Segundo o autor, a guerra causou em Angola "uma economia política, grandemente extrativa e grandemente corrupta, concebida em torno da distribuição da renda, sobretudo do petróleo, mas também da propriedade e de diamantes".
"Isto teve custos económicos para Angola", disse, salientando que o país "fez muito poucos avanços desde os anos 60 até hoje", lamentando que esteja dependente apenas do petróleo "ao longo dos 60 anos, sobretudo desde 1975", ano da sua independência.
"A maioria das receitas do petróleo foi desperdiçada nos últimos 40 anos, gastaram dinheiro em actividades que não têm relação com a economia actual, gastos em propriedades, festas e champanhe, complementado com dívidas para megaprojectos", referiu.
O autor do livro "Estado Rico, Estado Pobre", obra apresentada pelos economistas Alves da Rocha e Carlos Rosado de Carvalho, considerou ainda que foram feitos investimentos "pouco produtivos para a população".
"Grandes infraestruturas, grandes hospitais, grandes aeroportos, tudo isso é atractivo, mas tem muito pouco impacto na vida quotidiana dos angolanos. Este desperdício poderá ter facilitado a política entre a elite, mas aumentou os desafios económicos de Angola, que saía de uma guerra civil, que deixou quatro milhões de deslocados", assinalou.
À situação que descreveu, associa-se a baixa da produção de petróleo e a inexistência de setores alternativos para a economia e crescimento do país, acrescentou.
"O resultado disto tudo traduz-se em pouco crescimento e aumento do desemprego", disse o autor, sublinhando que a grande dificuldade para se alterar este quadro é "parar de cavar para sair deste buraco".
"Têm de parar de cavar, primeiro, perceber que estão no buraco, depois deixar de cavar e sair do buraco. E sair do buraco exige um conjunto de novas políticas", defendeu.
O pesquisador apresentou sugestões para a saída desta crise: a primeira, disciplina macroeconómica, que significa, por exemplo, baixar a inflação, diversificar a economia, com a aposta na agricultura e no turismo, elogiando a isenção de vistos a vários países e aconselhando que se aumente os acessos, com mais ligações aéreas e voos mais baratos.
"A TAAG fez sucesso, por exemplo, o voo veio da Cidade do Cabo, parou em Angola e depois continuou para a Europa, o que é uma melhoria, mas é a revitalização que terá mais impacto nas vidas e vai retirar a dependência do petróleo", disse o responsável da Fundação Brenthurst, sediada em Joanesburgo, sugerindo ainda a construção de infraestruturas básicas e desenvolvimento de parcerias público-privadas.
Em declarações à Lusa, o director do CEIC, Alves da Rocha, salientou que "de forma marginal" a obra faz um retrato sobre a realidade angolana, que "nem é um Estado rico, também não é um Estado pobre e não é um Estado bem-sucedido", vincando os ensinamentos da obra.
O professor disse que uma das razões para o atraso no sucesso de Angola "tem a ver com a falta de vontade política" para o país atingir esse estatuto, o que passa pelo aprofundamento da democracia e uma educação de qualidade.