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Portugal e Angola tiveram lutas gémeas pela liberdade e pela independência, diz primeiro-ministro português

O primeiro-ministro português considerou esta Terça-feira que Portugal e Angola têm uma História comum por vezes dolorosa, mas com vários períodos em que estiveram do mesmo lado numa luta comum pela liberdade e pela independência contra o fascismo.

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Esta posição sobre a História foi defendida por António Costa no discurso que proferiu no início da sua visita às obras da Fortaleza de São Francisco do Penedo em Luanda - um monumento do século XVII, convertido pelo Estado Novo em casa de reclusão militar e que será o futuro Museu da Luta de Libertação.

A obra de reabilitação da fortaleza está a cargo da Mota-Engil e, como salientou o ministro da Cultura de Angola, Filipe Zau, este é um dos projectos que conta com o apoio da cooperação portuguesa.

De acordo com António Costa, Portugal e Angola tiveram há 49 anos um "processo de libertação gémea".

"O colonialismo durou vários séculos e nos seus últimos 48 anos [vigorou] através de uma ditadura fascista que oprimiu o povo português e continuou a oprimir todos os povos colonizados. A luta pela libertação nacional dos povos colonizados foi um contributo decisivo para a libertação de todos nós com o 25 de Abril de 1974. E o 25 de Abril acelerou claramente o sucesso das lutas pela libertação, conduzindo um ano depois às independências das antigas colónias", sustentou o líder do executivo português, num discurso muito aplaudido.

Para o primeiro-ministro, as lutas dos resistentes ao Estado Novo em Portugal e pela independência nas antigas colónias "foram gémeas", assinalando então que vários dos fundadores dos movimentos de libertação passaram pela Casa dos Estudantes do Império. E alguns deles foi em contacto com colegas estudantes em Lisboa que desenvolveram a sua consciência política.

A seguir, António Costa defendeu a tese de que a História "não se escolhe, assume-se e respeita-se, explica-se e estuda-se".

A Fortaleza de São Francisco do Penedo, segundo o líder do executivo português, representa em parte a evolução da História de Portugal desde o último quartel do século XVII até à actualidade.

"Começou por ser uma fortaleza contra tentativas de invasão de outras potências coloniais, foi depois uma instalação militar, um depósito de escravos, uma prisão militar e, finalmente, uma prisão para presos políticos anticolonialistas e antifascistas, angolanos e portugueses. Um dos presos que esteve cá há cerca de 60 anos foi Manuel Alegre, hoje conselheiro de Estado em Portugal e pai do embaixador [Francisco Alegre] que representa Portugal no Estado soberano e independente que é Angola", acentuou.

Por isso, António Costa concluiu que Portugal e Angola têm uma História comum, "por vezes dolorosa, mas em que estiveram do mesmo lado em vários momentos numa luta comum".

"Hoje, há um debate sobre como devemos assumir a História do passado e penso que devemos assumir a História em toda a sua dimensão, no que teve de trágico e no que teve de extraordinário. Os Descobrimentos e a navegação em nada são diminuídos pelo horror que foi o esclavagismo. Mas o brilhantismo do conhecimento científico que permitiu a Descoberta não pode fazer-nos esquecer a dimensão trágica que foi o esclavagismo", frisou.

António Costa foi ainda mais longe em defesa desta epistemologia histórica, salientando que "aqueles que lutaram contra o exército colonial português eram patriotas, como foram patriotas os soldados portugueses que ao serviço do Estado Português se bateram na Guiné, Moçambique e em Angola de acordo com o mandato que tinham de defender as colónias. E uma vez em paz todos os patriotas podem ser irmãos".

"Agora que estamos quase a assinalar 50 anos em liberdade e em democracia, 50 anos de paz e, no ano seguinte, 50 anos de independências, o que podemos dizer é que honramos toda a História que herdámos, compreendemos bem essa História e sabemos que o maior dever que temos perante essa História é sarar as feridas e construir sobre ela a amizade que nos assegurará muitos bons anos de fraternidade entre os nossos povos, com uma língua comum, um conhecimento comum e uma memória comum", acrescentou.

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