A consideração foi feita durante o painel "Uma Mudança de Paradigma para Soluções Lideradas pelos Países para os Desafios do Nosso Tempo", que se tratou de uma iniciativa dos presidentes de França e Quénia, Emmanuel Macron e William Ruto respectivamente, e que decorreu na cidade espanhola de Sevilha, à margem da 4.ª Conferência da ONU sobre Financiamento para o Desenvolvimento.
O também Presidente em exercício da União Africana, destacou que o "mérito desta conferência de Sevilha é buscar novas formas de investimento para o desenvolvimento económico e social dos países".
"Para haver desenvolvimento precisamos de cuidar de um grupo de questões: capital, investimento, tecnologia, infra-estruturas. Mas, em primeiro lugar, é preciso termos em consideração a pessoa humana. Tudo isso não pode acontecer se não cuidarmos da pessoa humana", referiu, acrescentando: "E a pessoa humana para estar em condições de contribuir para o desenvolvimento dos seus respectivos países, precisa de estar bem, alimentar-se bem e, o que é fundamental, ter saúde. Precisa de estar em condições de saúde, de ter garantida assistência médica e medicamentosa, para que possa desenvolver as suas capacidades e, desta forma, contribuir para o desenvolvimento económico e social dos seus respectivos países".
Na sua intervenção, a que o VerAngola teve acesso, o chefe de Estado apontou os diversos desafios que África enfrenta: "África é um continente que tem cerca de 1.5 mil milhões de habitantes. É um continente que enfrenta um conjunto de desafios, a começar pelas guerras, conflitos armados, étnicos, religiosos, que impactam, todos eles, de forma negativa para o desenvolvimento do nosso continente. Daí estarmos ainda a enfrentar situações de fome, pobreza e muitas doenças negligenciadas, mas também endemias e pandemias como o mpox, a varíola, a covid, que foi ultrapassada mas que em certa medida persiste, a cólera, e outras situações que preocupam a saúde pública dos nossos cidadãos".
Assim, defendeu a necessidade de "investimento soberano" na saúde. "Por esta razão, nós falamos hoje, aqui neste painel, da necessidade do investimento soberano na saúde, não apenas no continente africano, mas no mundo em geral", disse.
"O investimento soberano na saúde é importante e nós estamos a procurar fazer a nossa parte, procurando soluções para investir em infra-estruturas da saúde – portanto, em unidades hospitalares – na formação dos profissionais de saúde, investir em fábricas para a produção de medicamentos e de vacinas para atenderem as nossas populações", acrescentou.
Segundo o Presidente, "todos os países africanos, uns mais, outros menos, estão a fazer um esforço grande" para evitarem que se "repita o que aconteceu por ocasião do surto da covid-19 há uns anos atrás, em que o continente, de repente, se viu impossibilitado de, ele próprio, produzir as vacinas que podiam fazer frente àquela pandemia da covid-19".
"Ficámos 100 por cento dependentes de outros produtores, de outros continentes, e ao capricho dos mesmos. Em alguns casos, mesmo tendo recursos financeiros para pagar essas vacinas, encontrámos dificuldades no seu fornecimento", lembrou, acrescentando que querem "evitar que isso se repita"
"Angola, em particular, tem procurado fazer a parte que lhe compete e acreditamos que todos os demais países têm procurado fazer o mesmo", referiu João Lourenço, acrescentando que, em sete anos, o país tem vindo a "fazer um grande investimento público no sector da saúde".
"Construímos inúmeras unidades hospitalares, passámos, nesse período de sete anos, de 2612 unidades hospitalares para 5958 unidades hospitalares. Aumentámos em 46 por cento a força de trabalho do sector da saúde, entre médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, e temos um ambicioso plano de formação profissional para a saúde, que prevê a formação de cerca de 38.000 profissionais de saúde até 2028", apontou.
"Isso tem vindo a ser feito, quer com recursos próprios do tesouro, como também com recurso ao financiamento externo de instituições financeiras internacionais, mas também da banca comercial. Portanto, financiamento que é caro, que tem condições de reembolso que são penosas para qualquer país, mas sobretudo para os nossos países que já estão em si endividados", afirmou, considerando que entendem que "sem saúde não há desenvolvimento".
Por essa razão, continuou, "estamos apostados em continuar com este nosso ambicioso programa de melhorar substancialmente o panorama da saúde pública no nosso país".
"Hoje, enquanto Presidente da União Africana, procuro também dar o maior apoio possível à instituição da Organização Continental, que é o CDC África (...)", revelou, acrescentando que procuram "dar o maior apoio possível a esta instituição, para que possa liderar o processo de implantação de fábricas de produção de medicamentos mas, sobretudo, vacinas, num grande número de países" do continente.
"Angola contribuiu este ano com cerca de cinco milhões de dólares para essa instituição, por considerarmos que é uma instituição útil, que vai ajudar o continente a fazer frente a estas doenças negligenciadas, endemias e pandemias a que me referi no início da minha intervenção", afirmou.
João Lourenço concluiu com um apelo: "(...) Encorajamos, sobretudo os doadores, os contribuintes desta nossa grande organização — as Nações Unidas — a libertarem cada vez mais recursos, para que a doença no mundo seja controlada. Ela nunca há-de acabar, mas que seja controlada e permita que os povos do mundo possam, com saúde, dar um maior contributo ao desenvolvimento económico sustentável que todos nós pretendemos".
Após a agenda de trabalho em Espanha, o Presidente da República já está no país.
"Ao desembarcar, em Luanda, o Presidente da República recebeu cumprimentos de boas-vindas da vice-Presidente da República, Esperança da Costa, e de outros membros da administração central do Estado", refere a Presidência da República, em breve nota a que o VerAngola teve acesso.