A Constituição estipula que os chefes de Estado eleitos cumpram apenas dois mandatos, de cinco anos cada, e a ideia tem vindo a germinar, tendo analistas da Economist Intelligence Unit defendido, em Novembro de 2023, que o Presidente João Lourenço vai contornar a impossibilidade constitucional de se apresentar pela terceira vez ao eleitorado.
O cargo de Presidente da República é preenchido de forma indirecta, com o primeiro candidato do partido mais votado a ser designado para a chefia do Estado.
Com a entrada em vigor do novo texto constitucional, foi isso que aconteceu em 2012, quando José Eduardo dos Santos cumpriu o seu último mandato presidencial, derrotando Isaías Samakuva, e novamente em 2017, quando este, nessa ocasião, perdeu para João Lourenço, que, por sua vez, está no segundo mandato depois de ter derrotado o sucessor de Samakuva na liderança da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, em 2022.
Isaías Samakuva disse à Lusa que alertou João Lourenço que “o país entraria em ebulição” se o terceiro mandato fosse levado à prática.
“De facto eu pus-lhe essa questão claramente. Disse-lhe: ‘Não sei se é você próprio que está a pôr isso. Se são os seus, os seus colaboradores’. Mas ele não me respondeu”, afirmou o ex-líder partidário.
Numa entrevista à Voz da América, em Dezembro de 2022, João Lourenço negou que estivesse à procura de um terceiro mandato.
"Acabámos de sair das eleições agora. As próximas serão em 2027. A minha resposta está dada, se calhar podemos falar disso mais lá para 2027”, afirmou o Presidente noutra em entrevista à cadeia televisiva France24 em Maio de 2023.
Na entrevista à Lusa, em Lisboa onde se deslocou para apresentar o livro do jornalista Xavier de Figueiredo sobre o fundador da UNITA, Jonas Savimbi, Samakuva considerou que “há uma espécie de evasivas” quando João Lourenço aborda o tema.
“E isto alimenta esta história do terceiro mandato”, concluiu.
Isaías Samakuva disse que na conversa que teve com João Lourenço o advertiu de que um terceiro mandato só iria “trazer problemas”.
“Disse-lhe que o terceiro mandato não lhe vai dar nada. Pelo contrário, vai-lhe dar problemas. Vai pôr o país em ebulição. Porque isso não fica bem. Não fica bem porque está estabelecido na Constituição que é assim e nós temos que seguir aquilo que está na Constituição”, reiterou.