Comentando à Lusa o novo ajuste do preço do gasóleo, cujo litro passou a custar, a partir desta Segunda-feira, 300 kwanzas, contra os anteriores 200 kwanzas, o especialista referiu que os custos de produção das empresas que ainda trabalham com geradores vai reflectir-se no custo final do produto.
"É claro que o aumento [do preço do gasóleo] terá impacto nos seus custos e elas [as empresas] poderão reflectir esses custos nos preços dos bens e serviços que colocam no mercado, isso poderá ter um impacto no nível geral de preços, na inflação que continua alta", disse.
O aumento poderá quebrar a tendência de queda da inflação no país, "porque o que conta não é apenas o impacto nos custos, mas as expectativas das pessoas, a inflação esperada tende a aumentar", apontou.
Francisco Paulo, especialista em macroeconomia, defendeu também que o Governo deveria gerir melhor este ajustamento, observando que as autoridades "levam muito tempo" para o ajuste, um exercício que considera negativo para a actividade económica.
Em contrapartida, "o timing de aviso é muito curto", argumentou, advogando melhor programação para acautelar e preparar os agentes económicos.
O litro de gasóleo no país passou a partir desta Segunda-feira a custar 300 kwanzas, um aumento de 50 por cento, segundo os novos preços divulgados pelo Instituto Regulador dos Derivados do Petróleo (IRDP).
A subida do preço do gasóleo, que passa a custar o mesmo que a gasolina, enquadra-se no ajuste gradual e flexível dos preços de venda ao público dos produtos derivados do petróleo para os níveis de mercado.
Os combustíveis no país são subvencionados pelo Estado, que tomou a decisão política de gradualmente ir retirando esta subvenção, seguindo as recomendações do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que ocorre desde 2023.
O economista e investigador da Universidade Católica de Angola (UCAN) assinalou, por outro lado, a importância da remoção dos subsídios estatais aos combustíveis em Angola, acreditando que o processo deve travar o contrabando de combustível, um fenómeno que constitui preocupação das autoridades.
"Se conseguirmos fazer com que pague os preços do mercado [com a diminuição dos subsídios do Estado], o país poderá lidar melhor com o contrabando de combustível, que só existe porque o preço no país é regulado e é muito baixo com comparação com os países vizinhos", frisou.
Francisco Paulo defendeu ainda que o processo de remoção dos subsídios aos combustíveis deve ser acompanhado de programas que ajudem a melhorar o rendimento das famílias mais vulneráveis.