrutura estratégica para a inserção de Angola nas rotas de comércio internacionais, ligando o Porto do Lobito na costa atlântica à República Democrática do Congo.
A plataforma da Cáala deverá facilitar a recepção, tratamento, conservação e transporte de produtos como o abacate com destino ao mercado externo, nomeadamente europeu, sendo a sua operacionalização considerada estratégica para a consolidação do Corredor do Lobito enquanto eixo da agro-indústria.
Segundo Rosário Bento Pais, a situação é distinta no caso dos produtos transformados — como compotas, salsichas, conservas ou bebidas — que requerem certificação sanitária e de qualidade.
"Dotámos um laboratório em Luanda com todos os apetrechos e máquinas para que sejam certificados. Esperamos que até ao final deste ano tudo fique a postos", indicou.
O laboratório, concebido para avaliar tanto produtos agro-industriais como carne (excepto peixe, que tem um laboratório específico), aguarda apenas a conclusão de aspectos técnicos e logísticos para poder receber a certificação internacional. "Estamos a trabalhar com o Governo, em particular com o Ministério da Agricultura, para que o processo seja concluído até ao final deste ano", adiantou.
Até ao momento, segundo a diplomata, ainda não foram formalizados pedidos concretos de exportação por parte de empresas angolanas do sector agro-industrial.
"Desde que haja capacidade de exportação, Angola pode exportar. Agora não tem, porque o mercado interno e regional ainda consegue absorver o que está a ser produzido", explicou.