De um conjunto de trabalhos de artistas lusófonos leiloados esta Terça-feira, em Nova Iorque, pela Bonhams, uma pintura do artista Malangatana, relacionada com a independência de Moçambique, foi a obra mais cara, tendo sido vendida por quase nove mil dólares.
As obras dos artistas moçambicanos Malangatana, Bertina Lopes, Ernesto Shikhani e do angolano António Ole foram vendidas esta Terça-feira num leilão de Arte Moderna e Contemporânea Africana realizado em Nova Iorque, com participantes online e por telefone, com transmissão em directo pela internet.
A descolonização de países africanos foi o tema de dois trabalhos do conjunto de trabalhos lusófonos, do qual o mais caro foi uma pintura data de 1965, sem título, de Malangatana Valente Ngwenya (de Moçambique, 1936-2011), vendida por 8925 dólares, um valor que inclui impostos e comissão.
"Como a maioria das pinturas de Malangatana de meados dos anos 1960, esta obra retrata as preocupações e lutas de pessoas comuns enquanto o seu país natal, Moçambique, lutava pela independência de Portugal", lê-se na descrição elaborada pela leiloeira.
Segundo a Bonhams, Malangatana foi considerado "uma figura proeminente", que terá influenciado a "estética africanista" e que não escondia uma íntima ligação do seu trabalho com as condições sociopolíticas de Moçambique durante a luta pela independência, conquistada em 1975.
A pintura inscrita com a palavra "Untitled" (sem título) do artista angolano António Ole, nascido em 1951, foi leiloada por 5100 dólares, valor final.
A pintura a óleo "Sonho no Espaço" de Bertina Lopes (Moçambique, 1924-2012), foi o primeiro trabalho a ser vendido esta Terça-feira no leilão de 50 lotes da Bonhams, por 6375 dólares.
Já a "Libertação dos Povos Negros", pintura datada de 1974 de Ernesto Shikhani (moçambicano, 1934-2010), foi vendida por 4200 dólares, um valor que não reflecte ainda os impostos e comissão para a leiloeira.
"Na altura da execução deste quadro, acabava de ser negociado um cessar-fogo entre o partido moçambicano FRELIMO e Portugal, pondo fim a uma década de violência", lê-se na descrição da leiloeira.
"Este foi um momento crucial para o artista, finalmente livre das amarras da censura colonial", continua a descrição, depois de descrever um período da vida de Shikhani passado em Portugal, sob o olhar e censura da Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE).
A data da obra remete para a queda da ditadura portuguesa, em 25 de Abril de 1974.
Shikhani foi, à semelhança do seu compatriota Malangatana, parte de um grupo de artistas proeminentes, que "desempenhou um papel fundamental no alargamento da reciprocidade estética pela África, Europa e Estados Unidos", segundo a Bonhams.
A obra mais cara vendida no leilão ultrapassou os 150 mil dólares e foi a pintura "Zulu Girl with Cocks", do ano 1954, da artista Irma Stern, da África do Sul (1894-1966).
A pintura que retrata, de perfil, uma menina da tribo Zulu com galos, é, para a Bonhams, uma "explosão de energia extravagante que atribui extraordinária presença e poder ao jovem sujeito feminino".
O leilão contou com numerosos trabalhos do artista etíope Alexander Skunder Boghossian (1937–2003), entre os quais se destacaram "A Grande Laranja", vendida por mais de 95 mil dólares.