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Museu britânico aberto a colaborações para estudar património cultural angolano

O Museu Powell-Cotton, situado no sul de Inglaterra, está aberto a colaborações para estudar a vasta colecção de milhares de objectos culturais indígenas angolanos recolhidos no início do século XX por exploradores britânicos, disse esta Segunda-feira fonte da instituição.

: Via Atlasobscura
Via Atlasobscura  

"[O museu possui alguns] artefactos espirituais maravilhosos sobre os quais sabemos muito pouco e que precisam desesperadamente de conservação", disse à Lusa a directora das colecções, Mady Beardmore.

Estes incluem uma série de máscaras que faziam parte de cerimónias de iniciação masculina recolhidas no sul do país.

Além do trabalho de restauro físico, o museu "quer compreender a importância espiritual e a melhor forma de as tratar", disse.

A médio prazo, o museu gostaria de colaborar com membros da comunidade e com instituições culturais angolanas para reinterpretar a colecção, que terá cerca de cinco mil objectos, além de centenas de fotografias e filmes realizados durante viagens realizadas em 1936 e 1937.

"Disseram-me que possuímos a maior colecção de material angolano fora da própria Angola. Temos uma grande responsabilidade de tentar compreender bem essa colecção e de a tratar com respeito", afirmou a responsável à Lusa.

Consciente das discussões actuais sobre a proveniência do acervo de muitos museus ocidentais e de colecções privadas ao longo de décadas de colonização, Beardmore não exclui falar sobre a possibilidade de repatriação de peças.

"Estamos abertos a falar com as comunidades e a trabalhar com as pessoas para garantir que estas colecções sejam mais conhecidas no seu próprio país e estamos abertos a essas discussões", adiantou.

O Museu Powell-Cotton está situado numa propriedade histórica de dez hectares em Birchington, no sul de Inglaterra, a cerca de 110 quilómetros de Londres.

O acervo é composto sobretudo por objectos de África e da Ásia coleccionados pelo explorador e caçador Percy Powell-Cotton (1866-1940).

Além de milhares de animais selvagens embalsamados, a colecção do museu inclui objectos do quotidiano e cerimoniais de povos indígenas de diferentes países, incluindo jóias, vestuário, instrumentos musicais, ornamentos e utensílios feitos com materiais como a madeira ou barro.

A colecção de cultura material angolana foi sobretudo o resultado de duas viagens das filhas de Powell-Cotton, Diana e Antoinette, em 1936 e 1937, nas quais recolheram quase cinco mil objectos.

Diários detalhados da época descrevem não só os nomes dos objectos na fonética original, como o preço pelos quais foram comprados a nativos através de ajudantes contratados de propósito para a expedição.

No entanto, existem falhas porque centenas de fotografias feitas na altura não foram devidamente catalogadas, deixando por explicar onde foram captadas, quem figura e que situação retratam.

"Penso que a atenção delas [Diana e Antoinette] foi desviada por causa da Segunda Guerra Mundial e elas acabaram por não conseguir fazer o que tinham planeado", afirmou a arquivista do museu, Hazel Basford, à Lusa.

Existente desde 1896, o Museu Powell-Cotton tem em curso um projecto de renovação e interpretação de toda a colecção, que abrange desde o final do século XIX a meados do século XX.

Este ano, o museu apresentou uma nova área dedicada à África Oriental, com objectos de países como o Quénia, Uganda, Sudão do Sul e Etiópia.

O objectivo foi renovar a galeria mais antiga do museu, substituindo a maioria das legendas antiquadas por descrições actualizadas com mais contexto sobre o significado e histórias dos proprietários originais e das comunidades a que pertenceram.

Esta nova exposição é o resultado de uma colaboração entre o Museu Powell-Cotton e um grupo consultivo exterior para que a colecção seja apresentada de uma forma mais rigorosa e ética.

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