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Defesa

Angola é um dos países importantes para a cooperação em defesa no Atlântico Sul, diz investigadora

Brasil, na costa oriental sul-americana, e Angola, na costa ocidental africana, são nações importantes para a cooperação multilateral em matéria de defesa no Atlântico Sul e líderes nos seus respectivos continentes, declarou à Lusa a investigadora Nathaly Schutz.

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"Tanto Angola como o Brasil pertencem a organismos importantes de cooperação multilateral no Atlântico Sul, nomeadamente a ZOPACAS, que é a Zona de Paz e Cooperação no Atlântico Sul, e a CPLP, que é a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Embora a CPLP não tenha nascido com esse intuito de trabalhar com questões de defesa, ao longo dos anos acabou, por uma demanda dos próprios países, redimensionando esse papel", explicou à Lusa Nathaly Schutz durante a conferência "Atlântico Sul e os desafios de segurança no século XXI", realizada esta Terça-feira na Universidade Autónoma de Lisboa.

Segundo a especialista do Observatório das Relações Exteriores da Universidade Autónoma de Lisboa (OBSERVARE), o Brasil lidera quase de forma natural o Atlântico Sul, no que diz respeito ao continente americano, "mesmo que a Argentina seja um Estado importante, com uma Marinha relevante".

Para Schutz, se o Brasil "pudesse eleger uma liderança do lado africano para a cooperação seria Angola, pelo posicionamento estratégico, apesar da falta de investimento na Marinha".

Durante o painel "Cooperação África e Brasil no Atlântico Sul", Schutz frisou que, em Angola, a Marinha representa apenas um por cento das Forças Armadas e que está entre as nações que mais reduziram os gastos em defesa, particularmente desde 2022, sendo que o sector não é modernizado desde 2000.

Outra característica angolana, e dos países africanos no geral, é a existência de uma "preponderância histórica das forças terrestres, devido a todos os conflitos internos", acrescentou.

De acordo com a investigadora, o Estado angolano "reconhece que tem debilidades na política marítima, mas está a tentar reduzir esse problema e tem diversificado os seus fornecedores".

Segundo explicou, antes Angola fornecia-se pela URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) e posteriormente pela Rússia. Recentemente a base de fornecimento de armamentos é a China, Turquia e os Emirados Árabes Unidos.

Todavia, Angola sofre "muito com as oscilações do mercado internacional do preço do petróleo, que se reflectem na sua economia e, por consequência, também dificultam as suas capacidades de defesa".

"Em Angola, os gastos [com o exército] variam muito devido aos preços do petróleo e ao PIB [Produto Interno Bruto]", precisou.

Já o Brasil, de acordo com a investigadora Kamilla Rizzi, da Universidade Federal do Pampa e da Universidade Federal de Santa Maria, "tem uma posição importante na costa leste da América do Sul" e tem feito, de forma bilateral, cooperações "com os vizinhos africanos da costa oeste".

"Os exercícios militares conjuntos são exemplos da manutenção dessa cooperação, assim como formações e treinos nos dois lados do Atlântico Sul", exemplificou.

"Eu entendo que a ZOPACAS – que nasceu em 1986 no âmbito das Nações Unidas – é uma ferramenta que legitima o aprofundamento dessa cooperação, que, no meu entendimento, é necessária para a política de defesa do Brasil, para a América do Sul, mas para o Atlântico Sul também", frisou a especialista.

Na opinião de Schutz, ambos os países carecem de "instrumentos", nomeadamente para o seu papel de vigilância no Atlântico face a tráficos.

Como solução, a investigadora reiterou que o fortalecimento da cooperação multilateral, que tem sido feita, pode ser uma resposta, para que se "consiga alavancar a presença desses países no sistema internacional".

O Atlântico Sul vai do Senegal, nação vizinha da Guiné-Bissau, à África do Sul, no continente africano, e no americano abrange a Argentina, o Uruguai e o Brasil, sendo que a Antárctida também faz parte da concepção geográfica, explicou Schutz.

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