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Activistas angolanas denunciam tentativa de fraude com crianças e pedido de donativos a Portugal

Duas activistas da sociedade civil angolana denunciaram esta Quinta-feira uma tentativa de fraude, envolvendo crianças, e que visava obter donativos de Portugal, tendo sido resgatados quatro menores a precisar de cuidados de saúde.

: Ampe Rogério/Lusa
Ampe Rogério/Lusa  

Laura Macedo e Maria Helena Pereira afirmaram que se deslocaram na Quarta-feira a uma zona da periferia de Luanda, acompanhando um jovem angolano, Hélder Silva, que estará alegadamente envolvido numa tentativa de fraude, através de uma igreja evangélica, situada em Olhão (Portugal).

Em causa está uma angariação de donativos para cerca de 200 crianças abandonadas e com problemas de saúde, que se encontrariam num barracão nos arredores de Luanda e cuja localização exacta os supostos benfeitores recusaram fornecer à estação televisiva SIC, que emitiu uma reportagem sobre o assunto.

Laura Macedo e Maria Helena Pereira, que acompanharam o jovem aperceberam-se, durante o percurso, que "as crianças haviam sido recolhidas momentaneamente das casas das suas famílias e colocadas num local para que pudessem fazer o vídeo" e constataram que "não existia qualquer barracão ou armazém onde estariam as 200 crianças".

Após a realização do vídeo, "as crianças voltaram para junto dos seus familiares onde habitam, não se encontrando nenhum órfão no processo", sublinham.

Nesta incursão, conseguiram, no entanto, resgatar, com o apoio do Instituto Nacional de Emergências Médicas de Angola (INEMA), quatro das crianças que apareciam na reportagem e que tinham necessidade de cuidados médicos urgentes.

"Essas quatro crianças foram encaminhadas para o hospital pediátrico por ambulâncias do INEMA sobre o nosso acompanhamento em conjunto com a Direcção Nacional de Saúde Pública, a Direcção Provincial do INEMA, e o Hospital Pediátrico David Bernardino", tendo sido uma rapariga de sexo feminino enviada para o Hospital do Prenda.

As crianças encontravam-se com as respectivas famílias nos bairros Cassaca 2 e Zango 3.

"Podemos afirmar que quatro das crianças estão a ser observadas nos hospitais já referidos sob tutela das autoridades sanitárias e acompanhadas por familiares directos", detalharam as activistas, num comunicado de imprensa.

Questionada pela Lusa, Laura Macedo, considerou que se tratou "de uma tentativa de fraude realizada em Portugal", já que não foi feito qualquer pedido de ajuda ou apelo junto das autoridades angolanas.

"As crianças são angolanas, nós somos angolanos, mas o apelo feito pelo sr. Hélder é para os portugueses, a fraude vem de Portugal, alegadamente de uma senhora que se chama Fátima que, segundo Hélder Silva, coordenou toda esta operação", disse Laura Macedo.

"A nossa percepção é que houve uma manipulação" no sentido de "montar esta encenação", acrescentou Helena Pereira.

Na nota de imprensa, Laura Macedo e Maria Helena Pereira criticaram a "contra-informação veiculada por vários organismos de comunicação social e redes sociais".

O "alarido" à volta do caso levou à "perda do rasto" do angolano envolvido, inviabilizando a localização e possível resgate para acompanhamento médico de outras crianças que possam existir, consideram as activistas.

"O sr. Hélder afirmou-nos que não há 200 crianças. A partir do momento em que sei que não existia nenhum barracão com as crianças aglomeradas, a minha preocupação não era saber onde o sr. Hélder fez as filmagens, era tentar pegar nas crianças, já que tínhamos inclusivamente o apoio do ministério da Saúde e levar as crianças para o hospital", realçou Laura Macedo.

Quanto às famílias são "muito vulneráveis", segundo Maria Helena Pereira, que adiantou que as crianças não estariam "a morrer de fome, mas têm carências vitamínicas" e baixo peso, bem como problemas de saúde, havendo mesmo uma criança que não anda.

"São famílias que não têm trabalho, vivem em casas de chapa e cartão", descreveu.

Laura Macedo adiantou também que, desde o início da pandemia, têm estado a apoiar, com colaboração do gabinete da ministra de Estado para a Área Social, Carolina Cerqueira, 8000 famílias com cestas básicas, muitas das quais afectadas pelo fecho dos mercados durante o estado de emergência.

Afirmou também que vê mais pessoas "a ir ao contentor do lixo".

Maria Helena Pereira acrescentou que, além de meninos de rua, começou também a ser abordada por adultos em busca de comida.

"Há, decididamente, mais fome na nossa cidade de Luanda, maior carência. As pessoas deixaram de ir vender no mercado, houve despedimentos, empresas que fecharam. Não há empresas que consigam estar três e quatro meses sem produzir e as pessoas vão para a rua. É este tipo de gente que tenho visto à porta do supermercado", declarou.

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